por Chumbo Pinheiro
Uma história com muitas histórias ou muitas histórias em uma história só? Um romance. Uma aventura? Realismo mágico? Regionalismo? Drama? Tudo isso em um livro só, em Pipa Voada Sobre Brancas Dunas. Um turbilhão de acontecimentos em uma temporalidade estendida, todavia muito bem demarcada. Um início excessivamente descritivo, porém com a virtude de despertar a curiosidade e a expectativa do leitor que vai aumentando a cada página e a cada novo capitulo.
Com um olhar profundamente perspicaz e uma escrita envolvente o autor traz à tona as vivências de toda uma sociedade naquilo que ela tem de mais imperceptível: suas relações íntimas e seus segredos. Atos e fatos que todos sabem que se praticam, mas não rompem as fronteiras de suas vidas. E aqui se rompem e se tornam públicos. Os hábitos e costumes brancadunenses que parecem acontecer num fim do mundo, lá onde o vento faz a curva. É um lugar onde se misturam e se revelam lendas, tradições, modernidades, contemporaneidades e povos dos quatro cantos do mundo, dotando a pequena imaginária cidade, de um ar paradoxalmente cosmopolita.
INÍCIO
A história tem início com a chegada de exploradores europeus, atraídos pela ambição da riqueza e o incandescente brilho de pedras preciosas. Os aventureiros desembarcam na praia e avançam pelas dunas brancas, alheios a quaisquer sentimentos humanos, cheios apenas de sua desenfreada ganância.
A geografia brancadunense nos é familiar; dunas móveis, praias muito belas, lagoas exuberantes; chuvas torrenciais no verão rivalizando com a intensidade do sol, ventos constantes, ora brandas brisas, ora tempestuosos vendavais.
O espaço litorâneo onde ocorrem os fatos, foge daquele tradicional regionalismo sertanejo que nos acostumamos a ler em alguns clássicos da literatura brasileira, bem como, da natureza exuberante das matas e do emaranhado mundo urbano que se vai constituindo a partir do final do século XIX até os dias de hoje, onde são demonstradas as relações sociais sejam no ambiente da casa ou da própria sociedade.
DEMASIADO HUMANO
Há um turbilhão, onde se encontra um pouco de tudo. No entanto, com as peculiaridades providenciais das Brancas Dunas. Neste sentido, a narrativa apesar de se referir à história de uma pequena cidade, apresenta uma lente ampliadora através da qual torna possível enxergarem-se os sentimentos humanos mais íntimos e fortes: amor, paixão, ódio, desejo, ambição, ciúme…
Além disso, traz particularidades culturais e variações universais, que chamaram atenção para os estudos de Levi Strauss um dos mais importantes antropólogos do século XX; podemos desta forma pensar em algumas curiosas comparações tal como: se em outras paragens existem monstros em lagos, aqui existe a gigantesca serpente; se em outros lugares os vampiros se apresentam, aqui aparece o lobisomem; se por lá existem fadas, aqui brilham os pirilampos.
As lendas e as tradições se entrelaçam em uma convivência ora harmônica, ora tumultuada, interagindo com os avanços tecnológicos. Padres, ciganos, pai e mãe de santo se conectam com o mundo digital modernizando suas cerimônias e rituais. Jovens e velhos, antigos e novos, o real e o imaginário convivem em Brancas Dunas, que tem cores, sabores e cheiros mergulhando o leitor em fantásticos acontecimentos, excitações e emoções do início ao fim.
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[…] e “A Trilha da Caveira que Ri”. Publicou os livros Pipa voada sobre bancas dunas (CJA, 2011), Cangaço e o carcará sanguinolento (CJA, 2013), Leveza Infinita (CJA, 2014), Reféns nos Andes […]