Perspectivas cervejeiras para 2022: o que podemos esperar?

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Olá, cervejeiros/futurólogos!

Feliz ano novo a todos!

Vamos começar a primeira coluna de 2022 falando sobre quais as (minhas) perspectivas cervejeiras para o ano corrente. E o que podemos esperar, o que pode ocorrer… ou não.

O futuro a Deus pertence.

Não será bem um exercício de futurologia, já que não quero a pecha de guru (deixem isso pro velho doido do Olavo de Carvalho). O texto é mais uma tentativa de falar sobre o que podemos esperar em termos cervejeiros, e suas altas e baixas.

Ademais, não há nenhuma necessidade de erros ou acertos. Até porque se fosse para acertar alguma coisa eu deveria ter acertado os 6 números da Mega Sena da virada (e claramente não acertei, se não, estaria digitando esse texto, me tremendo de frio, a partir do banco da área externa de alguma micro cervejaria no interior da Bélgica). Trata-se apenas uma tentativa de antecipação, sem responsabilidades atreladas.

Então, vamos levantar alguns tópicos que prometem dominar a cena cervejeira artesanal e tentar lançar alguma luz sobre eles.

Boas cervejas em 2022, para todos nós!

A onda das Smoothies (Pastries Sour)

Esse tópico já foi objeto principal de um texto inteiramente dedicado a ele (clique AQUI). Então, os pormenores técnicos sobre o assunto podem ser conferidos no link mencionado.

A questão principal a ser posta é que ainda se verifica um investimento muito alto nesse tipo de cerveja, que continua angariando muitos cervejeiros artesanais mundo afora. A tendência, acerca das Smoothies, é que elas continuem sendo produzidas cada vez mais e que ganhem mais quantidades colossais de frutas.

Apesar da crítica de boa parte do público das artesanais, as Smoothies ainda podem ser consideradas uma tendência a ser seguida em 2022. Suas características tendem a ser ressaltadas cada vez mais e mais.

Assim, há de se esperar cervejas cada vez mais densas, com o uso ainda mais tresloucado de lactose (os intestinos sofrem só de saber desse fato notório), e com quantidades estonteantes de fruta in natura. Tudo isso para dar aquele aspecto de vitamina mal processada em um liquidificador antigo, quase queimado.

Dessa forma, ainda que pendam muitas piadas e muitas críticas acerca desse estilo, ele segue em viés de alta para 2022.

A nova (velha) modinha do Hard Seltzer

Hard Seltzer é um nome bonito para (Smirnoff) Ice, como costumamos conhecer na sua terminologia mais genérica. Ou, para os nordestinos mais saudosos, Sapupara (ou “Frog Stop”, para os mais íntimos da bebida) e Colonial Limão (“beba um copo e deixe outro para mim! Colonial” – cantavam Sirano e Sirino, no auge).

Hard Seltzer é uma bebida alcoólica mista, que se assemelha a um “refrigerante com pouco álcool”. Parece uma definição bem tola para uma bebida, mas não encontro outra melhor para descrevê-la, já que a sua ideia de composição é, por si só, bem incipiente. Basicamente, é agua gaseificada com sabor (ualá – um refrigerante) e álcool (geralmente usam Vodka de baixa qualidade).

Incrivelmente, há um par de anos, essa bebida virou moda nos Estados Unidos (pelo visto eles estão quase 20 anos atrasados, já que aqui ela já era moda nas calouradas da UFRN em 2004…). O fato é que existe um crescente interesse do mercado cervejeiro no Hard Seltzer e algumas cervejarias de renome já estão investindo bastante nessa bebida.

Por mais que me pareça algo bem esdrúxulo (para o mercado cervejeiro artesanal), não me espantaria que algumas cervejarias modinhas do Brasil também adiram ao Hype e passem a fabricar Hard Seltzer (que não é cerveja, ressalte-se).

Então, seu viés é claramente de alta para 2022, acompanhem!

A continuação das Coffee IPA’s

Crédito: Elnariz/Getty Images

Esse é mais um ponto que também já foi abordado anteriormente em algum momento do ano passado por aqui (clique AQUI). A adição de café nas IPA’s, por meio de um processo de Dry Hopping (ou algo assemelhado a isso) é um filão que ainda tende a crescer bastante.

Em 2021 já foi possível observar o aumento de lançamentos nesse estilo, alguns em um patamar elevadíssimo. A boa notícia, conforme o ano se desenrolou, foi que cafés de maior qualidade e de melhor procedência continuaram a ser utilizados nas receitas, algo que deu maior volume e maior consistência a esses lançamentos.

A perspectiva é que em 2022 haja ainda mais cervejas a serem lançadas nessa linha, agregando notas de café no aroma e aquela pegada cítrica e herbal das IPA’s no conjunto como um todo. Por mais que alguns cervejeiros ainda sejam descrentes ou simplesmente ignorem a existência das Coffee IPA’s, esse é um subestilo de IPA que tende a ser ainda mais incrementado e mais produzido no decorrer do ano em comento. Perspectiva de incremento e de alta!

O ocaso das WC IPA’s

O que eu vou falar agora pode soar intempestivo para alguns e doloroso para outros. Mas, é triste ver o ocaso (pôr do sol, para quem não rememora) de um (sub)estilo cervejeiro outrora dominante.

É exatamente isso que está ocorrendo com as IPA’s do estilo West Coast, aquelas menos frutadas, mais carameladas e menos turvas. Um estilo de IPA tido usualmente como “mais clássico”, mas, que, infelizmente, vem perdendo espaço cada vez mais no gosto dos cervejeiros artesanais.

A dominância atual e a preferência do público em geral, são pelas NEIPA’s. 11 em cada 10 neófitos (eu sei que a conta não bate, foi proposital) irão preferir aquela NEIPA padrão, que a receita é repetida à exaustão e parece que as cervejarias só mudam o rótulo semanalmente quando anunciam “mais um grande lançamento” (e descrevem mil lúpulos experimentais que foram utilizados).

Porém, parece ser a regra da vida, enquanto uns continuam em alta (apesar da reprodutibilidade técnica repetitiva, diria Walter Benjamin), outros tendem a decair. No caso, o viés de tendência de baixa para as WC IPA’s parece ser algo a se repetir, também, em 2022.

A Derrocada das Milk-shake IPA’s

Existem poucos consensos no mundo cervejeiro de modo geral. Se pode ser que haja um, talvez seja o entendimento de que as Milk-shake IPA’s não ornam. Parece que com as Smoothies, que seguem mais ou menos a mesma lógica, há uma receita de sucesso a ser cada vez mais explorada. Todavia, o caminho inverso parece ser trilhado pelas Milk-shake IPA’s.

A junção do lúpulo com lactose parece não ser a sensação mais aprazível aos sentidos dos cervejeiros. Essa talvez seja a causa principal da derrocada desse subestilo um tanto quanto rechaçado.

O alto dulçor, aliado à lactose (que também não agrada a todos) fazem com que a emulação do milk-shake cítrico seja uma “batida cervejeira” pouco atrativa e popular. É um subestilo que nunca foi o prefiro dos beergeeks e que parece estar caindo num limbo eterno. O que parece ser uma boa notícia, certamente…

O viés, portanto, das Milk-shake IPA’s é claramente de baixa, e deve ser um produto que veremos cada vez menos nas prateleiras de cervejas.

Cervejas Nacionais Envelhecidas em Barris (Barrel Aged)

Mais um tópico já mencionado e comentado em um texto próprio aqui no blog (clique AQUI).

O cenário nacional já demonstrou uma força muito grande para esse tipo de cerveja em 2021. A tendência é de fortalecimento e de franco crescimento. Já foram utilizados ótimos barris que haviam envelhecido Bourbon e as combinações com adjuntos como cacau e café demonstraram que podem agregar bastante ao perfil de base da cerveja.

A perspectiva principal é que para 2022 o segmento continue essa crescente e seja capaz de explorar ainda mais as possibilidades de aromas e sabores diversos que se descortinam a partir do envelhecimento em barris.

Ademais, é bem provável que o uso de barris que utilizam madeiras nacionais e/ou destilados nacionais tenha um destaque ainda maior. É bem provável que as melhores cervejas produzidas em solo tupiniquim tenham alguma dessas características, ou ao menos seja um combinado (por meio de blends) de diferentes bases que tenham sido envelhecidas (ainda que parcialmente) nessas madeiras ou nesses tipos de barris que continham destilados como cachaça.

Mais um viés claro de alta, e com muito potencial de crescimento e expansão para o universo cervejeiro.

O dissenso das Pastries Stouts contra as RIS Raiz

O embate posto em tela nessa seção também já rolou previamente (clique AQUI)! Todavia, foi colocado como uma forma de contraposição aos dois subestilos de Stout, e eu creio que a mensagem que eu gostaria de passar agora é um tanto quanto diversa daquela inicialmente posta.

Aparentemente, as Pastries Stouts já tiveram seu ápice (mas, ainda contam com bastante simpatia do público), ao passo que as RIS Raiz não conseguiram muita propulsão ao combater as Pastries

No final das contas, ambas perderam força, e parecem não conseguir assumir uma posição de protagonismo para o ano de 2022. As RIS Raiz continuam condenadas a um ostracismo perene e possuem poucas chances de ter algum lampejo de destaque.

As Pastries Stouts ainda conseguem cativar vários neófitos que ainda não enjoaram de sugar bombs (bombas de açúcar, dado o seu alto dulçor) ou que ainda são seduzidos por adjuntos duvidosos. O ponto é que, mesmo ainda tendo algum lugar ao sol, seu viés é igualmente descendente.

No dissenso dos dois subestilos de Stout nenhum dos dois saiu vencendo, ambos perderam algo de sua popularidade. Como diria Dilmãe, “ninguém vai ganhar ou perder, vai todo mundo perder” (SIC): e perderam.

Em 2022 tendem a perder mais ainda. Viés claramente de baixa.

A Inflação e o Custo das Cervejas (Artesanais)

Claro que a mordida do dragão da inflação é cruel (todos saúdam Smaug e Mammon)! Ele não poupa ninguém, nem as empregadas domésticas que não vão mais a Disney (segundo o “excelentíssimo” Paulo Guedes), nem nós, reles mortais, que possuímos bom gosto cervejeiro para as artesanais.

A pancada inflacionária foi demasiadamente forte em 2021, as melhores cervejas artesanais nacionais já passam dos 3 dígitos, e uma lata de NEIPA supimpa americana hypada (Tree House; Trillium, qualquer uma dessas) já custa 250 obstruções presidenciais…

A previsão dos economistas (pseudo) intelectuais de sites do ramo projetam uma inflação menor (ninguém acredita nisso). Todavia, a perspectiva é que tanto o combustível dos veículos automotores (gasolina e Diesel) quanto o combustível dos altaneiros cervejeiros artesanais (nosso líquido sagrado) continuem a subir de preço em 2022. Com a alta do dólar prevista para o período, tudo piora.

Se um mísero latão de NEIPA já estava custando 50tinha em 2021, não estranharei se em dezembro de 2022 ele já beirar os 70 taokeis… Em 2022, as cervejas Barrel Aged devem passar dos 150 votos auditáveis (a garrafa)…

Essas não são perspectivas absurdas, já que a maioria das cervejarias vão manter suas margens de lucro (draconianas) e seguem a premissa: a cerveja (artesanal) não está cara, você que é pobre.

Talvez eles não estejam errados – ou talvez esteja tudo errado – o certo é que quando há Hype, há inflação. Vamos ver quem segura as labaredas do dragão da inflação, cada vez nos correndo mais, fazendo com que bebamos menos (porém, nem sempre bebamos melhor… afinal, rareia a grana).

Assim, infelizmente, o preço da cerveja artesanal também assume uma perspectiva inflacionária de viés de alta para 2022, e talvez supere o ano anterior.

Saideira

O texto de hoje é um exercício frustrado de futurologia cervejeira com certo pessimismo pragmático. Ou seja, não serve de nada, mas diverte! Não o fiz para acertar (nem para errar), fiz apenas para tecer algumas considerações pertinentes do que pode vir a ocorrer.

Entre erros e acertos, uma coisa é certa, mais um ano cervejeiro se inicia, e com ele mais 365 possibilidades (ou mais) de boas cervejas virão!

Saúde!

Recomendação Musical

A recomendação de hoje é de uma banda que eu não nutro tanto apreço, mas, que, com essa canção, fez muito sucesso, devidamente!

Brindo-vos com a banda de rock irlandesa U2, com sua icônica: New Year’s Day!

Feliz 2022! Boas cervejas e boas previsões a todos!


FOTO: postada em Trovo Academy

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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