Perdemos a Copa do Mundo

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A cada quatro anos o Brasil se mobiliza para um momento de patriotismo e orgulho das cores verde e amarela. Mas não me refiro às eleições. É a Copa do Mundo, que reúne duas das maiores paixões do brasileiro: futebol e ganhar.

No entanto, parece que é hora de mudarmos o tempo do verbo: mobilizava. Afinal, esta Copa parece não ter muito do que sempre fez parar o país às vésperas do torneio.

A começar pelo sequestro das cores e da camisa do time da CBF. O bolsonarismo doentio, que usurpou para si a camisa amarela tão tradicional da seleção, deixou uma mancha pesada sobre ela. Nas lojas e camelôs, a venda do manto canarinho tem sido muito menor do que era de costume.

A falta de identificação com o time e seus jogadores também conta para esse interesse menor pela Copa. O maior jogador do Brasil é Neymar, sujeito que passa longe de ser uma unanimidade como ídolo, mais detestado do que incensado pela torcida nacional que acompanha futebol de perto. O torcedor acidental, aquele que só se lembra do futebol neste período, simpatiza pouco com ele por sua conduta duvidosa, pelos escândalos em que se mete com frequência e por sua postura fraca como pessoa.

É preciso dizer também que o momento da Fifa não é dos melhores: depois de vários esquemas de corrupção terem vindo à tona, a entidade tem cada vez menos crédito diante de ligas nacionais grandes, que se tornam mais poderosas dia após dia.

Entre os grandes erros da Fifa, realizar uma copa no Qatar é a estrela no topo da árvore de natal: uma ditadura recheada de crueldade, que afronta constantemente os direitos humanos e intimida populações LGBTQIA+ e suas manifestações, cuja tradição esportiva está abaixo de zero. Além disso, ainda se propõe a realizar uma copa entre novembro e dezembro.

Também vale mencionar que o Qatar é para pouquíssimos. Os mesmos petrodólares que seduziram a Fifa afastam o torcedor acidental. É absurdamente caro para pessoas do mundo todo assistirem ao mundial in loco. Não é por menos que as propagandas do evento estão recheadas de cenas com falsos torcedores.

Jornalistas sob ameaça, polícia truculenta e o grande desejo de mostrar força e poder são alguns outros elementos que compõem a derrota precoce desta Copa do Mundo.

Voltando a nós brasileiros, a possibilidade de ver o time campeão talvez empolgue o torcedor ainda desconfiado, já que vencer é nossa maior paixão: vide nosso amor sazonal por esportes como tênis e fórmula 1, que só estiveram no gosto popular em tempos de grandes vitórias como as de Guga e Senna.

Ao fim e ao cabo, torça quem estiver disposto, quem buscar o engajamento efêmero da vez. Mas, cá entre nós, esta Copa já está perdida. Para nós, para o mundo, para todos./PR


CRÉDITO DA FOTO: Marcos Correa

Theo Alves

Theo Alves

Theo G. Alves nasceu em dezembro de 1980, em Natal, mas cresceu em Currais Novos e é radicado em Santa Cruz, cidades do interior potiguar. Escritor e fotógrafo, publicou os livros artesanais Loa de Pedra (poesia) e A Casa Miúda (contos), além de ter participado das coletâneas Tamborete (poesia) e Triacanto: Trilogia da Dor e Outras Mazelas. Em 2009 lançou seu Pequeno Manual Prático de Coisas Inúteis (poesia e contos); em 2015, A Máquina de Avessar os Dias (poesia), ambos pela Editora Flor do Sal. Em 2018, através da Editora Moinhos, publicou Doce Azedo Amaro (poesia).

Como fotógrafo, dedica-se em especial à fotografia documental e de rua, tendo participado de exposições que discutiam relações de trabalho e a vida em comunidades das regiões Trairi e Seridó. Também ministra aulas de fotografia digital com aparelhos celulares em projetos de extensão do IFRN, onde é servidor.

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4 Comments

  • Alê

    “O bolsonarismo doentio sequestrou a camisa da seleção.”
    Sim, o bolsonarismo é doentio, tão ou mais do que qualquer dose de esquerdopatismo.
    Sobre cores, você convenientemente se esqueceu de mencionar que o adoradores de Che, Molusco e outros abestados sempre se importaram com apenas uma: a vermelha!

    • Theo Alves
      Theo Alves

      obrigado, meu amigo!

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