Otacílio Alecrim, o proustiano e sua província submersa

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Ele foi um proustiano em um tempo que poucos falavam na recherche (célebre obra proustiana, “Em busca do tempo perdido”). Um grande leitor e advogado. Nascido de pais prósperos e de um lar bem constituído. Pode, então, lembrar com saudades dos velhos costumes da infância em Macaíba onde ele nasceu no dia 11 de Novembro de 1906. Filho do coronel da guarda nacional Prudente Gabriel da Costa Alecrim e da senhora Anna Pulchéria Pessoa de Mello Alecrim, pianista reconhecida em todo o Nordeste. Esse casal organizava em seu belo casarão colonial, saraus e bailes onde se discutiam a boa música e literatura. Essas tertúlias marcaram intensamente a vida sociocultural da cidade provinciana e com certeza despertou em Octacílio o amor pela cultura.

Aprendeu o bê–á-bá com sua genitora Donana Alecrim, numa velha cartilha vermelha onde as letras estavam escritas em tipos negritos e graúdos. Depois, portando uma maletinha de madeira e couro com a merenda, caderno, lápis e pena de bico de pato, um livrinho de tabuada e o primeiro Livro do Felisberto de Carvalho, foi estudar na Rua da Cruz com Dona Joaninha. Em seguida estudou no grupo escolar “Auta de Souza”, onde foi aluno de Bartolomeu Fagundes e Arcelina Fernandes. Neste período, recebeu várias medalhas por vencer concursos de poesia. Depois estudou no Colégio Santo Antônio, neste estabelecimento, fundou um jornal e um grêmio. Em seguida estudou no Atheneu Norte-Rio–Grandense.

Junto com os escritores Edgard Barbosa, Nilo Pereira entre outros, trabalhou no jornal “A Republica”, indo estudar direito no Recife, onde colaborou em jornais, destacando­-se o Jornal do Comércio. Na faculdade foi líder nato, fundou a revista “Agitação” (1931-33), junto aos colegas Álvaro Lins e Aderbal Jurema. Em 1930, de férias em Macaíba, hospedado em casa da mana Maria Zebina Alecrim, escreve seu primeiro opúsculo TAMATIÃO, panfleto satirizando a revolução de 1930. Depois mudou-se ao Rio de Janeiro, onde se aproximou do grupo brasileiro de estudos proustianos, formado por intelectuais como Oto Maria Carpeaux, Sérgio Buarque de Holanda e Lúcia Miguel Pereira. Viajou pela França aprofundando seus estudos sobre Proust.

Octacílio narra com muito detalhe sobre as brincadeiras da infância nas ruas e rios. Brincadeira de joão – galamastro com trava de pau de carnaúba e espigão de oiticica, maneiro-pau e matança de sanhaçu com baladeira. Marrada, cavalinhos de madeira e outras brincadeiras coletivas da meninice eram o pau de sebo, circo de cavalinhos e torcida pela regata da terra.

Octacílio Alecrim publicou vários artigos em jornais e revistas, como Diário de Pernambuco, Correio da Manhã, Jornal de Letras (RJ), Revista de Antropofagia (SP), Revista Nordeste (PE) e Revista Branca (RJ), sendo a maior parte deles sobre o tema da escrita proustiana. Em Visita a Natal em 1949 promove a palestra Proust e a Província que depois fará parte do livro Ensaios de Literatura e Filosofia.

Província Submersa

Em 1957 Otacílio Alecrim publicou sua obra prima “Província Submersa”, um livro memorialista onde ele narra sua rica infância em Macaíba. Nesse belo livro ele volta às suas origens, resgatando um tempo que também é nosso. Com velhos folguedos, brincadeiras e tipos de sua terra querida. “Eis porque os verdadeiros personagens de Província Submersa são as memórias, a terra, os episódios, as idéias, os escritores e os livros” (Octacílio Alecrim).

Ao final do Livro Província Submersa, uma série de depoimentos sobre o autor, assinados pelo jornalista e cronista literário Jayme Wanderley, o grande poeta pernambucano Mauro Mota, os escritores Nilo Pereira, Veríssimo de Melo, Álvaro Lins entre outros. Na introdução do livro um belo ensaio sobre a Temática do Suvenir, no Brasil e no Mundo.

A casa de cultura de Macaíba lançou esse livro esgotado, além dos livros “Fundamentos do Standard Jurídico”, de 1941; “O sistema de veto nos EUA”, de 1954 e “Ensaios de Literatura e Filosofia”, de 1955. Editados pelo Instituto Pré-memória de Macaíba e o Senado Federal.

Otacílio de Mello Alecrim faleceu de problemas cardíacos em seu apartamento na Praia do Flamengo no Rio de Janeiro aos 02 de setembro de 1968, sendo sepultado no cemitério São João Batista. Nunca teve filho, foi um nostálgico de sua Combray Macaíba. Um ensaísta primoroso e refinado, que imortalizou a nossa rica cultura e tradições.

Damata Costa

Damata Costa

Professor de Física da UFRN. Poeta. Amante da literatura, dos livros e das artes.

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