Nunca é tarde, filha

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É tarde. Não o turno do dia, nem o atraso das horas. Mas aquele chamado chato dos pais para se recolher ao fim do dia quando ainda resta o dia, quando para o entusiasmo e as brincadeiras ainda é cedo. O dia que parece existir só até as cinco para as crianças, mesmo sendo ele, o dia, composto por 24 horas iguaizinhas. Como disse Drummond, “sempre tarde antes de ser tarde”. Então essa tarde que principia este texto é quase um alerta que deixo à minha filha que aniversaria hoje. Nunca deixe que a sombra da árvore, ao entardecer, lhe tire a alegria do ser criança; nunca deixe que o dia se encerre às cinco; viva para sempre com a criança que, aos poucos, vamos deixando para trás. É ela quem mantém a vontade de viver as 24 horas do dia.

Nunca deixe ser tarde, filha. Nunca deixe morrer o ímpeto infantil, a inocência ao olhar o outro sem cores, sem padrões, mas apenas sendo mais uma criança para brincar, para somar e estender o novelo do dia ao máximo. Nunca deixe a nau do tempo roubar os aromas, as canções e os chãos que lhe trazem de volta a esse passado que sequer dobrou a esquina. Aproveite essa presença infantil ainda íntima e não a deixe desgrudar de você; caminhe junto dela sempre; a tenha como confidente e fonte inspiradora para viver, sobretudo, as horas escuras do dia, porque para ela ainda é hora de brincar. Será ela, a sua criança, a melhor amiga de todas as horas, hoje e sempre. E sendo ela sua melhor amiga, faça-a se orgulhar de você. Seja sempre a sua melhor versão.

Doze anos ainda é cedo. E como dizia Cartola sobre o moinho dos dias, mal começaste a conhecer a vida. Sim, tem lá um simbolismo, uma virada de chave maior do que os celebrados 15 anos. É uma afirmação adolescente, talvez precoce. Mas o mundo caminha adiantado. E as dúvidas, as confusões, as revoltas, de certo, sobrevoarão uma cabecinha ainda em transição. Mas você lembrará que sempre dá para vencer aquele bicho-papão escondido no armário. Medos despertam coragens. E aí você se apega à sua amiga-criança que venceu todos os inimigos, menos o chamado de “já é tarde”. E no fim, esse continuará sendo o único verdadeiro obstáculo a ser enfrentado durante toda a sua vida: vencer o tempo. Sim, ninguém consegue segurá-lo, mas faça do tic-tac eterno da existência um amigo fiel, assim como a sua eterna criança.

Então, minha Mell, lembre sempre: nunca deixe ser tarde!

Do seu eterno amigo e pai.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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1 Comment

  • Palitot

    Muito sucesso

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