No próximo mês de dezembro será reinaugurado – em data a confirmar – o Museu Histórico de Martins, importante melhoramento cultural para aquela cidade serrana, de interesse não apenas histórico, mas também turístico.
Fundado em 1955, por iniciativa particular, o museu sobreviveu precariamente ao longo das décadas, graças aos esforços de alguns abnegados martinenses.
Seu acervo composto de imagens e objetos de arte sacra, louças, móveis antigos, galeria de vultos ilustres, etc. – sempre deixou a desejar, tanto assim que a maior atração, para quem o visitava, era a própria sede, uma belíssima construção de 1871, verdadeiro monumento arquitetônico.
Agora, o velho sobrado, primorosamente restaurado, passa a abrigar um bom museu histórico, digno de figurar entre os melhores do Estado.
Projeto museográfico
Conforme consta no projeto curadorial e museográfico, elaborado pelo professor Jairo José Campos da Costa, “após o restauro que durou, aproximadamente, 4 anos, através de emenda do ex-senador José Agripino Maia, a partir de uma articulação da prefeita Olga Chaves Fernandes de Queiroz Figueiredo, começou-se o planejamento e a execução da curadoria e da museografia.
“O projeto curadorial e museográfico foi elaborado a partir do acervo de mobiliários tradicionais, peças de arte, antiguidades, fotografias preto e branco, livros antigos existentes no acervo permanente, como também algumas doações e empréstimos feitos pelas famílias martinenses, e ainda, algumas aquisições feitas pela prefeitura em galerias e antiquários de Natal”.
Após descrever a disposição das peças em cada um dos três pavimentos do prédio do museu, informa o projeto que, nestes ambientes, bem como nos corredores serão afixados textos curatoriais, em técnicas plotagem de recorte em adesivo “contendo explicações de cada espaço, como também destacando fatos importantes da História do Município de Martins. Ainda serão afixadas nos ambientes e nos corredores telas de renomados artistas potiguares, dentro da proposta de cada espaço, doadas /emprestadas pelo filhos martineneses Onofre Neto e Zé Augusto”.
E acrescenta:
“O material mais importante e antigo ficará sobre bases de vidro e cobertos com redoma protetora para impedir toques e avarias”
No final, destacam-se aspectos técnicos relativos ao restauro do prédio-sede, funcionamento do museu, etc.
O autor do projeto e curador professor Jairo José Campos da Costa é mestre e doutor em Letras. Atualmente, faz Mestrado em Museologia na Universidade Federal da Bahia. Natural de Francisco Dantas (RN), mantém naquela cidade oestana o Museu de Cultura Popular.
Breve História do Sobrado
O artista plástico Carlos José Marques retratou o sobrado em um belo álbum de serigrafias – “Roteiro Histórico e Cultural do Rio Grande do Norte”, vol II (Natal, Secretaria de Educação e Cultura, sem data) – texto de minha autoria.
Consta do referido álbum a seguinte nota, com base nas informações de que eu, então, dispunha.
“O Sobrado de Martins foi construído em 1871, para ser residência de um ricaço local.
Boa parte do material de construção veio de fora. As pedras para a sacada da varanda, vieram de Souza (PB), em lombo de burro, por ser, então, impossível acesso à serra por carro-de-boi.
Pertenceu o Sobrado ao Senador Almino Afonso – informa-nos Manuel Onofre de Andrade em seu livro “A Abolição Antes da Lei Áurea”, biografia do abolicionista e republicano histórico:
“E assim, no auge de sua fortuna, adquirira o mais imponente edifício da então, próspera cidade do Martins, cidade climática, ao tempo citada na Alemanha para cura da tuberculose, antes do pneumotórax (em 1923 ainda vi cariocas, atacados do mal, irem fazer, ali, estação de cura).”
Adianta-nos o historiador:
“Tivera o amplo prédio o destino de sede do Colégio 7 de Setembro, transferindo-se de Mossoró para a cidade serrana, em agosto de 1904. Ainda depois de doado, nele funcionara o Orfanato Abigail Afonso, nome de sua consorte, e foi sendo, sucessivamente, museu, escola de comércio, jardim de infância, banda de música e Cosern (Cia. de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte) ” ( pág.99).
Ao correr dos anos abrigou o anexo do Ginásio, Secretaria Municipal de Educação e Cultura e Biblioteca Pública Municipal.
Muito alto e majestoso, o sobrado impressiona. É o maior do Estado. Inspirado em sua fachada Dorian Gray fez o desenho de capa do livro “Martins – Sua Terra, sua Gente”, de minha autoria, (1966).
Sobrado de Almino Afonso (?)
Diz-se que o Sobrado pertenceu unicamente, ao Senador Almino Afonso. Será verdade?
Compulsando os autos do inventário dos bens deixados por falecimento do Tenente-Coronel José de Souza Martins Pereira e sua mulher, Emília Cândida de Souza, constatei que o Sobrado, de propriedade do casal, transmitiu-se por herança, em parte, à sua filha Abigail Cândida Alvares Affonso, mulher do deputado federal Almino Afonso, depois Senador.
Abigail e seu irmão João Emiliano tiveram partes maiores, no Sobrado, mas, vários outros herdeiros também foram aquinhoados.
É provável que o Dr. Almino Afonso, homem de posses, tenha comprado as partes dos cunhados, tornando-se único proprietário.
Em 1940, dentro dos festejos comemorativos do centenário da Paróquia de Martins, instalou-se no prédio um Orfanato, que recebeu o nome de Abigail Affonso.
Mas, ao que tudo indica, o ilustre parlamentar não residiu no Sobrado. Talvez ocupasse em períodos de férias.
Não tenho dúvidas em dizer que o verdadeiro Senhor do Sobrado não foi Almino Afonso, como se propala, mas sim, José de Souza Martins Pereira, que o construiu e nele residiu por muitos anos, com sua família.
Museu Coronel Demétrio Lemos
A cidade de Martins, antiga Imperatriz, de muitas tradições culturais, conta com outro museu, este, pequeno porém muito interessante – Museu “Coronel Demétrio Lemos”, instalado em dependências do antigo Grupo Escolar “Almino Afonso” (atualmente Escola Estadual).
Compõe o acervo, além de alguns móveis e objetos antigos, uma coleção de estatuetas neoclássicas e art-nouveau, em bronze e gesso, doações do Coronel Demétrio, um benemérito da terra.
São dezenas de peças, a maior parte de indiscutível valor histórico e artístico. Pelo menos, umas cinco – figuras de Miguel Ângelo, Guttemberg, Galileu, Júlio Cesar e Milton – em maiores proporções, cerca de meio metro de altura, causam especial impressão. Sem dúvidas, um raro conjunto.
Na biblioteca do antigo Grupo Escolar, algumas raridades bibliográficas, também doadas pelo Coronel Demétrio, entre as quais edições de luxo, em formato gigante, de “Os Lusíadas”, “O Inferno”, de Dante, e “Orlando Furioso”, de Ariosto, com ilustrações de Gustave Doré.
2 Comments
O lembrar e manter são dois verbos fortes, ao somar-lhos pode multiplicar e dividir emoções.
Belo Trabalho Resgate Da Nossa História,
Conheço Pessoalmente mas Não Entrei..
Mas Concerteza Vou Ter Oportunidade de Conhecer Vou Morar Lá Nessa Serra De Clima GOSTOSO..
Parabéns Pela Valorização da Nossa História.