Municípios potiguares são ricos de histórias, lendas e personagens. Poetas populares crescem em cada recanto. A geografia, as tradições e as influências do tempo-hoje parecem moldar cada localidade com personalidade e culturas próprias. Em Santo Antônio do Salto da Onça não é diferente. Lá, a marca maior é a lenda do ‘salto da onça’, que empresta até o sobrenome ao município, mas uma figura popular se destaca pela simplicidade e pela grandiosidade poética: o poeta Xexéu, falecido hoje aos 81 anos.
José Gomes Sobrinho, o Xexéu, nasceu em 14 de maio e viveu na comunidade de Lajes, nos arredores de Santo Antônio. O caminho até sua casa de taipa, construída por ele 40 anos atrás é uma sucessão de lombadas pela estrada de terra. O acesso é complicado. Visitei sua casa em alguma data de 2013. Por lá ele ainda escrevia e ainda trabalhava na roça – atividade que desenvolveu desde criança. Além de versos que compõem mais de 400 cordéis, também era exímio tocador de rabeca e de viola.
Xexéu conheceu os maiores nomes da cultura nordestina: Patativa do Assaré, Luiz Gonzaga e Ariano Suassuna. Este último se declarava fã do poeta popular. Xexéu fumava e bebia, e pelo menos naquele ano, quando contava 75 anos, tinha filhos com menos de 5 anos, feitos “já com água por cima da boca”, como disse. Foram 20 ao todo, mas nove tinham morrido. Disse não ter feito “a matemática” de quantos netos tinha. Mas guardava na memória versos de dezenas de estrofes. E ainda se emocionava ao recitá-los.
O Rio Grande do Norte perde um verdadeiro patrimônio artístico e imaterial. Xexéu tem cacife para figurar entre os grandes poetas populares da história potiguar. Ainda não sei a causa de sua morte, apenas que morreu no hospital, em Santo Antônio. Que haja as reverências possíveis em seu sepultamento.