[ENTREVISTA] Moacyr Scliar: “A ideia filosófica socialista pode ser incorporada”

entrevista com moacyr scliar

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Moacyr Scliar é um dos escritores mais conhecidos da atualidade. E desenvolve a atividade de forma paralela. De ofício, ele é médico; e renomado na área. Embora seja difícil, em prima, pensar em um escritor de ofício. Fato é que já publicou mais de 70 livros e foi convidado a debater jornalismo e literatura durante o Encontro Natalense de Escritores. Sentou à mesa junto com o jornalista e poeta José Nêumanne Pinto e o diretor de Redação do Diário de Natal, Osair Vasconcelos.

A entrevista se deu após seus apontamentos no palco. Entre eles, uma observação do escritor Ernest Hemingway: “Todo bom jornalista tem de passar por uma redação”. O escritor e médico foi colaborador de diversos jornais de mídia impressa, como o Zero Hora e Folha de São Paulo. Na redação mesmo, nunca trabalhou. Como escritor, só não publicou livro de receita. Entre suas obras estão livros de crônicas, contos, poesia, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil.

Após a palestra que antecedeu o concorrido show de Zeca Baleiro, o também disputado escritor conversou rapidamente comigo e comentou alguns aspectos dos quais foram temas de livros seus:

ENTREVISTA – MOACYR SCLIAR

Opinião de médico: qual a doença do socialismo?

O socialismo passou por muitas crises quase mortais. A principal delas foi a queda do comunismo. Para minha geração foi uma desilusão tremenda porque foi uma geração que cresceu acreditando na União Soviética e na possibilidade de ascender o socialismo no mundo. Isso acabou e o socialismo vai ter que mudar seus objetivos. Terá que ser mais modesto. Mas continua uma causa justa. Enquanto houver desigualdade, miséria, opressão, a idéia tende a ficar.

Onde ele terá que ceder?

Talvez a ideia de estado socialista já não se impunha. Mas a ideia filosófica socialista pode ser incorporada aos governos.

Qual foi o crime da classe média?

A vaidade, o narcisismo, essa coisa de girar em torno do próprio umbigo. É o crime de não se preocupar com o resto da população.

Em qual quarteirão a literatura invade o terreno do jornalismo?

A área que eles coexistem é a crônica.

Durante o dia, quando Moacyr Scliar incorpora o romancista, o cronista e o poeta?

No jornal nunca sou romancista nem ficcionista. Mesmo que esteja fazendo texto que não corresponda à realidade, ele está dirigido aos leitores do jornal, portanto, é jornalismo.

Onde o senhor pesca os temas para as crônicas?

Basicamente do noticiário ou do que as pessoas comentam na rua, no ônibus, nos cafés.

A melancolia pode ser produtiva?

Claro. Muitas pessoas encontram na tristeza, no inconformismo, no mau humor material para criar na literatura, na música, na pintura. Isso não só diminui como humaniza o seu sofrimento e os seus sentimentos. Quando lemos um livro de um melancólico como o escritor Franz Kafka, que teve uma vida de intenso sofrimento psicológico, nós partilhamos de sua angústia – o que nos torna melhores.

Qual o livro-reportagem que o senhor gostaria de ver publicado?

Gostaria de ver alguma coisa desse gênero relacionado à medicina.


Entrevista concedida em novembro de 2007 ao jornalista Sergio Vilar. Moacyr Scliar faleceu em 27 de fevereiro de 2011.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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1 Comment

  • Ruben GNunes desfilósofo e romancista

    Beleza de entrevista!

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