Retrospectiva 2022: top 5 das melhores cervejas do ano

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Saudações, cervejeiros retrospectivos!

Mais um ano se passou e estamos na sequência dos dois tipos de texto que eu mais gosto: essa semana tem a retrospectiva 2022 e na semana que vem teremos as perspectivas 2023 (texto em que eu brinco de ser mãe Dinah e tentarei adivinhar quais serão as tendências do ano que vem sem nenhuma base científica para tanto, apenas no achismo presunçoso mesmo!).

Apenas para reprisar o que já foi descrito nas retrospectivas anteriores (clique aqui para ler a de 2020; e aqui para a 2021). O texto a seguir vai buscar fazer um breve apanhado, em 5 atos, sobre as melhores cervejas do ano, com a devida recomendação musical dos melhores álbuns lançados.

A metodologia é simples, é necessário que a cerveja seja nacional e tenha sido lançada em 2022 e tenha sido degustada (por mim, obviamente) no mesmo ano. Recorri aos meus alfarrábios estatísticos do Untappd para lhes trazer tal apanhado. Para as recomendações musicais os critérios são quase os mesmos, exceto que não precisa ser um lançamento nacional (vide acervo do Last.FM).

Depois de mais de 360 cervejas diferentes provadas ao longo do ano (meu Untappd não me deixa mentir) e de mais de 230 álbuns lançados em 2022 ouvidos na íntegra (meu Last.FM também não me deixa mentir), acho que me qualifico como um bom julgador em ambas as frentes.

Aparentemente, esse ano bebi menos cervejas e escutei mais álbuns diferentes.

Esse é um dos únicos textos que é desenvolvido ao longo de todo ano, já que sempre é uma retomada do que foi feito, experimentado e pensado noutras ocasiões. Assim, convido-os a mergulhar numa saudosa retrospectiva 2022, sobre as melhores cervejas e sobre os melhores álbuns musicais do ano!

Saúde!

#1 Cerveja: Barley Wine, da cervejaria Leopoldina

A melhor cerveja degustada por mim em 2022 foi a Barley Wine da cervejaria Leopoldina!

Claro que uma comparação direta seria covardia, mas a apresentação da cerveja lembra bastante a Utopias, da Samuel Adams. Sua garrafa é portentosa, exuberante e muito bonita. Seu acabamento é singular, até mesmo a caixa é bem luxuosa. Quem vê sem conhecer pode pensar que se trata de um whisky ou algum outro destilado de primeira linha.

O conteúdo segue a mesma premissa da exclusividade e do luxo. Uma cerveja muito peculiar, com um belo trabalho de barril também e com potentes 14% de teor alcoólico. Suas notas oxidativas e maltadas são o seu ponto alto. Aroma que lembra Xerez, vinho do Porto e Brandy. Maltado profundo e com muita estrutura, muito caramelada, muito toffee e um pouco de Maillard.

Uma cerveja muito bem trabalhada que merece estar no topo da lista anual.

Alcançou nota máxima no Untappd: 5/5 (assim como todas as demais cervejas aqui listadas, por isso não mais repetirei essa informação, utilizarei apenas a outra mensuração) e numa escala macro de 100 pontos ela atinge 98 pontos.

Simplesmente um altíssimo nível de complexidade!

Estampa o número um nela!

#1 Álbum Musical: Onryo II: Her Spirit Eternal, da banda Saidan

Vamos começar falando do álbum que reúne os melhores riffs de guitarra do ano e talvez da década.

A banda de Black Metal americana Saidan, após uma demo tape (em 2020) e um álbum de estreia (em 2021) bem medíocres, conseguiram musicalmente dar novo fôlego às técnicas musicais utilizadas no seu estilo e lançaram um álbum realmente espetacular.

Ao se valer da técnica do tremolo na guitarra, aplicando efeitos e texturas do post-rock, conseguiram um resultado memorável! Na obra Onryo II: Her Spirit Eternal, riffs são empilhados após riffs em todas as músicas, em alto nível. Todos são muito criativos e cativantes. Além disso, inseriram ligeiras ambientações de teclados em músicas que tem como temática central mitos e históricas sombrias do Japão medieval.

Um dos pontos fracos talvez seja a bateria (faltou isso para gabaritar), que, apesar de não ser programada (o que é algo positivo), acaba por se perder em ritmos pouco criativos, que lembram uma levada punk, assim fica um tanto quanto destoante dos demais instrumentos.

Contudo, sem dúvidas, um dos lançamentos imperdíveis de 2022.

O álbum em referência alcançou nota 96, numa escala de 100 pontos totais.

Fiquem com a melhor música do álbum: Kissed by Lunar’s Silvery Gleam.

#2 Cerveja: The Leaf (Jasmim), da cervejaria Croma

Em segundo lugar, temos uma cerveja de um estilo que não sou tão fã assim, mas que, de tão bem feita, abocanhou esse lugar no pódio das melhores do ano. Trata-se de uma cerveja do estilo Saison, feita pela cervejaria Croma, em uma série denominada The Leaf, esse foi o exemplar que teve adição da flor de Jasmim em sua receita.

A cerveja é absurdamente um espetáculo! Fizeram um uso magistral do jasmim! A flor é muito presente no aroma e bem combinada com uma pegada de uvas verdes e um pouco de kiwi! No sabor, bem menos ácida que a base (cerveja sem nenhum adjunto, que fazia parte da série), possui um leve adocicado e tons florais e de guaraná. Seu final seco e um pouco frisante.

Estupenda! Alcançou numa escala macro 95 pontos.

#2 Álbum Musical: Hate Über Alles, da banda Kreator

Kreator é uma banda de referência quando se fala em Thrash Metal, principalmente na vertente alemã do estilo, que é bem peculiar. Nesse ano, os integrantes da banda capitaneada por Mille Petrozza conseguiram lançar um petardo musical estonteante.

Em um álbum repleto de riffs rápidos e energéticos, deixando um pouco a estética gótica e os experimentalismos de alguns lançamentos atrás, a banda volta à tona com o que sabe fazer de melhor.

Os vocais do Mille também estão bem caprichados e suas letras de teor político e social combinam cada vez mais com os acontecimentos que vemos todos os dias no noticiário.

O álbum em referência foi capaz de atingir 95 pontos, na escala de 100 pontos máximos.

Fica como recomendação a faixa título do álbum, Hate Über Alles (traduzida por: “Ódio acima de todos”), carregada de simbolismos políticos e sociais. Em primeiro plano, a referência ao trecho banido do hino alemão da época do 3º Reich (Deutschland Über Alles – ou, Alemanha acima de todos – o que nos lembra do mote do “capetão” derrotado por aqui, não é?), e em segundo plano, o trecho do refrão que enuncia que: o ódio é o vírus do nosso mundo.

Mais atual e coerente impossível.

#3 Cerveja: Hedera Helix, da Greenhouse Brewery

Fechando o pódio, temos uma cerveja em um estilo que ganhou mais notoriedade (e falamos sobre ele AQUI) em 2022 e as perspectivas sobre ele em 2023 são as melhores possíveis, que são as Neozealand Pilsners.

A Hedera Helix (nome científico da planta conhecida como Hera) foi uma grata surpresa em 2022, uma cerveja super leve, refrescante, como uma boa Lager mais clara, contudo, também com seu charme lupulado inconfundível.

Ademais, confesso que quando se trata apenas de lupulagens excessivas nas IPA’s, já não me encanto tanto, porém, no caso da terceira colocada da lista não houve como não se apaixonar. Seu single hop com o lúpulo Nelson Sauvin trouxe as melhores características frutadas para o estilo, muita uva verde, kiwi, lichia, caju e seriguela.

Uma explosão frutada somada a um amargor persistente (sem agredir) e a um leve metalizado da lagerização. Tudo dentro do que o estilo pedia, com muita personalidade e esmero.

Certamente, ela é digna do nosso pódio cervejeiro ao alcançar uma nota 94.

#3 Álbum Musical: Liminal Rites, da banda Kardashev

Indubitavelmente, trata-se do álbum mais técnico do ano e também dessa lista, de longe, de muito longe!

A banda Kardashev, nomeada em homenagem ao astrofísico Nikolai Kardashev, é formada por virtuosos em todos os instrumentos, daí toda a proeza técnica que eles exibem. Seu estilo também é muito difícil de ser categorizado, haja vista que eles transitam entre vários!

Vão do progressivo, ao atmosférico, passando pelo Melodic Death Metal e pelo Deathcore, com pitadas de Post-Metal e ligeiras doses de Jazz.

No álbum, a bateria é um primor, executada com perfeição detalhista, muitas viradas e mudanças constantes de tempo, daí se tira a maior parte da influência do Jazz (o solo de saxofone em uma das músicas também ajuda!). As guitarras possuem múltiplas camadas, muito solos diversos e bases complexas. O baixo talvez seja o instrumento menos proeminente, mas não deixa de brilhar eventualmente.

O maior destaque talvez sejam os vocais do Mark Garrett. Ele visualmente lembra demais o Zach Galifianakis (o sórdido protagonista do filme “Se beber não case”), mas não se engane, ele é capaz de fazer todos os vocais possíveis e imagináveis, em uma proficiência e em uma extensão formidável. Possivelmente ele é um dos 5 maiores vocalistas do mundo em atividade.

O álbum Liminal Rites é repleto de melodias intrincadas, complexas, mudanças de velocidade e outros artefatos técnicos, alcançando uma pontuação total de 94 pontos de 100. A recomendação musical fica por conta da canção: Glass Phantoms, um resumo do que há de melhor ao longo de toda a obra musical.

#4 Cerveja: Etera (Tomo V), da cervejaria Spartacus

Mais um ano e a cervejaria Spartacus marca mais uma vez presença com uma das melhores cervejas do Brasil.

No quarto lugar, ela emplaca a Etera (Tomo V), à qual foi atribuída a nota de 93 pontos.

A Etera é a antiga série Areté, que por uma questão de nome comercial, teve que passar pelo processo de rebranding, e inverteram a ordem das letras para criar a nova cerveja. Interessante que mantiveram a ordem de numeração, já que a última Areté lançada foi a Tomo IV e a Etera já iniciou no Tomo V.

Falando mais especificamente da cerveja, é uma Imperial Stout que repousou longamente em vários tipos de barris: 36 meses no Weller OWA Wheated Bourbon; 34 meses no Blanton’s Bourbon; e 15 meses no Pikesville Rye Whisky.

O resultado foi o melhor trabalho de envelhecimento em barris alcançado por uma cervejaria nacional em 2022, simplesmente esplêndido. Além disso, conseguiram acertar a base para que ela não ficasse excessivamente doce, como em outras cervejas similares. Uma cerveja estupenda para quem gosta do estilo.

#4 Álbum Musical: Zeit, da banda Rammstein

Os veteranos do metal industrial conseguiram emplacar esse ano um álbum realmente fulgurante!

Zeit é uma obra de arte! Conseguiu misturar várias fases da carreira da banda, com músicas com batidas frenéticas, outras mais melódicas, algumas até teatrais. Toda essa mistura fez com que o álbum ficasse bem dinâmico e muito interessante.

Zeit ganhou 93 pontos em minha lista anual.

A melhor música do álbum é também a recomendação musical e é a própria faixa-título do álbum: Zeit! Com um refrão chiclete, mesmo para quem não fala alemão e uma letra existencial e bem reflexiva, não tinha como deixar esse petardo de fora da lista das melhores do ano

Confiram:

#5 Cerveja: Fish’s Tale, colaboração das cervejarias Narcose, Juan Caloto e Dude Collective Brewing

É o exemplo de cerveja que já merece o meu respeito imediato pela ousadia e pelo estilo. Não que esses dois atributos por si só façam uma boa cerveja. Contudo, nesse caso, o resultado foi singular e muito bom!

Outro fato interessante sobre a cerveja, é que ela foi lançada em conjunto com outra, do mesmo estilo, a única diferença foi a adição de blend de cafés vindos do Sul de Minas e Cerrado Mineiro. Ainda assim, a versão base ficou melhor ainda.

Trata-se de uma cerveja no estilo Doppelbock, envelhecida em barris de jequitibá rosa e carvalho francês. Posteriormente, para virar uma Eisbock, parte dela foi congelada, concentrando, assim, ainda mais seus sabores e potencializando seu teor alcoólico (16.5% ABV).

Possui como características sensoriais, no aroma, amadeirado de intensidade mediana, com notas mentoladas, empireumáticas. Maltado profundo, com Maillard, toffee, castanhas, e amêndoas. No sabor, tem uma pegada de destilado diferenciada, com notas de Cognac e um amadeirado distintivo, lembrando mogno. Tem um dulçor alto e um corpo baixo.

Merece certamente uma nota 91 em 100 pontos possíveis!

Uma de suas muitas peculiaridades é ser flat (sem carbonatação), o que possibilita, se a garrafa não terminar de uma vez, só tampar e beber depois. Ademais, é uma cerveja para beber em temperatura ambiente (recomendada para dias mais frios)!

#5 Álbum Musical: Dirt Femme, da Tove Lo

Para fechar a seleção musical de 2022, marca presença a Tove Lo, uma das cantoras pop mais subestimadas que eu conheço.

Se eu tivesse escolhido o último álbum da SZA, que eu também ouvi, mas achei superestimado, a maioria iria reconhecer. Mas, Tove Lo, tirando por uma breve lembrança do Vin Diesel cantando Habits (Stay High) em memória/tributo ao seu falecido colega Paul Walker, capaz de ninguém lembrar.

Inobstante, Tove Lo lançou uma das gemas escondidas de 2022: Dirt Femme. Um álbum sem fillers, no qual todas as músicas estão em alto nível. O destaque vai para Suburbia, uma faixa no perfil das músicas da Lana Del Rey, um tanto quanto melancólica, ligeiramente dançante, ainda que bem cotidiana.

Com esse álbum, a Tove Lo alcançou 92 pontos na lista dos melhores do ano de 2022.

Saideira

Adoro listas e recomendações de final de ano. Fazer a retrospectiva do que foi bebido (de bom e de ruim) e escutado (do maravilhoso ao péssimo) é um dos melhores momentos. Por isso que digo que esse é um texto feito um pouquinho a cada momento do ano, sempre recorro a alguma anotação para poder escrever com mais precisão, já que algumas lembranças não são exatamente recentes.

Relembrar é viver, por isso que a retrospectiva é parte desse exercício de ressignificação das vivências tidas.

Este foi o TOP 5 do ano. E seu qual seria? Concorda com esse? Tiraria alguma indicação? Acrescentaria alguma?

Comentem se concordam (ou não) e se gostaram (ou não).

Recomendações finais

Deixo o link final com a lista completa de todos os álbuns, por estilo e por nota, em uma tabela do Excel que eu monto ao longo do ano.

Clique AQUI e veja a lista completa!

Fica a dica para quem quiser conhecer mais algumas coisinhas inusitadas ou que passaram despercebidas no seu radar.

Saúde e boas cervejas/músicas!

Feliz 2023!

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidos do mês