Maturidade sem manual

Maturidade

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Esse ano eu completo 50 anos e nunca pensei tanto sobre a maturidade, é quase uma obsessão, e cheguei à conclusão de que ela é aquele aplicativo que vem instalado de fábrica, mas a gente só aprende a usar depois que o celular já tá com a tela trincada e a bateria viciada. No começo da vida, a gente olha pros adultos e pensa: “Nossa, um dia serei sábia e madura, cheia de certezas e compostura”. Maior bobagem. O que a gente não percebe é que maturidade não é sobre finalmente entender tudo, mas sobre aceitar que nunca vamos entender nada.

Estou aprendendo que a maturidade é viver em paz com aquilo que não se pode mudar. É entender que algumas batalhas simplesmente não valem o esforço, e que a serenidade de deixar ir é tão importante quanto a coragem de insistir. Além disso, maturidade não depende de idade, mas, sim, de como se age e se pensa. Há jovens que já carregam um olhar sábio sobre a vida, e adultos que ainda tropeçam nas mesmas armadilhas de sempre.

A primeira coisa boa que me chegou com a maturidade foi a libertação dos padrões. Antes, eu achava que precisava ser a melhor em tudo: melhor filha, melhor amiga, melhor profissional, melhor companhia para o crush de ocasião. Agora? Agora eu só quero ser a melhor versão de alguém que dorme bem e tem paciência limitada para gente chata. Aos vinte anos, eu achava que com 50 anos deveria saber cozinhar pratos incríveis, seguir uma rotina fitness e ter o abdômen da Sabrina Sato. Hoje, se eu não queimei o arroz e não me embananei na esteira da academia, já considero um grande avanço.

Errar é uma arte e a maturidade nos dá um diploma honorário em trapalhadas. Porque a gente erra muito e continua errando, mas aprende a errar melhor. Antes, eu errava insistindo em gente que claramente não merecia meu tempo. Agora, erro escolhendo séries ruins no streaming, o que, convenhamos, é um progresso.

Outra coisa que a maturidade tem me ensinado é a magia de desistir. Sim, eu aprendi que certas batalhas não valem a pena. Discutir com um homem que só se informa pelo WhatsApp da tia? Desnecessário. Tentar converter um amigo que acha que trabalho é só um detalhe entre um happy hour e outro? Cansaço puro. A maturidade chega quando percebemos que o botão de “silenciar” é um grande aliado para a sanidade mental.

Mas nem tudo são flores. Envelhecer dá medo. A primeira ruga, o primeiro fio branco, a primeira vez que um adolescente te chama de “tia” na fila do supermercado. É um choque. A gente começa a evitar luz branca no espelho e compra cremes que prometem o impossível. A maturidade ensina a aceitar que tudo desce – inclusive o metabolismo e a disposição para baladas que terminam depois da meia-noite.

Por outro lado, vem aquela sensação de liberdade. A gente para de se importar tanto. Para de querer agradar todo mundo. Para de responder mensagens imediatamente porque está ocupada fazendo algo mais interessante, tipo nada. É maravilhoso.

E aí, a gente aprende a gostar mais de si. Aprende que dizer “não” é um ato de autocuidado, que estar sozinha não é solidão, e que felicidade não é um destino, mas um estado de espírito que pode ser alcançado com uma taça de vinho, boa música e um bom livro.

E falando em liberdade, a maturidade traz um presente inesperado: a revolução da liberdade sexual. Se antes existia toda uma ansiedade de performance, medo de julgamento e um desejo inconsciente de corresponder às expectativas alheias, agora a história muda. A gente descobre o prazer de estar no controle do próprio desejo, sem precisar dar satisfação pra ninguém. O corpo deixa de ser uma questão de validação externa e passa a ser território de autoconhecimento e prazer genuíno. É o auge do “eu faço o que eu quero, com quem eu quero, se eu quiser”. E isso, meus amigos, é um poder imenso.

A maturidade não traz todas as respostas, mas ensina a fazer as perguntas certas. E no fim das contas, a grande verdade é essa: a gente cresce, se lasca, aprende, ri, desiste, tenta de novo, reclama da coluna, esquece o nome das pessoas e segue vivendo. Porque no final, maturidade é isso: aprender a levar a vida menos a sério e se divertir no processo.

Carla Nogueira

Carla Nogueira

Carla Nogueira, ou simplesmente Carlota, é produtora Cultural formada em Gestão de Pessoas e possui MBA em Gestão Humanística de Pessoas. Multicriativa por natureza, é fundadora do Estúdio Carlota, idealizadora do Festival Manifesta e outros muitos projetos, todos eles dedicados a impulsionar a arte, a cultura, criando conexões que transformam criatividade em potência. Notívaga assumida, amante de cervejas e mestre no sarcasmo, escreve crônicas afiadas sobre as ironias e peculiaridades do cotidiano.

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2 Comments

  • Manuela Mesquita

    Concordo demais! Palavras perfeitas. Viva os 5.0.

  • Mércia

    Concordo com cada palavra, e viva os 5.0

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