Márcio Benjamim: admirável ficcionista novo

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Ficcionista criativo, Márcio Benjamim é uma das boas revelações da nossa literatura neste início de novo milênio. Natalense, advogado, em meio aos papeis e a burocracia diária, o que mais ama é contar histórias. Escrever, sobretudo ficção. Vale dizer que Benjamim também é dramaturgo e escreveu algumas peças: “Hippie-Drive”, “Flores de Plástico” e “Ultraje”.

Estreou oficialmente na literatura em 2012, com o livro Maldito Sertão, publicado pela Editora Jovens Escribas. Sobre Maldito Sertão tivemos oportunidade de escrever, na época do seu lançamento, uma resenha, da qual extraímos os seguintes trechos:

O livro do escritor Márcio Benjamim, “Maldito Sertão” é um mundo, um universo onde se misturam mito, ficção, poesia e linguagem regionalista. É uma viagem, uma incursão pelas estórias da nossa região. Poucos os contistas potiguares que tratam deste tema com propriedade. Afonso Bezerra, Manoel Onofre Júnior, Bartolomeu Correia de Melo e Clauder Arcanjo são alguns dos nomes da lista de escritores que o abordam.

Nos contos notamos espaços existenciais, vivos, personificados, verdadeiramente regionais, além de um vasto universo folclórico, repleto de vida e imaginação, brotando assim os mais diversos sentimentos como o riso, o medo, a dúvida, angústias, esperanças, desilusões, o bem e o mal, e as tensões entre o homem, o sertão e o mundo, numa síntese onde tudo se transforma em linguagem.

O sertão é uma vasta (e indefinida) área do nosso país, que abrange boa parte dos Estados do Nordeste. Esta caracterização corrente de sertão é tida como a de uma área despovoada ou escassamente habitada, quase deserta. Qualquer tentativa de definição ou delimitação do sertão ou dos sertões implica não só uma explicação geográfica, mas, sobretudo, uma compreensão histórica e social.

OS SERTÕES DE MÁRCIO BENJAMIM

Os causos do livro Maldito Sertão expressam um complexo de elementos fundamentais que valem nas relações humanas e sociais do país e as perpassam historicamente. Embora seu objeto de representação seja um ambiente determinado – o sertão – o autor recria, reinventa e localiza o sertão em uma realidade mais ampla, mais rica de significados folclóricos e culturais em narrativas fantásticas.

Neste livro, o sertão é um universo registrado como mítico, ativo e interativo, num ambiente natural e cultural, onde a figura do sertanejo salta aos nossos olhos em cada narrativa, em cada estória. Existe, nesse sentido, uma ponte de ligação, de transcendência entre o regional sertanejo e o universal humano na obra de Márcio Benjamim, que se dá no campo da linguagem, destacando-se nos relatos fabulosos. A linguagem constitui assim um aspecto rico, amplo, que nos traz de volta a vida no interior, as falas sertanejas, as angústias, os medos, as felicidades, as descobertas, os encontros e os desencontros humanos em temáticas universais.

E é no trato desta realidade sertaneja que destacamos uma grande síntese, uma capacidade de contar estórias em poucas palavras, mas com riqueza de léxico. Além disto, o fato de que as dimensões sociopolíticas e culturais do sertão extrapolam seus limites, tornando-se universais, apontando para uma tendência histórica posterior a esse momento.

No Maldito Sertão o homem se vê reduzido a um mero coadjuvante, onde o sertão é o principal personagem, um belo e imenso palco de estórias; ai se destacam o lado ficcional, o mítico e a exploração dos recursos da linguagem que adquirem contornos poéticos a cada nova estória.

Maldito Sertão também foi adaptado para os quadrinhos em 2016 e foi lançado na FLIQ – Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, em nova roupagem e com linguagem adaptada para os quadrinhos, recontando histórias de personagens míticos como o lobisomem, a mula-sem-cabeça, o papa-figo, a caipora, além das lendas aterrorizantes da região.

FOME

Márcio Benjamim participou das antologias de contos ”Noctâmbulos” e “Caminho do Medo”.

Em 2016, lançou “Fome”, romance que concorreu ao Prêmio da Biblioteca Nacional como melhor Romance Juvenil de 2016. Benjamim foi convidado pela Universidade de Sorbonne, e expôs seu trabalho em Paris, na referida universidade, e participou também do Salão do Livro na capital francesa.

Em 2017, teve um dos contos do Maldito Sertão, intitulado “Casa de Fazenda”, traduzido para o espanhol, integrando a coletânea “Literatura Brasilis”, lançada na XXVI Feira do Livro em Havana, Cuba.

Em 2015, o entrevistamos para o livro “Impressões-Digitais- Escritores Potiguares Contemporâneos”, vol. III, e destacamos a seguir alguns trechos:

ENTREVISTA – MÁRCIO BENJAMIM

THIAGO GONZAGA – Quais foram as suas primeiras leituras literárias?

MÁRCIO BENJAMIM – Meu pai é militar da Aeronáutica e muitas vezes fui com ele à Base, no caso ao CATRE, em Parnamirim, e passei inúmeras tardes na biblioteca por falta de colegas da mesma idade para brincar, e lá tive contato com grandes livros e autores: Meu pé de laranja lima, O menino do dedo verde, Erêndira e sua avó desalmada, quando me apaixonei por Garcia Márquez, os quadrinhos do Recruta Zero e do Asterix! Eu adorava também uma coleção sobre as civilizações antigas, toda ilustrada. Do cheiro daqueles livros e a tranquilidade da biblioteca eu me lembro com muita força.

Em casa eu também lia muito por influência dos meus pais. É como me disse uma amiga minha, que é mãe: para a criança não adianta orientar, você tem que ser o exemplo. Inicialmente lia muito quadrinhos da Turma da Mônica, mas depois fui me encantando pelos livros mesmo, todos os de Pedro Bandeira e a Coleção Vagalume foram sempre presentes.

Também me lembro com muito prazer das Vinte Mil Léguas Submarinas de Júlio Verne, fiquei encantado com a fluidez da leitura, considerando o tamanho daquele livro! Dava pra encostar uma porta tranquilamente! (risos).

No começo da adolescência descobri esse meu amor antigo de hoje, que é Stephen King, talvez a minha maior influência. Lembro perfeitamente bem que aos treze anos pedi de presente de Natal três livros dele: O Cemitério, Sombras da Noite e A Metade Negra. Não sei como minha mãe não me internou (risos).

Desses, principalmente “Sombras da noite”, é um livro fabuloso, de contos, que me influencia muito até hoje. O seu prefácio é uma verdadeira lição de escrita de terror e vez por outra me pego lendo-o novamente. Quem sabe um dia aprendo?

Gostei tanto do estilo dele que acabei comprando vários outros livros e descobri que era um gênio também em outros estilos que não o terror.

Depois fui me encantando por Érico Veríssimo e Luis Fernando Veríssimo, até porque na época comecei a fazer teatro na escola e montamos uma adaptação das “Comédias da Vida Privada”. Foi por meio do teatro que passei a descobrir os nossos autores teatrais (Nelson Rodrigues, Plínio Marcos…) e também fui me interessando também pela dramaturgia mundial, aí veio Tchecov, Ionesco, Tennessee Williams, e toda uma profusão de outros gênios.

Depois mantive um blog (www.umanjopornografico.blogspot.com), que hoje anda meio parado, mas serviu para conhecer um mói de gente do Brasil todo, grandes escritores, e firmar amizades que tenho até hoje. Serviu também para apurar meu estilo e ouvir críticas construtivas sobre o meu trabalho, as quais ainda me servem muito. Fizemos até um blog interativo (Revista Engrenagem) no qual postávamos com regularidade textos criados a partir de temas sugeridos.

E foi também na época do blog que através de um elogio de uma grande amiga, e grande poetisa e grande escritora, Rosângela Azeredo, que eu conheci o trabalho do Cortazar, e até hoje a cada dia morro um pouco de pura inveja.

Já no final da adolescência tive outro vício chamado Caio Fernando Abreu, bem antes dele virar celebridade literária do facebook (risos) e aprendi que você pode escrever divinamente sem ser prolixo. Ainda não escrevo divinamente, mas pelo menos deixei de ser prolixo! (risos)

THIAGO GONZAGA – Quem é o escritor Márcio Benjamin?

MÁRCIO BENJAMIM – É um apaixonado por terror e, consequentemente, pelo seu trabalho. Irremediavelmente viciado em leitura, ele quer acreditar que vai escrever até o fim dos seus dias. Pelo menos é o que diz aquele senhor de preto que lhe aparece em sonho.

Thiago Gonzaga

Thiago Gonzaga

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

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