O livro “Dragão-de-Komodo e sua Babinha Irresistível”, do escritor natalense Gabriel Cavalcanti, publicado pela Editora Urutau, está em pré-venda pelo site Benfeitoria. Gabriel é formado em Letras-Francês pela UFRN.
O livro reúne poemas escritos durante o ano de 2024, quando o autor estava se mudando de Natal para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para fazer mestrado na área de Estudos Literários, na UFSM. O livro é uma ponte entre nordeste e sul, abrangendo temas como a crise de sensibilidade do século XXI, o silenciamento do morador da Zona Norte de Natal e a falta de perspectiva da juventude.
As duas cidades são signos poéticos que perpassam o livro, onde o eu-lírico não é um produto indiferente de seu meio, mas um atento observador que nota as particularidades do tempo ao seu redor. Ao mesmo tempo, percebe os impactos em si, se pondo no verso para se estudar e se compreender.
“Dragão-de-Komodo e sua Babinha Irresistível” está em pré-venda pelo site de financiamento coletivo Benfeitoria. No site é possível contribuir com a campanha de duas maneiras: seja fazendo uma doação por pix, seja fazendo um apoio. Quem escolher fazer um apoio, terá direito a uma série de recompensas, como adquirir o livro autografado.
Link da campanha: https://benfeitoria.com/projeto/komodo
Um dos poemas do livro:
Desafio ao abandono
Ponte velha, ponte acabada, desafio aos anos,
desafio ao abandono.
Nosso, foi gasto o tempo — roubado.
Nos danificaram com o uso: demasiado descuidado.
Esqueceram de nossa beleza,
esqueceram que um dia nós sorrimos.
Não deixaremos que esqueçam de que, aqui, existimos.
E nosso tempo voltará, com uma carta de perdão.
E nossa juventude voltará, junto a de nossos irmãos.
Natal de todos os dias, em seu calor inacabado,
a construção sem fim, de um lugar cheio de significados.
Nosso, foi corrompido o dia — destroçado.
Levaram para longe e o trouxeram danificado.
Não sei o que fizeram com a semana, com o tédio e o ócio;
todas as boas lembranças, tampouco a triste memória.
Sorriso de desalento de algum potiguar.
Meu tempo não foi vivido, meus sonhos, abandonados.
Estou pensando no precipício, um lugar com grama, sem asfalto.
Nosso, foi apagado o futuro — abortado.
Nunca nos olharam, nunca pensaram sobre nós.
E, em sua ausência de pensar, fomos dissolvidos,
espalhados, perdidos entre tantos outros;
nos tornamos fumaça que não incomoda,
nem fede, nem discorda,
apenas está lá e, principalmente, aqui.
Ainda estamos aqui. 23.02 – 22h57