Arte transforma. Tem a habilidade da transgressão. Política, comportamento, ideologia… tudo cabe na arte, na poesia. E se mesclada a boas doses anarquistas, surge um coquetel poderoso.
O Insurgências Poéticas conseguiu essa fórmula, esse mix. Falta um gelinho maneiro para descer redondo, embora o travo também digira bacana para muitos.
Houve umas quatro ou cinco edições do projeto. Assisti apenas a última, em homenagem a Civone Medeiros, com exposição de Rita Machado, performance de Rozeane Oliveira e shows de Laryssa Costa e Khrystal.
Impressiona o formato aglutinador do Insurgências, mas mais ainda o engajamento dos artistas à ideia e também o potencial para o projeto tomar proporções maiores.
Era uma quarta-feira à noite, em semana de prévias carnavalescas em cada esquina e em cada canto de Natal. O local, a Cidade Alta, nem de longe o point de outrora. E o Bardallos estava lotado.
O público era predominantemente jovem. Jovens idealistas. Mas havia também aqueles mais velhos de esperança rachada, de certo empolgados com a programação bem divulgada pela imprensa alternativa e tradicional, que também comprou a ideia.
Um projeto eminentemente poético. Um sarau incrementado. E sendo assim, aberto, anárquico, libertário, também afeito a outras manifestações, seja da arte, da pombagira ou dos loucos.
Então, se há abertura, por que não um mês dedicado aos músicos poetas? Por que não uma temporada voltada à poesia do teatro? E quando artes visuais nos gritam poesia? E o nosso pobre cinema também de arte? E depois tudo de novo e de novo e mais uma vez?
CRÍTICAS
Sempre cabe mais um tijolo, um acabamento na construção de qualquer projeto. Mesmo para uma casa novinha como o Insurgências Poéticas.
Cheguei ao Bardallos com show de Laryssa Costa já iniciado. Não sei o que rolou antes. Mas senti falta de uma apresentação do excelente trabalho da Rita Machado. Queria entender melhor aqueles traços, seu modo de produção.
Acho que a Rozeane poderia ser mais “explorada” também. Permear as poesias recitadas com seus passos – um exercício sedutor para acrescer à poesia, por exemplo.
E a homenagem merecia melhor organização, embora, como disse, a bagunça também sirva e talvez soe até mais charmosa à proposta.
De cá, sugeriria uma abertura com breve biografia da persona homenageada. Uma palavra da própria. E apresentação de sua arte das mais distintas formas, seja com esquetes teatrais, leitura de poesias, performances…
Em resumo, apenas uma sequência pré-definida e mais organizada. Anarquia não é bagunça. Que tal uma organização anarquista?
Ficam as sugestas e vamos se insurgir. Como disse no insta deste Papo, o Insurgências Poéticas finalizou a temporada veraneio, mas há os invernos da alma que também pedem poesia.
E por quê? Porque precisamos transgredir com mais amor e mais arte, sem temer.
FOTOS: BABUINHO SYSTEM