A rotina de “beleza injusta” nas Casas de Farinha em 17 fotos

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Há algum tempo tenho usado a fotografia como maneira de registrar formas de trabalhos em diversos espaços por onde passo: grandes cidades, áreas rurais, pequenas cidades, assentamentos, mas em especial os espaços de trabalho presentes no interior do Rio Grande do Norte.

Esse interesse pelas relações com o mundo do trabalho foi parte importante do que me levou a Boa Saúde, cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, escondida no interior da região Agreste Potiguar. Em uma parceria entre o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) da cidade e o IFRN Campus Santa Cruz, através de um projeto de extensão que desenvolvo, fui ministrar uma oficina de fotografia digital para os jovens atendidos pelo serviço. A meta era que utilizassem técnicas trabalhadas em sala de aula para registar o cotidiano do trabalho nas casas de farinha, um dos espaços laborais mais conhecidos pela população, o que inclui muitas crianças.

Durante três semanas de visitas intensas e imersão no espaço de trabalho das pessoas de Boa Saúde, pude registrá-los em sua simplicidade e em suas relações com o ambiente e as particularidades de seus ofícios: homens e mulheres que iniciam suas jornadas a partir das 3 da manhã, raspando quilos, às vezes toneladas de mandioca que serão transformadas em farinha e goma, que alimentarão muitos de nós pelo país afora.

Os cenários variam pouco: os fornos e o pó branco da farinha que tomam a respiração, o cheiro forte da manipueira que escorre para fora das casas de farinha e evapora a céu aberto, se entranhando em tudo o que respira em torno das casas; a luz escassa, mas de beleza singular que permeia as casas de farinha, vinda dos tetos cheios de frestas, das portas de ripa: uma espécie de beleza quase injusta diante da aridez e do peso do ofício.

Poder registrar o trabalho rudimentar da produção de farinha e goma de mandioca, conversar e conhecer os trabalhadores e suas perspectivas (ou a falta delas), apaziguar os olhares assustados com a presença de um estrangeiro em seus locais de trabalho e da câmera que tantas vezes parecia invasiva e excessivamente curiosa, compreender o tamanho do mundo em que essas pessoas estão e que as cerca foi uma experiência forte e que me comoveu muitas vezes.

As fotos desta exposição são uma pequena amostra do universo miúdo e grande das casas de farinha em Boa Saúde.

Theo Alves

Theo Alves

Theo G. Alves nasceu em dezembro de 1980, em Natal, mas cresceu em Currais Novos e é radicado em Santa Cruz, cidades do interior potiguar. Escritor e fotógrafo, publicou os livros artesanais Loa de Pedra (poesia) e A Casa Miúda (contos), além de ter participado das coletâneas Tamborete (poesia) e Triacanto: Trilogia da Dor e Outras Mazelas. Em 2009 lançou seu Pequeno Manual Prático de Coisas Inúteis (poesia e contos); em 2015, A Máquina de Avessar os Dias (poesia), ambos pela Editora Flor do Sal. Em 2018, através da Editora Moinhos, publicou Doce Azedo Amaro (poesia).

Como fotógrafo, dedica-se em especial à fotografia documental e de rua, tendo participado de exposições que discutiam relações de trabalho e a vida em comunidades das regiões Trairi e Seridó. Também ministra aulas de fotografia digital com aparelhos celulares em projetos de extensão do IFRN, onde é servidor.

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