Harmonizações do BBQ do Tio Jorge na Cervejaria Armorial

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Saudações, cervejeiros e churrasqueiros!

O texto de hoje fala de duas grandes paixões do brasileiros: churrasco e cerveja.

Ele terá um direcionamento estilístico um tanto quanto diverso dos demais textos da coluna, já que hoje se trata de um relato (jornalístico/gastronômico), e, em certo sentido, de um convite.

O relato é baseado na experiência gastronômica ocorrida no dia 24/06/22, na cervejaria Armorial, em Natal. Na ocasião, houve a harmonização de cervejas artesanais/especiais com o legítimo Brazilian BBQ (ou, Barbecue) artesanalmente preparado e defumado pelo Tio Jorge, que usa dois tipos de madeiras em suas defumações: jenipapeiro e algaroba.

Então, vamos às cervejas e às harmonizações.

Já fica a dica que a edição aberta ao público será no dia 07 do próximo mês, às 19h, na Armorial, com vagas limitadas.

Uma cerveja de boas-vindas: Seresteira

Não há recepção melhor que ser agraciado com uma bela cerveja assim que se chega ao recinto.

Estupendamente fomos recepcionados com uma cerveja ao chegar na cervejaria Armorial, pelo cervejeiro (e doutor músico) Amandy Bandeira.

Foi servida a cerveja de entrada, para começar “os trabalhos”: a Seresteira. Trata-se de uma Lager bem suave e leve. Apenas para nos agraciar com um sutil frescor floral/lupulado, acompanhada de algumas notas maltadas de panificação.

Um belo cartão de visitas para o que viria a seguir. Acompanhem.

Po’boy e Pastel de “Frango de Sol” harmozinando com a Opus 1

Em seguida, foram servidas duas entradinhas: o sanduíche Po’boy e mini porções de pastel de “Frango de Sol”.

O Po’boy (corruptela de Poor Boy, ou garoto pobre: o cliente que usualmente degustava a tal iguaria) é um sanduíche oriundo de Nova Orleans, Louisiana, Estados Unidos, servido em uma baguete francesa. Além de uma salada de alface e tomate, seu principal ingrediente é o camarão, defumado e empanado.

O “Frango de Sol” é o famoso pastelzinho de frango com um toque “curado”. O processo de “cura” ao qual ele é submetido lembra bastante aquele ao qual a carne de sol é feita. Por isso, o nome, “Frango de Sol”.

A cerveja de acompanhamento para as duas entradinhas foi a Opus 1, uma Belgian Pale Ale que lembrou bastante a famosa Leffe. Perfil frutado mediano, bem agradável, lembrando um pouco de frutas cristalizadas. Dulçor acentuado e alta refrescância para acompanhar a leveza das entradas servidas.

Chicken Lollipops com a Encarnada

Para fechar a seção das “entradas”, foram servidas coxinhas de frango no estilo Chicken Lollipops, as quais emulam o formato de um pirulito (Lollipop, em inglês).

Elas são igualmente defumadas e finalizadas com o molho Barbecue artesanal do próprio Tio Jorge, que, além de uma leve defumação, também tem um ligeiro toque de pimenta.

Para acompanhar as coxinhas no molho Barbecue, foi servida a Encarnada, uma Red Sour com adição de carvalho. É uma Sour bem suave, de entrada também, que com sua leve acidez combinou bastante com as duas entradas ofertadas. O carvalho é bem ameno também e apenas confere uma singela complexidade ao conjunto.

Entremeios: Costela Suína (Pork Ribs) e Linguiças Defumadas combinando com NEIPA V

Após as entradas, foram servidas duas especialidades da casa, ainda na modalidade de aperitivos: a costela suína e linguiças defumadas.

A costela suína não é temperada ou salgada como temos o costume de comer aqui no Brasil. Seguindo o estilo Tex-Mex pelo qual o Tio Jorge se orienta, a costela é apenas feita na defumação por 4 horas, junto com o molho Barbecue, o que lhe confere um peculiar sabor mais “adocicado” por assim dizer, já que não há nenhum tipo de salga.

Complementa-se muito bem com o seu molho Barbecue, conferindo um bom casamento com o dulçor da carne com o fenólico-adocicado do molho.

As linguiças são de duas variedades, calabresa e toscana, e passam pelo mesmo método de defumação que dura 3 horas. A calabresa, um pouco mais apimentada, adquire muitas notas da tosta da madeira e vai muito bem com o molho de alcaparras apimentado ou com o picles da casa, também produzidos artesanalmente por Tio Jorge.

A linguiça toscana, um pouco mais salgada e mais intensa em sabores, pede um pouco mais de potência na combinação cervejeira: NEIPA V, a Hazy IPA da Armorial.

Bem frutada, turva e com um corpo bem alto, a NEIPA V vai muito bem com os entremeios servidos e com sua maior graduação de intensidade de sabores e de gordura também.

Os pratos principais do Brazilian BBQ: A isca de língua com vinagrete, O cupim defumado com Coleslaw e o Brisket

Chama-se Brazilian BBQ porque os pratos servidos misturam técnicas produção e preparação tanto americanas quanto brasileiras. Isso se torna ainda mais evidente nos pratos principais. Não é bem um “churrasco” à moda gaúcha, mas também não é um festival às margens do Rio Hudson admirando a estátua que o véio da Havan tenta imitar…

O primeiro dos pratos principais é a isca de língua bovina. Acompanhada de vinagrete feita com vinagre de maçã verde e azeite defumado. Pode-se dizer que o prato é “a entrada dos principais”, já que casa muito bem a acidez do vinagrete com a cremosidade da língua, complementado com a complexidade do azeite igualmente defumado.

Sequencialmente, vem o cupim é um corte genuinamente brasileiro, já que apenas é feito no gado zebuíno. Sua textura fica bem mais amaciada após a defumação e seu perfil fibroso retém bastante notas amadeiradas. Ele é acompanhado da legítima salada americana para churrascos: o Coleslaw.

A base do Coleslaw é feita de repolho, geralmente complementada com cenoura e um leve toque cítrico de suco de limão. Acompanha muito bem tanto o cupim quanto o prato subsequente: o Brisket.

Talvez não haja nada mais texano, em termos culinários, que o Brisket!

Logo em sequência, vem o Brisket. Trata-se do peito bovino e ele é certamente o corte mais festejado do BBQ. Depois de horas e horas de maturação e defumação, ele fica bastante macio (ao contrário do que se pode esperar de um corte secundário) e encontra espaço para brilhar ao lado de mais uma NEIPA N.

A NEIPA N é a outra Hazy IPA da casa. Feita com a mesma receita da NEIPA V, mudando apenas a levedura utilizada. O resultado é impactante: muito mais frutada, mais cítrica e com um corpo mais leve, o que lhe confere ainda mais drinkability!

Saideira

Sergio Vilar (editor do blog) e Lauro Ericksen (colunista)

Ter o prazer de degustar a experiência do autêntico Brazilian BBQ é algo ímpar. Uma viagem sensorial complementada por excelente comidas e belas cervejas.

O menu da degustação para convidados não é exatamente o mesmo que será servido no evento do dia 07/06/22 (algumas alterações serão feitas), o qual será complementado por uma sobremesa, o chocolate frito!

A combinação entre os pratos defumados e as respectivas cervejas é o foco da experiência. Quem gosta de carnes, churrasco e defumados em geral, e, principalmente, cervejas, não pode deixar de conferir esse evento!

Fica a dica!

Recomendação Musical

Levando-se em conta que tanto gastronomicamente, quanto “cervejeiramente”, o evento prima pela autenticidade e por raízes brasileiras e nordestinas, a recomendação musical de hoje não poderia ser outra que não uma música do movimento que dá nome à cervejaria: Armorial.

Lançado em outubro de 1970, o Armorial foi um movimento que englobou diversas formas de arte. Idealizado por Ariano Suassuna e integrado por intelectuais e artistas do Nordeste do Brasil, ele buscava criar uma arte (erudita) com autenticidade brasileira a partir de elementos populares.

A sugestão musical fica para a canção: Madeira que o Cupim não Rói. Escrita por Antônio Nóbrega e executada no vídeo em parceira com Ariano Suassuna! Dois ícones do movimento Armorial.

A faixa indicada acaba sendo um duplo trocadilho com a madeira da defumação utilizada no BBQ, e com o corte utilizado, o cupim. Madeira que cupim não rói defuma nossas carnes!

Saúde e boas degustações defumadas!

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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