Doces ou travessuras no halloween cervejeiro?

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Cumprimentos, cervejeiros!

Hoje, no dia de todos os santos, em sucedâneo ao Halloween, recobrando o espírito desse dia tão especial, vamos de doces ou de travessuras?

Traduzindo essa expressão do Halloween para o universo cervejeiro, podemos dizer: vamos de Pastry ou de algum estilo mais inusitado? A propósito, o que seria exatamente uma “travessura cervejeira”?

Talvez o próprio termo “travessura” não seja exatamente a melhor tradução para o original em inglês “trick” (a expressão completa é “Trick or Treat?” – doce ou travessura). Uma tradução mais apropriada seria “truque”, ainda mais levando-se o contexto trazido comparativamente. É mais fácil uma cerveja ter um “truque” propriamente dito, que uma expressão “travessa”, certamente.

Assim, pondo os termos em contextos, é mais fácil trazer a devida reflexão tendo como pano de fundo a temática do Halloween.

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Pumpkin Ale: uma travessura ultrapassada

Ao se falar de Halloween, assim como da maioria das datas comemorativas ao longo do ano, é bom rememorar que ela possui um estilo cervejeiro próprio: o Pumpkin Ale (também conhecido como Yam Beer). Sobre o estilo em apreço, não vou tecer considerações conceituais propriamente ditas no texto de hoje, contudo, tais descrições podem ser consultadas nesse outro texto AQUI.

O ponto central que intento trazer hoje é focado no atual desinteresse pelo estilo. Certamente que, culturalmente, não temos o costume no Brasil de comemorar tão intensamente a data do Halloween, com pratos culinários específicos ou festas para esse dia. Nos Estados Unidos, por outro lado, esse perfil cultural é muito mais prevalente que aqui, e no entanto, o desinteresse pela Pumpkin Ale é crescente.

Tanto quanto a Red Ale (outro estilo em forte desuso nas terras do Tio Sam), a Pumpkin Ale, atualmente, parece relegada a chauvinistas cervejeiros um tanto quanto deslocados. É um estilo com pouco ou quase nenhum interesse, tanto que muitas cervejarias tradicionais que o costumavam fazer, sazonalmente, acabaram desistindo de brassá-lo.

Particularmente, eu acho uma pena que o estilo oficial das festas de Halloween esteja em franca decadência. Tudo bem que ele nunca foi exatamente tradicional aqui no Brasil, e, de fato, poucas cervejarias costumam se arriscar a fazê-lo. Contudo, esse ano, parece que a oferta de Pumpkin Ale foi menor ainda (do que já era), tornando o estilo deveras escasso e praticamente obsoleto e ultrapassado.

Uma lástima.

Travessura (ou truque?) cervejeiro recente: a famigerada Dark Sour

Quando uma brasagem cervejeira dá errado são pouquíssimas as cervejarias que possuem a hombridade de descartar a produção jogando tudo pelo ralo. Por mais simples e correto que isso pareça aos olhos de qualquer ser humano minimamente decente, na atualidade, as cervejarias estão preferindo transformar esses lotes perdidos em “Dark Sour”.

É um truque das cervejarias para não terem prejuízo, e uma travessura inenarrável (para não se utilizar de outro termo que demonstre um menor pudor ético) com o consumidor. Dark Sour é simplesmente uma invenção para vender cerveja que deu errado em algum ponto do processo produtivo.

A rigor, Dark Sour sequer existe (como um estilo cervejeiro de manual). Esse estilo não existe (com esse nome, nem exatamente com os mesmos descritivos sensoriais) nem no Brewers Association tampouco no BJCP. Os dois principais guias de estilos de cervejas que existem na atualidade.

Quando se fala de BJCP, a Dark Sour pode ser vagamente encaixada no estilo 28B: “Mixed-Fermentation Sour Beer”, que, na verdade, é nada além de uma versão ácida ou “funky” de um estilo base. É meio que uma definição guarda-chuva para agregar estilos variados de bases variadas, que, no final das contas, não diz muito sobre o produto final.

Inobstante, o ponto fulcral é que as cervejarias simplesmente costumam lançar como Dark Sour qualquer cerveja que deu errado, e ela nem precisa ser tão escura assim (muito embora, na maioria das vezes, é uma Stout que deu errado mesmo). É muito mais conveniente alterar a descrição no rótulo (dizendo que houve uma fermentação primária com uma levedura que acidifique, como Lactobacillus ou Pediococus), do que admitir que algo deu muito errado durante a produção e que aquele lote deveria ter como destino o ralo.

Deixo o meus parabéns para as cervejarias que, ainda hoje, são capazes de admitir os próprios erros e descartam sumariamente cervejas que não se encaixam no padrão de qualidade exigido, ao invés de automaticamente, em nome do lucro a qualquer custo, transformá-las em “Dark Sour”.

Isso sim, é um truque cervejeiro barato!

Adoçando uma travessura cervejeira!

O fenômeno da “pastryficação” cervejeira veio para ficar. Para conhecer mais sobre esse termo do mundo artesanal, clique AQUI.

Dos vários estilos que já sofreram o fenômeno da pastryficação, confesso que um dos que achei mais interessante foi a fusão das Pastries RIS com Pumpkin Ale. Outrossim, adicionar os tradicionais elementos condimentados da Pumpkin Ale, como gengibre, noz-moscada, cardamomo, cravo, canela dentre outros com o doce de abóbora em uma base de Russian Imperial Stout, possivelmente com mais adjuntos, como chocolate e café.

Esse é o tipo de junção capaz de reavivar a memória de quem gosta da Pumpkin Ale (que infelizmente está em decadência, como explanei na primeira seção do texto) e também dar uma lufada de criatividade nas Pastries RIS já meio combalidas, sempre tão dependentes de adições cavalares de xarope Maple e Avelã na maioria das vezes.

A infinidade de condimentos, com o dulçor próprio da abóbora em conjunto com notas mais torradas e também bem doces das Pastries RIS formam um belo conjunto cervejeiro. É o tipo de combinação que nem toda pastryficação é indevida, ela só precisa ser bem colocada, bem dosada e bem pensada para fazer sentido. Para que ela sirva de combustível para a criatividade, e não para a florear estilos clássicos já consolidados.

Quando a “pastryficação” vem como um revival ela faz todo o sentido, do ponto de vista de preservação da cultura cervejeira, como no caso em apreço.

Saideira

Qual você prefere?

Doces ou travessuras?!

Na dúvida, quem sabe os dois… afinal, o universo cervejeiro é capaz de oferecer múltiplas opções. Apesar de a tradição das festas de Halloween seguirem fortes na metade de cima das Américas, o prelúdio do dia de todos os santos ainda não é a coqueluche nas terras de Pindorama. Algo que segue um pouco a tendência da Pumpkin Ale, um estilo em franca decadência, tanto aqui quanto lá.

No que tange às travessuras, há coisa mais traquina que empurrar uma Dark Sour no mercado? Como se essa fosse a intenção original? Quando todos sabemos que foi apenas um erro de produção e que Dark Sour, de fato, inexiste? Realmente é cada travessura que tentam nos colocar, e olhe que na maioria das vezes nem é dia das bruxas ainda…

Por fim, há pastryficações que vem para o bem, que é o caso de quando fundem uma Pastry RIS com uma Pumpkin Ale, serve como revival, ao mesmo tempo que dá uma modernizada no perfil Pastry de algumas cervejas, portanto, uma bela tentativa cervejeira!

Recomendação Musical

Em clima de Halloween, a música recomendada é homônima à data (foi ontem, mas deem o desconto)!

Vamos de Halloween, da banda ícone do Horror Punk, do inigualável Misfits!

Saúde!

 

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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1 Comment

  • GUSTAVO GUEDES DA FONSECA

    Concordo! eu acho que Pumpkin ale nunca foi um estilo muito explorado no Brasil. Uma pena, pois eu entendo que tenha algum potencial e também para fugir da mesmice de IPAs da vida. Tem um outro estilo “carrot ale’ que nunca vi nada no BR. a Dude já lançou RIS com beterraba, mas cerveja com cenoura nunca vi por aqui… abs

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