GRM – um som bluseiro na Natal dos anos 90

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Não éramos nada modernos nos anos 90. Eu particularmente sonhava com os riffs de guitarra de Richie Blackmore, e com as levadas do baixo de Paul McCartney. Éramos mesmo vintage naquela última década do século 20. Mas um novo som pairava na noite natalense e vigiava o filho como um pai cuidadoso. Era o blues que trazia o “roll“ de volta para o rock e fugia daquela batida new wave renitente que encharcou os ouvidos dos anos 80.

Levantei as mãos aos céus quando encontrei o Florbela Espanca e depois o GRM Blues e fui lá tocar meu baixo Giannini. E foi nesta segunda banda com nome de sigla que encontrei o “G” de Gilmar Santos e o “R” de Ricardo Silva. Eu era o “M”.

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Blackout, Ribeira. 1997.

Formamos um trio blues-rock sólido, um tripé de meia cancha calcado nos mantras de Muddy Waters, Howlin Wolf, T Bone Walker, Albert King, Stevie Ray Vaughan, com pitadas de Beatles e o cheiro maldito dos Stones.

Naqueles dias somente outras duas bandas ousavam a tocar blues autêntico: os técnicos e refinados Mad Dogs (que graças estão aí até hoje) e os modernos e suingados Sangue Blues. O GRM era marginal e periférico, mas um patinho feio com moral. A força do nosso som se impunha e abria espaço a golpes de guitarradas.

Fizemos noitadas longas e eletrificadas naquela Ribeira de Paulo Ubarana com direito a festas e outros buracos menos memoráveis, incluindo a linda e triste Zona Sul. Foi tudo muito divertido em viagens variadas com direito a cigarros e garrafas enfumaçadas.

Mãe Luiza se tornou o forno de nossas canções, boa parte autoral,  alimentando uma caldeira criativa, propulsionada pela guitarra de Ricardo e a bateria de Gilmar “Ratinho”. Era naquele bairro rejeitado pelos natalenses que ensaiávamos e progredíamos o nosso blues.

Lá compomos “I Got Guitar”, “And my Soul Broken Down” e “The Blues is Killing me”, entre outras. Guitarra, baixo e bateria nos bastava nessa pouca santa trindade.

Em 95 nos metemos na loucura de um estúdio improvisado na 96 FM (quem diria!!), uma rádio que nunca tocou blues na programação, gravou um petardo digno do Mississipi, ou melhor do Potengi.

Emergimos dali com nove peças, legado de um tempo que a cidade respirava um som blueseiro feito com alma para a mãe Luiza embalada no blues. E eis aqui o legado 27 anos depois de três elementos que ajudaram a (re) fundar o blues feito no RN.


FOTO DE CAPA: Crédito: Moraes Neto. Feira dos Sebos, na Praça André de Albuquerque, 1995.

Moisés de Lima

Moisés de Lima

Músico e jornalista. Praticante das coisas búdicas. Amante do blues e da democracia, mas atualmente confinado em nome da vida.

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2 Comments

  • Moisés de Lima
    Moises De Lima

    Caro, The Boss! Todo esforço deste texto é para relembrar nossa aventura de formar o GRM naqueles dias e a atmosfera noventista que nos envolvia! Deixo à sua memória e competência o prazer de reparar a minha omissão sobre a contribuição dada pela Solaris à nossa banda, e principalmente ao rock potiguar! Nossos eternos agradecimentos!

  • The Boss

    Boa, Moisés! Mas não esqueça de lembrar todo o esforço feito para remasterizar o material original e lançar a versão física do CD em hoje lendárias 100 cópias, fato ocorrido no começo dos anos 2000 através da finada (e que fique lá!) Solaris Discos. Lembro que Ricardo “the blue hand” Silva não queria o disco com a versão 2 do blues rock “I got a guitar” e eu o convenci a colocar como última faixa pois era ótima a versão. Discaço top 10 do rock poti e blues brazuca!

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