Nascido e criado em cidade do interior, eu vim a conhecer o cinema quando já tinha uns dez anos de idade. Foi numa visita a Natal, em companhia dos meus pais, hospedado na casa do meu avô materno, em pleno centro do bairro do Alecrim. Bem perto ficava o Cine São Luiz (onde hoje se ergue uma agência do Banco do Brasil), e lá assisti, pela primeira vez a um filme. Era “Os Amores de Pandora”, com Ava Gardner e James Mason nos papéis principais.
Terminada a sessão, saí do cinema em estado de graça, se é que assim posso me expressar. Depois, muito depois, ficou-me na memória apenas uma cena do filme – aquela em que Ava Gardner, de pé, em meio a um amplo salão, ostenta a sua beleza exótica. Recentemente, pude rever, em DVD, esse filme, que é de primeira qualidade (Diretor: Albert Lewin). Comecei bem.
Anos após, já morando em Natal, não perdia as matinês do Rex e do Rio Grande. O cinema me fascinava. Virei um cinéfilo inveterado: colecionava as revistas “Cinelândia”, “Filmelândia” e as figurinhas do álbum “Ídolos da Tela”. Sabia de cor os nomes de quase todos os astros e estrelas de Hollywood. Dentre os mais famosos, Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Katharine Hepburn, James Stewart, Audrey Hepburn, Marlon Brando – insuperáveis tanto no drama quanto no romance; Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Ava Gardner, Elizabeth Taylor, Sophia Loren, deusas, símbolos sexuais; os galãs Clark Gable, Cary Grant, Tyrone Power, e, nos musicais, Fred Astaire, Gene Kelly, Cyd Charisse, Judy Garland e Frank Sinatra, este, também grande no drama e na comédia. Quem, hoje em dia, lembra-se deles?
Por volta de 1955, se não me engano, o Cine Rio Grande passou a exibir filmes em cinemascope, com som estereofônico, uma novidade sensacional; a tela enorme parecia levar o espectador para dentro dela. Foi um alumbramento. Tenho bem viva na memória a emoção que senti ao assistir ao primeiro filme em cinemascope – “O Manto Sagrado”, de Henry Koster, com Richard Burton e Jean Simmons.
Filas intermináveis se faziam diante do cinema. Sucederam-se outros sucessos de público: “Como Agarrar Um Milionário”, comédia romântica, de Jean Negulescu, com Marilyn Monroe, Lauren Bacall, Betty Grable; “Suplício de uma Saudade” de Henry King, com Jennifer Jones e William Holden, melodrama que fez ensopar de lágrimas muito lenço.
Era o tempo das chanchadas, toscas imitações dos musicais de Hollywood, com tempero carioca. Oscarito e Grande Otelo, dupla hilária, contracenavam com o indefectível par romântico, Eliana e Cyll Farney.
Inaugurado ainda na década de 1950, o Cine Nordeste, bem mais confortável que os demais cinemas existentes na cidade, com a novidade do ar condicionado, tornou-se o templo dos cinéfilos mais fervorosos, entre os quais eu me incluía, embora sem alardear essa qualidade. Não fiz parte do Cine-Clube Tirol, porque as sessões, ali, realizavam-se nas manhãs dos domingos, quando a prioridade para mim era a praia.
Nunca curti os cineastas então em moda, idolatrados por uma parcela da jovem intelectualidade natalense: Godard, Antonioni, Ingmar Bergman… Inovadores, herméticos. Mas, gostava imensamente, como ainda gosto, de outros mestres menos sofisticados: Billy Wilder, Hitchcock, Fellini (da primeira fase, especialmente), John Ford.
Passados 50 e poucos anos, continuo fã do cinema, só que prefiro curtir DVD, numa TV de 42 polegadas, com a sua telona, que me restitui um pouco da magia dos cinemas. A partir de 1982, habituei-me a anotar, num caderno, os títulos dos filmes vistos por mim, quase todos em video-cassete, a princípio, e DVD, especificando, de cada um, o diretor e o elenco.
Dia desses, revendo a relação, selecionei nada menos de 120 filmes, e, dentre estes, escolhi os melhores. Ai vão eles – memoráveis clássicos -, discriminados por gêneros.
Creio que a lista poderá servir como roteiro para quem desejar conhecer mais um pouco e curtir a chamada sétima arte.
AÇÃO E AVENTURA:
– O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston, com Humphrey Bogart, Walter Huston
– O Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot, com Yves Montand, Charles Vanel.
DRAMA:
– Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, com Gloria Swanson, William Holden.
– O Que Terá Acontecido a Baby Jane, de Robert Aldrich, com Joan Crawford e Bette Davis.
– Ladrão de Bicicletas, de Vittorio de Sica, com Lamberto Maggiorani, Enzo Staiola,
– As Noites de Cabiria, de Federico Fellini, com Giulietta Masina, François Perier.
– Fedora, de Billy Wilder, com Marthe Keller, William Holden.
COMÉDIA:
– Tempos Modernos, de Charles Chaplin, com Chaplin, Paulette Goddard.
– Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder, com Marilyn Monroe, Jack Lemmon, Tony Curtis.
– Meia Noite em Paris, de Woody Allen, com Adrien Brody, Kathy Bates Carla Brunni.
MUSICAL:
– Cantando na Chuva, de Stanley Donen/Gene Kelly, com Gene Kelly, Debbie Reynolds.
– Sinfonia em Paris, de Vincente Minnelli, com Gene Kelly, Leslie Caron.
– A Roda da Fortuna, de Vincente Minnelli, com Fred Astaire, Cyd Charisse
– Hair, de Milos Forman, com John Savage, Treat Williams, Beverly D’Angelo.
SUSPENSE:
– Pacto Sinistro, de Alfred Hitchcock, com Farley Granger, Robert Walker.
– M, O Vampiro de Dusseldorf, de Fritz Lang, com Peter Lorre.
– Intriga Internacional, de Alfred Hitchcock, com Cary Grant, Eva Marie Saeint, James Mason.
– Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock, com James Stewart, Kim Novak.
– Rififi, de Jules Dassin, com Jean Servais, Magali Noel.
ÉPICO:
– Spartacus, de Stanley Kubrick, com Kirk Douglas, Laurence Olivier.
– Lawrence da Arábia, de David Lean, com Peter O‘Toole, Anthony Quinn.
FAROESTE:
– Os Brutos Também Amam, de George Stevens, com Alan Ladd, Jean Arthur.
– Paixão dos Fortes, de John Ford, com Henry Fonda, Linda Darnell.
ROMANCE:
– Casablanca, de Michael Curtiz, com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman.
– E o Vento Levou, de Victor Fleming (co-diretor George Cukor), com Clark Gable, Vivien Leigh,
GUERRA:
– Glória Feita de Sangue, de Stanley Kubrick, com Kirk Douglas, Ralph Meker.
– Inferno nº 17, de Billy Wilder, com William Holden, Don Taylor.
FILM-NOIR:
– Pacto de Sangue, de Billy Wilder, com Barbara Stanwick, Fred Mac Murray.
– O Falcão Maltês, de John Huston, com Humphrey Bogart, Mary Astor.
– A Vida por um Fio, de Anatole Litvak, com Barbara Stanwick, Burt Lancaster.
MEMORIAIS:
– Amarcord, de Federico Fellini, com Bruno Zanin, Magali Noel.
– Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore, com Philippe Noiret, Jacques Perrin.
DE INTERESSE JURÍDICO:
– Testemunha de Acusação, de Billy Wilder, com Tyrone Power, Charles Laughton, Marlene Dietrich.
– Doze Homens e uma Sentença, de Sidney Lumet, com Henry Fonda, Lee J. Cob.
BRASILEIROS:
– Central do Brasil, de Walter Salles, com Fernanda Montenegro, Marília Pera.
– Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, com Atila Iório, Maria Ribeiro.
– Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco, com Fernando Ramos da Silva, Marília Pera.
Desta lista, quais os melhores filmes? Atrevo-me a selecionar os seguintes
TEMPOS MODERNOS.
– Uma sátira à modernidade, último filme mudo do criador de Carlitos. Literalmente genial.
CREPÚSCULO DOS DEUSES.
-Sem dúvidas, o melhor filme que já se fez sobre o mundo do cinema, ou melhor, sobre Hollywood. Drama com profundo sentido humano. Dois dos atores principais – Gloria Swanson e Erich von Strohein – desempenham papéis que representam, de certo modo, o que eles eram na vida real, como atriz e diretor/ator, respectivamente.
UM CORPO QUE CAI.
-Dos filmes de Hitchcock é difícil dizer qual o melhor. São obras-primas, com o toque de suspense e humor, que só o mestre soube dar. Mas, este é o mais famoso.
CANTANDO NA CHUVA.
-Musical antológico, cuja temática remete ao advento do cinema falado. Coreografias que ficaram na história. Gene Kelly, co-diretor e ator, na cena em que dança com um guarda-chuva, atinge o ponto mais alto de sua carreira.
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR.
-Excelente realizador de filmes dramáticos, o diretor Billy Wilder mostra sua versatilidade nesta comédia, considerada pelo American Film Institute a melhor de todos os tempos. Marilyn Monroe, inigualável.