O conteúdo de uma oficina intitulada ‘Mulheres, Corpo & Resistência na Literatura’ me chamou atenção. Acontecerá em Sampa, mas poderia ser em qualquer lugar do mundo. Isso porque a mulher foi escanteada durante praticamente toda a história da literatura. E quando surgiu, veio associada à fragilidade do amor. De umas décadas pra cá é que a literatura erótica, as dores e questionamentos escancaram um silêncio secular das escritoras.
Acho o tema muito propício e oportuno à discussão. Temos um Insurgências Poéticas, atividades no Sesc relacionadas ao tema, teremos em breve o FliPaut em Pipa, a Feira Literária no Beco e outros projetos culturais, ou movimentos como o Leia Mulheres, em Natal e o Mulherio das Letras, em Nísia Floresta, que poderiam adotar a temática sob diferentes ângulos.
Faz três anos fui convidado pelo Sesc para mediar uma mesa no Flipipa com duas escritoras, Marta Barcellos e Sheyla Smanioto, vencedoras daquele ano do Prêmio Sesc de Literatura, nas áreas de contos e romance, respectivamente. E procurei direcionar o papo para essa vertente, que fundamentalmente era: “Existe literatura feminina?”.
Literatura feminina ou de mulheres?
Se existe, o que exatamente ela é? A literatura ou mesmo a arte em geral pode ser dividida por gêneros? Mulheres conseguem escrever melhor sobre mulheres? Se não existe literatura feminina, existe literatura para mulheres e a respeito de mulheres? Há AINDA preconceito com a literatura por mulheres? Literatura feminina seria militância?
Clarice Lispector disse: “Quando escrevo, não sou homem nem mulher. Sou homem e mulher”. Também acredito em literatura sem divisão de gênero, mesmo sendo construída a partir de experiências pessoais e, claro, a vivência de uma mulher é sim diferente: dificuldades no campo do trabalho, no lar, no preconceito sofrido, enfim, no Ser Mulher.
Tudo é literatura (?)
Mas um homem não pode descrever, tão bem quanto uma mulher, sobre a dor do parto ou sobre machismos, por exemplo? O problema é que homens não escrevem sobre isso. Cabem às mulheres ocupar essa lacuna e ampliar o discurso. Não basta bradar “tudo é literatura”. Então, se não há literatura feminina, que haja literatura de mulheres. E não de mulheres para mulheres, mas para todos.
Em suma, que não haja literatura feminina, ideológica, militante. De certo atrairia pouco leitor, principalmente masculino – que mais deveria ler. Mas que tenhamos um movimento, um engajamento nesse protagonismo das mulheres nas letras. E aqui em nosso RN, como já citado, há espaço e projetos para isso. Vamos começar?
Já segue o instagram do Papo Cultura?