O que há nas escrituras negras?

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A coletânea “Escrituras Negras II_ As Marcas” é organizada pela escritora Jeovânia P., e traz consigo um recorte de gênero e etnia. Visto que o projeto é todo voltado para a produção intelectual da mulher negra, a saber, desde a idealização, organização, capa, homenageada, textos, tudo é produzido por pretas.

Uma das marcas que as coletâneas produzidas por Jeovânia P. têm é que a capa de todas as obras são baseadas em obras plásticas de mulheres. No caso, as Escrituras Negras, as artistas plásticas são sempre afro-brasileiras. Esse volume II traz na capa o quadro de Vânia de Farias Castro, e homenageia Maria Firmina dos Reis.

Outro aspecto relevante a se pensar, é que a obra contém em si três gêneros literários: contos, crônicas e poesias. Portanto, traz a diversidade na linguagem e nas formas.

As mulheres que estão na obra vêm das mais variadas partes do país e fora dele. São 31 autoras vindas do nordeste, sudeste, sul, centro-oeste, Portugal e Alemanha. Ainda se unem a estas a homenageada, Maria Firmina dos Reis, a escritora que produziu o poema sobre a homenageada, Selma Maria da Silva, e a prefaciadora, Elisabete Nascimento.

Logo, há mais que a multiplicidade de gêneros literários, há uma pluralidade de olhares e experiências que são oriundas das próprias culturas que cada uma dessas mulheres estão inseridas. Por isso, quando elas refletem e produzem literariamente sobre ‘as marcas’ que o mundo imprime nelas, elas apresentam marcas de diferentes perspectivas: sociais, físicas, psicológicas, ancestrais.

Ao mesmo tempo, proporcionam a identificação de outras mulheres negras com as suas escritas, como quem fala de uma multidão inteira.

Elisabete Nascimento, no prefácio, diz:

escrituras negras“O livro Escrituras Negras II atravessou a minha alma, cortando-a, afetando-a, paradoxalmente, com dores e alegrias. As autoras, num ousado ato político, ao escrevê-las como escrita de si e /ou de vozes de mulheres negras, também inscrevem suas narrativas e poemas num corpus literário brasileiro mais complexo. Neste sentido, os corpos negros femininos são, de fato, um campo de luta contra as violências físicas e simbólicas impostas historicamente às mulheres negras. Esta obra nos inspira a um debate político e poético sobre o corpo da mulher negra no enfrentamento com o corpus literário, cujas matrizes e cânones hegemônicos prescrevem o corpo negro feminino como tema/objeto da narrativa e da pesquisa, mas não como sujeito.

Na contramão, vozes e autorias fecundam e vão parindo insubordinações e um corpus literário com suas marcas e subjetividades. Nele, se inserem como escrevivências, interpelando a tradição literária brasileira que relegou a estes corpos à invisibilidade e à subalternidade. Assim sendo, as Escrituras Negras denunciam o corpus político estereotipado, invisibilizado e silenciado, contra os quais vozes e autorias se insubordinam.”

Portanto, convidamos a todos a conhecerem não apenas esta obra “Escrituras Negras II_ As Marcas”, como também a escrita das mulheres negras, a potência que há na literatura das nossas pretas.


ILUSTRAÇÃO: Tamara Natalie Madden

Redação

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