Escritores mossoroenses (parte 1) – Edna Duarte

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Por Manoel Onofre Jr

Vida e obra de Edna Duarte têm como refrão a busca da liberdade existencial. Contista e cronista de primeira linha, Edna viveu, durante longos anos, sob o jugo de duas pessoas dominadoras: a mãe e o primeiro marido. Ela me confessou isto ressalvando que essa tirania se fez, sempre, em nome do Amor. A sua constante ânsia de libertação, tanto pode estar em um conto seu, como, por exemplo A Parede (integrante da antologia Contistas Potiguares) quanto num ato pour epater le bourgeois.

Edna Duarte Dantas nasceu em Mossoró (RN), no dia 16 de setembro de 1939. Seus pais, o comerciante Amâncio Dantas e D. Bernardina de Carvalho Dantas (Zenah Duarte), da sociedade mossoroense. Infância sofrida (até aos 14 anos era quase cega e usava botas ortopédicas), sob os cuidados da avó Alcídia, mãe de criação. Menina extrovertida, comunicativa, exuberante, driblava a doença como podia. Adorava a sua escola – o Ginásio Sagrado Coração de Maria – onde fez o Primário e o Ginasial, boa parte em regime de internato. Aluna nota 10.

O mal literário acometeu-a cedo. Com 11 anos escrevia crônicas para O Mossoroense, principal jornal da cidade. Jaime Hipólito Dantas, já então um dos grandes da imprensa mossoroense, dava-lhe conselhos, estimulando-a.

Em 1959, Edna foi continuar seus estudos em Fortaleza, interna no Colégio Imaculada Conceição. Aí – fato significativo – descobriu-se amante do canto. Fez parte do coral do seu Colégio e, durante dois anos, estudou no Conservatório de Fortaleza. Retornando a Mossoró (por determinação da mãe, que queria afastá-la de um namorado cearense), concluiu o curso Cientifico no Colégio Diocesano Santa Luzia.

O ano de 1960 veio pleno de alegrias. Primeiro lugar no Vestibular da Faculdade de Direito de Natal! E conheceu o jovem Laércio Varela Cavalcanti. “Foi amor à primeira vista” – disse-me Edna. Três meses depois estavam casados. Tiveram um filho – Appius Claudius. Mas… “Tristeza não tem fim/Felicidade sim” – já disse Vinicius de Morais. Veio a separação, e Edna, tendo dispensado a pensão alimentícia, teve que dar duro para ganhar o pão de cada dia. Formada em Direito, há mais de dez anos, não seguiu a carreira jurídica (teve breve experiência como Adjunto de Promotor da Comarca de São Paulo do Potengi (RN) – 1962/63); preferiu o Magistério – professora de português num cursinho pré-vestibular e no Colégio Pré-Universitário, de Natal.

Nessa época, em que, também, exerceu as funções de Secretária da direção do Diário de Natal, escreveu, numa semana, o seu primeiro livro – Sete Degraus do Absurdo. Esta obra (Menção Honrosa do Prêmio Câmara Cascudo/1974), publicada pela Fundação José Augusto, em 1982, compõe-se de seis contos – narrativas de grande simplicidade, em torno da eterna comédia humana. Do prefácio de Franco Jasiello pinço as seguintes palavras: “Sete Degraus do Absurdo revela-se, acima de tudo, obra catártica e ritualista. O título sugere uma liturgia do impossível e nos contos há a realização de um sacerdócio atormentado e atormentador”. Em 1976, Edna passou a integrar o quadro funcional da Fundação José Augusto, no cargo de Coordenadora de Patrimônio.

Animada com a boa acolhida ao seu livro de estreia, dispôs-se a publicar uma nova coletânea de contos, sob o título Serpentário, lançada em 1982 (Natal: Fundação José Augusto). Continua nesta obra a sua preocupação com o estudo dos caracteres humanos, mas acrescenta novos elementos: erotismo, problemas existenciais da mulher, homossexualismo e algumas doses de kitsch. Tudo numa prosa enxuta e limpa.

Em 1984 publicou Calungagens de Papel (Natal: Fundação José Augusto), reunião de crônicas, que lhe valeu o Prêmio Câmara Cascudo/1983. Outros títulos constantes de sua bibliografia: Liquidação Final (Natal: Editora Clima, 1986) e Signos da Solidão (Mossoró: Coleção Mossoroense, 1990), livros de contos, em que se mantém no mesmo nível qualitativo dos anteriores; Jerônimo Rosado (Mossoró: Coleção Mossoroense, 1990), discurso de posse na cadeira nº 9, da Academia Mossoroense de Letras; Medalha do Mérito Nísia Floresta 1991 (Mossoró: Coleção Mossoroense, 1991 – plaquete), proposta de três nomes de mulheres ilustres do Rio Grande do Norte, para outorga da Medalha do Mérito Nísia Floresta; A Barca de Cristal, poesias (São Paulo: Editora do Escritor, 1995). Participação da autora em obras coletivas: Nossa Cidade Natal (Natal: Edição da Prefeitura Municipal de Natal, 1984); e Grande Ponto (Natal: Editora Universitária – UFRN, 1981); Literatura do Rio Grande do Norte (Constância Lima Duarte e Diva Maria Cunha Pereira de Macedo – org. – 2ª ed. – Natal: Governo do Estado do RN, 2001).

Uniu-se em segundas núpcias com Eudes Teixeira da Silva. A cerimônia de casamento realizou-se na Penitenciária Dr. João Chaves (Natal), onde o companheiro achava-se cumprindo pena, em regime fechado. Essa união durou pouco. Vivente de Natal, há longos anos, Edna Duarte divide-se entre a Literatura e o Canto Orfeônico, a que se dedica como amadora.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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