Poeta, escritor e jornalista, José de Paiva Rebouças é uma das boas revelações da literatura produzida no Rio Grande do Norte neste início de século. Natural de Mossoró, criou-se em Apodi, terra de sua família, onde tem fincadas suas raízes e sempre admite com muito orgulho ser apodiense.
Ainda jovem trabalhou em Rádios, onde chegou ao posto de Diretor de Programação, e em Jornais locais, como Colunista, e Assessor de imprensa, sempre atuando como um homem da comunicação, seja como repórter, ou em área correlata, como por exemplo, revisor e cronista.
O interesse pelo jornalismo naturalmente o fez partir para maiores voos e em 2007 foi contratado pelo Jornal de Fato, em Mossoró, onde exerceu a função de repórter de caderno, escrevendo notícias da toda região Oeste; em seguida tornou-se chefe de redação do periódico. No exercício do jornalismo, também colaborou com outros veículos de comunicação como “O Mossoroense” e “Papangu”. Também é membro do coletivo independente Repórter de Rua, articulista no Jornal de Fato e organizador da Revista Cruviana.
É graduado em Jornalismo e Mestre em Educação pela UERN; e especialista em Comunicação Organizacional. José de Paiva Rebouças tem bastante experiência em assessoria de imprensa e eventos, campanhas políticas e planejamento estratégico de comunicação.
Além de jornalista, milita em diversas frentes, dentre elas, claro, a literatura. É autor de alguns livros entre os quais, “Da Amizade Sincera de um Urubu” (2014), “Catálogo Maçante das Coisas Comuns” (2015) e “Ópera Antiinstrumental ao Vazio Homérico da Cidade” (2015). Organizou também a coletânea de contos “Cruviana” (2013), que reúne escritores do Brasil, Argentina e Portugal e edita a revista virtual literária com o mesmo nome.
Livros
Seu livro de estreia, “Da Amizade Sincera de um Urubu”, é uma reunião de crônicas semanais, que o autor publicava na coluna “Balada do impostor” (uma referência ao livro de Geraldo Carneiro) no Jornal de Fato. O livro foi lançado simbolicamente na Feira do Livro de 2014.
E sobre o título nos justificou o autor em entrevista: “A grande discussão junto a este público é com relação à crônica que dá nome ao livro: Da amizade sincera de um urubu. Este texto surgiu quando lancei o projeto virtual “Aspirinas & Urubus”, onde eu, o amigo Davi Moura e as meninas Regiane de Paiva, Arlete Mendes, Rokátia Kleânia e Eliana Klas, publicávamos uma crônica por dia. Então, esta foi a minha primeira crônica que também publiquei no jornal. Para fazer uma homenagem ao projeto virtual, construí a história de um menino que tem como bicho de estimação um urubu. Uma coisinha sentimental que fiz.”
Em “Catálogo Maçante das Coisas Comuns”, existe um evidente diálogo do autor com os personagens que povoam o seu livro: Antônio de Zé de Chico, um agricultor negro da Chapada do Apodi; o poeta cearense/potiguar Raimundo Leontino Filho e o artista plástico potiguar Anchieta Rolim.
Literatura e jornalismo
Jose de Paiva Rebouças venceu diversos concursos literários, como, por exemplo, “Concurso Américo de Oliveira Costa” (2014), promovido pela Editora da UFRN (EDUFRN), “XII Prêmio Literário da Livraria Asabeça” com o livro de poemas “Catálogo Maçante das Coisas Comuns”, e ganhou primeiro lugar no “Prêmio Rota Batida”, da Fundação Vingt-un Rosado, com o livro “Ópera Antiinstrumental ao Vazio Homérico da Cidade”.
Como assessor, prestou serviço às prefeituras de Martins e Jardim de Piranhas. Nos movimentos sociais e culturais, foi um dos fundadores do Fórum de Entidades Representativas da Sociedade Apodiense (FERSA), da Academia Apodiense de Letras (AAPOL) e da Academia Estudantil de Letras poeta Antônio Francisco (AEL).
Como palestrante tem integrado inúmeras mesas redondas e bate-papos sobre jornalismo e literatura, inclusive na Feira do Livro de Mossoró.
Com a reportagem “Filhos do Fogo”, que conta a dura rotina dos trabalhadores das caieiras no Rio Grande do Norte foi um dos finalistas nacionais do prêmio Ministério Público do Trabalho de Jornalismo (MPT). A matéria foi realizada em parceria com os jornalistas Esdras Marchezan e José Bezerra, a pedido do “Novo Jornal “, e concorreu com outros 400 trabalhos de todo o Brasil. Veículos como “Brasil de Fato”, de circulação nacional, reproduziram o trabalho que conta com detalhes a situação de centenas de trabalhadores da cal do RN, com grande destaque para a comunidade de Soledade, em Apodi.
Jotta Paiva como também é conhecido, tornou-se um exemplo de profissional da comunicação, com um enorme faro para a notícia. Dedicado a sua área de atuação, bastante interessado nas coisas da sua terra e da sua gente.
É colunista do site “Substantivo Plural”, e está incluso no livro, “Novos Contos Potiguares” (2017), do escritor mossoroense Thiago Jefferson Galdino e no livro de nossa autoria, “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos” Vol. 3. (2015), onde ele definiu bem o seu trabalho com a literatura em trechos como mostramos a seguir:
1- Quais foram as suas primeiras leituras literárias?
Confesso que nunca fui bom leitor, mas comecei a percorrer as páginas ainda na infância. Acontece que onde cresci, nós quase não tínhamos livros. No período de memória que me chega, me lembro de apenas dois livros: um didático que tinha a história de uma família que ia da cidade para o campo – que eu gostava muito por causa das imagens muito coloridas, e um de inglês – de um curso de inglês qualquer de antigamente, que tinha uma moça de óculos por quem me apaixonei, minha infância toda. Não era uma imagem real, era um desenho, ainda assim, eu a amava perdidamente.
Minha avó tinha ainda uma revista, daquelas sociais, sobre a vinda do papa João Paulo II ao Brasil. Gostava da imagem do avião e do sacerdote beijando o chão. Então essas foram minhas primeiras leituras. Entretanto, neste período eu vivenciei a teoria de Paulo Freire quando ele diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” e, talvez, esta leitura tenha sido a mais eficaz para o meu pensamento atual.
A partir disso, eu só começo a ler mesmo no ensino médio. Descobri a biblioteca da Escola Estadual Professor Antônio Dantas. O primeiro livro que li, não lembro quem é o autor, chamava-se Álbum de retratos. Eram crônicas do cotidiano de alguém. Li muita história em quadrinhos na casa de Dona Teresinha e seu Geraldo, lá em Natal, que são amigos da família, e folheei muita revista na casa de Estela, filha de seu Zé de Anastácio, que era uma figura muito conhecida em Apodi.
Depois, li alguns contos e embrenhei-me por alguns clássicos: Capitães de areia, de Jorge Amado, Hilda Furacão, de Roberto Drummond, O Velho e o Mar, de Hemingway, As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Diniz, entre tantos. Aí também conheci a poesia. Li tudo de Drummond, mas me apaixonei perdidamente pela obra de Manuel Bandeira. É dele que tiro todo o ensinamento poético.
Foi neste tempo também que fui descoberto em meu maior crime: o de roubar livros da biblioteca da escola. Eu montei minha biblioteca com os livros que ia lendo porque eu me apegava a eles com tamanho afinco que não conseguia devolvê-los. Mas aí minha irmã percebeu e me delatou para a secretária da biblioteca, Netinha. Ela recolheu tudo, mas depois que o acervo foi renovado, ela me devolveu os que eu mais gostava, tudo dentro da legalidade (risos). Netinha entendeu cedo o meu amor pelos livros e, por isso, mesmo depois do meu crime, nunca me impediu de alugar livros, ao contrário, ela sempre me incentivou.
2- E seus primeiros escritos, falavam sobre o que?
Eu só sei escrever poesia, todo o resto é tentativa falida. Foi assim desde o começo. Desde os meus 13 anos eu começo a escrever romances que nunca passam da primeira página. Nunca vou desistir, embora saiba que nunca conseguirei. O meu primeiro poema talvez seja o meu melhor. Nunca será publicado, mas é algo que me define muito até hoje: “o abstrato do meu eu” – gostava muito deste adjetivo – fazia inúmeras perguntas: quem sou eu, para onde vou, coisas assim.
Depois escrevi um livro inteiro de palavras e axiomas que chamava de poemas. Nunca deu em nada. Escrevi algumas crônicas, mas percebi que não levava jeito quando as submeti a uma escritora importante lá de Apodi, minha amiga Dodôra. Aliás, o livro dela: Contraponto, está entre os livros que leio sempre para encontrar aquele eu do passado. Então, eu passei a minha vida inteira tentando alguma coisa.
3- Você se graduou em Jornalismo, qual o motivo da escolha do curso, e como foram os tempos como aluno universitário?
Foram péssimos. Eu fui o melhor aluno de minha turma e um dos três melhores de toda a universidade, mas muito antissocial. Eu sou antissocial, felizmente. Saí de minha turma apenas com um amigo, o Francinaldo Rafael, os outros nunca passaram de colegas. Digo na turma de jornalismo, porque eu cursei Comunicação Social que abrange as três habilitações: Jornalismo, Publicidade e Radialismo. Deixei alguns amigos em Radialismo também, eu acho (risos).
Minha escolha por jornalismo foi natural, uma vez que eu já atuava na área desde 2002. Veja bem: eu cresci ouvindo rádio e aquilo me parecia tão distante. Eu morando no meio do nada, onde a casa mais próxima da nossa ficava a dois quilômetros, um lugar sem eletricidade, o rádio era a maior tecnologia que eu conhecia. Então quando adolescente, já morando na cidade (em Apodi), surgiram as primeiras rádios comunitárias e, não me lembro como, eu me acheguei a elas. Fiquei por lá até me darem espaço para controlar os equipamentos e fazer programas musicais. Acredito que eu era o pior de todos, mas aquilo enchia meus olhos e dava orgulho à minha família. Não ganhava nada, mas eu queria aquilo.
Então, em 2002, abriu a Rádio Vale do Apodi (AM) e, por um acaso, um amigo sugeriu que eu colocasse o meu currículo. Eu menti muito neste currículo, mas acabei entrando para a equipe porque me dediquei muito ao projeto experimental. Passei um ano como radialista medíocre até que achei minha brecha e ganhei meu espaço. Quando saí da rádio em 2006, eu era diretor de redação. De lá fui para o Jornal de Fato, a convite de César Santos, onde também penei um tanto para aprender o que devia fazer. Eu aprendo as coisas na marra, na linha da morte, sou um autodidata incorrigível. Tenho déficit de atenção (risos). Quando entrei no De Fato eu fazia Letras na UERN, mas em 2009, resolvi seguir o caminho que já percorria, fiz o vestibular para Jornalismo e deu certo. Cá estou eu.
5- Quais seus planos literários para o futuro?
Não tenho ambições literárias. Eu vou fazendo projetos e os concebendo dentro das oportunidades que me aparecem. Eu vou escrever um romance, não sei quando, nem como. Também não tenho noção se um dia ele será publicado. Então, não tenho uma resposta definitiva para a sua pergunta.
6- Quem é o escritor José de Paiva Rebouças?
Eu sou um homem limitado pela minha condição biológica. Um trabalhador braçal, um arrancador de letras. Nada mais.