Quem lembra da última English IPA que bebeu?

English IPA

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Hello, mate! Cheers!

Saudações, cervejeiros!

Hoje vamos falar de um estilo que está ficando cada vez mais esquecido, tanto na mente dos cervejeiros, quanto nas prateleiras dos supermercados ou das lojas especializadas em cervejas artesanais. Refiro-me à precursora das India Pale Ale’s (IPA’s), ou a vovó IPA, a English IPA!

O estilo IPA, e suas muitas variantes atuais, é bastante consumido, e até bem conhecido, mesmo por quem não é tão vidrado no mundo das cervejas artesanais. Após as cervejas de trigo alemãs (Weizen) e as belgas Witbier’s, é bem provável que as IPA’s mais fáceis de serem encontradas e bebidas sejam a porta de entrada pro mundo das artesanais.

Contudo, o que pouca gente pode ter tido o interesse ou a oportunidade de provar é o estilo que deu origem a tudo isso, quando, como diz o ditado, “tudo isso era mato”.

Certamente, foi a English IPA quem abriu alas para uma lupulagem mais robusta no meio cervejeiro. No entanto, o estilo anda bem esquecido na atualidade e tal consequência parece ser fruto dos estilos subsequentes, como explanaremos mais adiante.

Então, repito a pergunta do tema, você recorda da última English IPA que teve a oportunidade de degustar?

English IPA a vovó de todas as IPA’s!

Existe toda aquela história (ou estória, a depender do ponto de vista) sobre o surgimento das IPA’s que todo mundo já deve ter lido ou escutado anteriormente.

De modo resumido, narra-se que a India Pale Ale (IPA) foi criada quando os ingleses, ao tentar dar mais longevidade as suas cervejas (do estilo Ale), no longo percurso até a Índia, adicionaram mais lúpulo à receita. O lúpulo, por ser um conservante natural, fez com que a vida útil das cervejas fossem prolongada, e, meio que sem querer, acabou por criar um novo estilo: a IPA.

Se essa breve estorinha é verdadeira ou não, de modo prático, isso pouco importa. O que é bem útil saber é que a adição de mais lúpulo à receita acabou criando a vovó de todas as IPA’s, a denominada English IPA. As quais foram as primeiras IPA’s a serem produzidas. Daí serem as ancestrais de todas as IPA’s que conhecemos na atualidade.

O desenvolvimento do estilo: evolução, superação ou diferenciação?

No mundo cervejeiro, é bem comum que de um estilo base se derivem vários outros estilos (ou, subestilos, variações regionais, dentre outras ramificações de produções ou conjuntos cervejeiros). O caso mais emblemático de tais derivações, provavelmente, é o das IPA’s.

A English IPA, historicamente, foi o pontapé inicial para um uso mais assertivo da lupulagem, utilizando-se de exemplares ingleses, que são mais terrosos, gramíneos, levemente florais, e, por vezes, até mesmo condimentados.

Nesse passo, com a expansão dos horizontes cervejeiros, e com o surgimento da escola americana, a reboque da sua revolução dos lúpulos na década de 70, originando, a princípio, o que se chamou de American IPA. Essa primeira etapa do desenvolvimento, com base nos lúpulos do novo mundo, mostrou ao cenário cervejeiro IPA’s mais cítricas, de corpo médio, carameladas, leves traços florais, e muito pinho.

Alguns exemplares foram chamados, posteriormente, de West Coast IPA’s (ou WC IPA’s).

A indicação geográfica (West quer dizer oeste, em referência a costa oeste americana) serviu para se diferenciar da nova onda lupulada. Ela foi capitaneada por John Kimmich, fundador da cervejaria The Alchemist, criador do que inicialmente se chamou de New England IPA (em referência a costa leste americana), e, atualmente, denominada de Hazy IPA.

Seu perfil muito mais frutado, com base maltada neutra e corpo muito alto acabou conquistando uma legião de fãs. A questão é, por dominarem o mercado na atualidade, pode-se dizer que as Hazy IPA’s são a evolução derradeira das IPA’s? Elas são a superação tanto das WC’s quanto das English IPA’s?

Difícil cravar um sim, diante de todo o contexto histórico que envolve o estilo em apreço…

O ocaso e a lembrança das English IPA’s?

É normal, na história cervejeira, que alguns estilos deixem de ser ativamente produzidos e acabem sendo apenas uma referência histórica dos tempos idos. É provável que isso venha a ocorrer (quem sabe, no médio prazo) com as English IPA’s.

Isso porque já é bastante difícil, até raro eu diria, encontrar exemplares a venda desse estilo. Um dos poucos casos que consigo indicar, e que ainda é encontrado com relativa facilidade, é a Colorado Indica.

Quem teve a oportunidade de degustá-la antes da fusão da Colorado com a InBev deve recordar o quanto ela era boa. Aliás, naquela época, quando iniciei no mundo das artesanais (em 2013, aproximadamente), algumas outras cervejas do estilo English IPA eram encontradas, tanto nacionais quanto importadas.

Na atualidade, parece que só sobrou mesmo a Indica, e que, eventualmente, com a fusão das empresas, até perdeu um pouco de sua qualidade de outrora. Fica até difícil de recordar outro exemplar ou quando foi a última vez que uma cerveja desse estilo foi degustada.

O ocaso e a maior dificuldade, cada vez mais crescente, de encontrar cervejas nesse estilo parece ser a tendência dominante no mercado das artesanais, em função da pouca procura e da concorrência (quase que desleal) com as Hazy IPA’s, preferidas por 11 a cada 10 cervejeiros (contém ironia).

Saideira

Em outros textos, como NESSE AQUI, já comentei como estilos cervejeiros acabam caindo no ostracismo e na irrelevância para o público em geral.

Isso não é algo novo, a diferença no exemplo abordado agora é observar como um estilo clássico, percursor de tantos outros, acaba por ser difícil de achar e raríssimo de ser degustado.

A English IPA tem uma representatividade histórica gigantesca, mas, muito provavelmente cairá no esquecimento em um mundo (cervejeiro) dominado por Hazy IPA’s (genéricas).

Recomendação Musical

Certamente, não são necessárias apresentações sobre The Beatles. O maior grupo musical de todos os tempos!

Por serem ingleses, não consigo imaginar uma banda que melhor represente o estilo cervejeiro tema de hoje: English IPA.

Como sugestão musical, deixo uma das minhas favoritas deles: Let it Be.

Então, deixe estar, curta o som e abra sua cerveja:

Cheers!

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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