Agosto parece um mês inebriado. Talvez por abrigar a força dos ventos alísios. E dos ventos chega a maresia, que umedece sensações e perfuma ainda mais os coqueiros-caciques de Navarro de uma melancolia infinda. Das varandas à beira-mar, o agosto se faz mais presente. O sabor das ondas nos olhos. O gosto do mar no corpo. Dos silêncios da praia, brota o barulho da natureza, remexida pelos ventos do mês. Os coqueiros suspiram, arquejando de tédio. O mar mais bravio descansa no encontro com as falésias. Os olhares, mais ausentes, acompanham inebriados o navegar manso da canoa em labuta, alheia ao vento e ao frio.
Ainda há o manto invernal. Os ventos friorentos de agosto intimidam os cajus. Das dunas de Santa Rita ainda se vê algum. A chuva de amarelos e avermelhados frutos vem mesmo no veraneio. É que caju é fruta alegre, amigo leitor. Se vê pela cor, pelo sabor. E neste mês cinza, os cajus e a euforia se escondem como marias-farinhas em suas tocas, medrosas a qualquer pingo de chuva.
Nas dunas desta praia espremida e pacata, da qual vigio há mais de 30 anos, é onde os ventos de agosto parecem encontrar morada. Vagueiam pelo mar em direção à duna, como quem persegue a solidão das pegadas na areia: passos de melancolia. E daquela mesma duna que guarda o sol em fim de tarde, emana o cenário dos céus em gradações de cores, interrompidas por nuvens cansadas.
E as dunas são movidas pelos ventos. Brisas geladas que congelam corações e mentes nativas que ainda habitam aqueles confins de praia, regressados aos seus barracos na companhia do sol, nos fins de tarde. E seguem carregando o peixe ou a estafa, enquanto a canoa adormece numa solidão tristíssima nos barrancos de areia à beira-mar.
É assim o caminhar nestes dias de agosto: mês com cara de grande manhã cinzenta, longe das tardes insistentes e abafadas do verão. Agosto de ventos que roçam o rosto a toda hora, que envergam galhos, que varrem calçadas e folhas secas. Agosto de desgostos e gostos. De desalinhos.
Mas os ventos já parecem abrandar neste fim de mês. Setembro já é mira no horizonte. Mês sem graça; mês vazio. Parece transitório, como anúncio primaveril. Já se pensa em algum verão; alguma alegria. E guardam-se os cachecóis e a introspecção. As nuvens entediadas se dissipam. E lá longe, na duna daquela praia-refúgio, os cajus ensaiam mostrar suas cores.
Crédito da Foto: Paulo Nunes / CP memória
2 Comments
Que texto lindo. Quase se pode sentir o vento e enxergar a praia em suas palavras. Muito bom mesmo.
Obrigado mesmo, Renato!