O escritor paulista e crítico literário Davi Arrigucci Jr. é uma espécie de representante da crítica literária pós-Antônio Cândido. É um dos grandes na seara, com vários ensaios e livros publicados sobre figuras icônicas, como Drummond, Bandeira e Murilo Mendes. E se tece críticas, também dá a cara a tapa. Mas, creio, nunca lhe jogaram pedras. Pelo contrário, foi agraciado com o Prêmio Jabuti pelo livro de ensaios ‘Achados e Perdidos’, de 1979, entre outras premiações. O cara esteve por aqui poucos anos atrás e encontrei essa entrevista com ele. Permanece atual.
1. Quais consequências da ausência crescente da crítica literária no meio impresso?
É um problema seríssimo. Não há mais resenha crítica. Vemos textos a partir de indicações editoriais ou movidos por ações cujo critério não é a qualidade literária – essencial à crítica. Sabe aquele sujeito que publica livro na Veja e quer aparecer, tipo Mário Sabino? As resenhas tratam desse tipo de literatura. É o que tem acontecido.
2. E qual o prejuízo desse desvirtuamento da essência crítica?
Em Minas Gerais, por exemplo, há uma poeta soberba chamada Ana Martins Marques. Ela lançou livro sem qualquer repercussão na mídia. E assim há vários casos. Acho que a imprensa precisa ser reinventada na internet.
3. Na internet a crítica consistente não se dilui em meio a tanta opinião infundada?
É mais difícil se formar um crítico do que um poeta, claro. Basta olhar para a história. Até surgir um Antônio Cândido muita água rolou. É difícil ser crítico, mas é indispensável sua existência.
4. Em que contexto a literatura encontra terreno fértil para crescer? No Rio Grande do Norte, por exemplo, a crítica literária é incipiente.
Um meio complexo onde haja debate de valores. Esse foi papel do modernismo. Há, inclusive, esse debate entre Cascudo e Mário de Andrade. Mário insistia em um ponto essencial: ele era contra exotismos locais no país. O importante no modernismo foi incorporar a visão geral de país, sem localismos com essa dimensão mais abrangente. O importante não é a literatura potiguar; o importante é incorporar esse movimento modernista. E o potiguar é tão brasileiro quanto qualquer sulista ou nortista.
5. A ausência da crítica levou consigo a queda de qualidade na literatura brasileira?
A literatura de um modo geral caiu muito. Não sei se pela ausência de crítica. Há muitas razões históricas e exteriores. A literatura deixou de ter um posicionamento central no século 19, e no século 20 nunca teve. O modernismo começou nas artes plásticas e chegou à literatura; se desenvolveu sempre como um artigo integrado. Hoje já não tem mais referência. Nossa experiência hoje é muito fragmentada. Muitos conhecimentos estão em outras ciências. E isso dificulta. O romance é muito dependente de um ponto de vista social e histórico; da experiência individual do mundo. Hoje temos dificuldade em dominar tudo e isso dificulta a perspectiva do romance.