Erre Rodrigo é artista conhecido em solo potiguar e com circulação em vários estados do país. São mais de 10 anos de arte urbana pelo viés do graffiiti. Tem participação em salões de arte e também um trabalho significativo como caricaturista. Mas foi mesmo no graffiiti onde encontrou toda uma rede de coletividade e partilha pela paixão em espalhar arte por espaços esquecidos da cidade, como alerta que ali ainda existe não só vida, mas criatividade.
“A arte do graffiti, como vemos hoje em dia, vem justamente da periferia ressignificando espaços abandonados. Sempre temos em mente essa premissa de que um muro abandonado e esquecido se transforma em uma tela de arte para mudar a vida de quem por ali transita e isso acontece muito. Pintar na rua é um diálogo direto com o espectador.. é transformar um lugar não lugar em um possível ponto de convivência. Graffiti e cidade andam juntos; a arte que praticamos é a expressão urbana”, descreveu o artista ao nosso blog.
Embora Erre Rodrigo e grande parte da comunidade artística enxerguem o graffiti como “o mais democrático movimento artístico da história da arte”, e um segmento em diálogo íntimo por cinco décadas com a cultura hip-hop, a falta de conhecimento de autoridades policiais com essa arte ainda é comum. E após 11 anos como artista de rua, ele sentiu na pele no último 27 de janeiro, em Aracaju, capital sergipana.
Erre Rodrigo visitou 10 Estados, participando dos principais festivais do Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Na última viagem, junto a outros artistas potiguares do Coletivo MAR, fez um intercâmbio independente viajando por São Paulo, Rio de Janeiro (onde participou do maior mutirão de graffiti internacional, na Baixada Fluminense, o Meeting Of Favela)., Minas Gerais e, por último, Sergipe, estreitando relações com outros grandes artistas urbanos para projetos em Natal, como oficinas de formação e festivais locais.
E aí começa toda a história antes nunca vivida por Erre Rodrigo. Segue seu relato:
“Voltando dessa última viagem decidimos visitar a cidade de Aracaju onde já tinha alguns artistas que conheci nos Festivais do Acre e Pernambuco. Conhecemos praias e pintamos bastante. Até que resolvemos fazer o passeio de Tototó no último dia para apreciar o por do sol na Barra dos Coqueiros. Lá encontramos dois locais abandonados. Com um pouco de tinta que restava de toda essa viagem resolvemos deixar um graffiti. Fizemos uma arte rápida num primeiro local, uma loja abandonada da antiga Oi e logo em seguida no muro dos escombros do que parece ter sido uma escola ou creche. Terminei a arte, tirei fotos do pôr do sol e sentei na calçada para desenhar no Sketchbook enquanto o Loan pintava mais detalhes em seu graffiti para trabalhar o volume com luz e sombra. Nesse momento chega uma viatura da PM acompanhada de um carro popular com um senhor reclamando que estávamos pichando prédios públicos de sua cidade. Eu ali mesmo sentado na calçada, tranquilamente expliquei que o que fazíamos era graffiti e eram muros abandonados que na visão do artista de rua não depende de autorização para se transformar em arte… Mas que nada impede que apareça o dono ou gestor e restaure o local para que assim seja aplicada a sua devida função social. O Sargento da PM logo entendeu que não estávamos destruindo nada e sim valorizando um espaço. Esperou o tal senhor aceitar ou não as propostas que fizemos. Sugerimos apagar com a tinta base na hora ou que doar um painel de graffiiti completando toda a parede com um tema da cultura local ou mesmo o pôr do sol. Enfatizei a importância de retratar o Zé Peixe como figura folclórica da região aos turistas que ali fazem a travessia de barco (Tototó) terem uma parede de fundo para tirar fotos. O indivíduo foi ríspido e, prontamente, se negou a qualquer proposta que valorizasse seu tão estimado local de trabalho. Segundo ele, a parede lateral da loja abandonada faz parte da Câmara Municipal. Coisa que jamais faríamos seria pintar um local público assim, mas a parede em momento algum estava caracterizada como tal e nem tinha visto a Câmara, porque a parede fazia parte de um recuo na rua para loja”.


Fato é que o senhor não identificado por Erre Rodrigo, rejeitou a proposta de graffiti temático ou mesmo que os artistas apagassem o que já haviam feito. “Ele preferiu que a PM resolvesse. Então nos conduziram até a DP para assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência. Os policiais que nos conduziram e outros que lá chegaram através de outras ocorrências graves na região ficaram surpresos por estarmos ali sem ter cometido o suposto crime de ‘Pinchação’ que o secretário de Segurança de Barra dos Coqueiros (cidade ao lado de Aracaju) tanto enfatiza no seu vídeo veiculado nas redes sociais, se vangloriando de um trabalho que nem existiu da guarda municipal”.
Para Erre Rodrigo, a atitude do secretário deixa nítida a intenção de rejeitar as propostas de apagar o graffiti para produzir um vídeo viral nas redes sociais, como autopromoção. “O vídeo é uma cena cômica digna de sketch de humor, que em tom bem sensacionalista nos acusa de ‘pinchar’ o muro. Um vídeo tosco que não mostra pichação alguma, só os Graffiitis. Foi o único vídeo dele que viralizou no Brasil e até em outros países, mas cheio de comentários de apoio aos artistas. Um despreparo sem tamanho para um servidor público que pensou aparecer”, conclui Erre Rodrigo.