Das cidades por onde andei (2)

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Roma, o museu a céu aberto

Dizer que Roma é um museu a céu aberto seria abusar do lugar-comum. Mas, é o que ela é.

Convém andar a pé nas ruas e praças do centro antigo, fazendo explorações de interesse histórico e artístico. Curte-se, desta maneira, a surpresa das descobertas.

De súbito, numa esquina, a Fonte de Trevi, deslumbrante; mais à frente, o Pantheon, templo ancião; a Praça Navona… No fim da jornada, depois de ter visitado a igreja de Jesus, o Capitólio e seus museus, com a visão do Forum Romano – ruínas, restos de uma civilização gloriosa -, pernas e pés estão em petição de miséria, mas a alma, contente.

Um dia é pouco para se conhecer a Basílica de São Pedro e os museus do Vaticano, maravilhas que ficam gravadas, para sempre, na memória da gente.

Triste constatação: como se maltratou o legado artístico dos romanos, até que surgisse uma mentalidade preservacionista, já nos tempos modernos! Impressionante, a depredação sofrida pelos monumentos romanos, ao longo dos séculos. Boa parte do mármore utilizado nas obras da Basílica de São Pedro foi tirado do Coliseu. Em consequência, este, que poderia ser, hoje, uma gigantesca joia, pouco mais é que ruína. Mas, ainda bem que restam, razoavelmente conservados, monumentos como o Arco de Constantino e os templos do Forum Boarium.

Buenos Aires, o charme europeu na América do Sul

Buenos Aires é metrópole, grande metrópole, mas sem o desvario de megalópoles, como, por exemplo, São Paulo. Há espigões, sim, trânsito intenso, etc., etc. O que dá a nota de distinção à fisionomia urbana é o charme europeu, a nostalgia fin de siécle, que se preserva em numerosas edificações dos bairros históricos: Centro, Recoleta e San Telmo. Como são belas as pequenas cúpulas que encimam alguns desses prédios!

No mais, os ingredientes turísticos infalíveis, também nostálgicos: o tango, a influência da imigração europeia (notadamente, a italiana), a profusão de cafés e livrarias, sem falar em outras coisas e personalidades emblemáticas: Carlos Gardel, Evita Peron, Jorge Luís Borges, La Boca, o Teatro Colón, a Avenida Corrientes (espinha dorsal da cidade) e a Calle Florida.

Quando lá estive pela última vez, gastei o tempo do primeiro dia quase todo caminhando na Florida. A multidão escoa por ali como um rio cheio de barreira a barreira. É um espetáculo. Não raro, a gente se depara com uma roda de curiosos e, no meio desta, um artista de calçada, guitarrista, cantor, etc. – buscando o seu lugar ao sol…

Há também mini-espetáculos de tango. Quando a gente se cansa, entra num café e pede um cappuccino com medias lunas, e pela janela envidraçada, fica apreciando o movimento.

Livrarias tem umas cinco, só nesta rua, inclusive a famosa El Ateneo, na sua sede velha, bem conservada, e na filial.

Buenos Aires tem cheiro de livros…

É bem verdade que, também, exala aqui, acolá uns odores de churrasco e de café…

“Rio de Janeiro continua lindo” (?)

Confesso ter uma paixão recolhida pela Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Anos e anos mantive com ela um caso de amor platônico. Conheci-a em 1959, e a primeira imagem que guardei, ainda da janela do avião, foi exatamente a baía de Guanabara com o Pão de Açúcar ao fundo. Aquele cartão postal. Foi amor à primeira vista…

Naquele tempo, o Rio era a metrópole maior do Brasil, a Capital Federal, o supra-sumo da cultura, da moda, de tudo. Até os nomes dos seus subúrbios faziam sonhar: Irajá, Madureira, Penha, Jacarepaguá…

Rio de samba e futebol, Rio malandro (clichês inevitáveis). Rio da mais bela paisagem entre todas as cidades brasileiras: a montanha, o mar e a baía.

Depois, essa paixão foi esmorecendo, esmorecendo até estancar. Por quê?… Não sei bem. Talvez tenha contribuíido para tanto a fama de cidade violenta que o Rio ganhou nas últimas décadas.

O certo é que eu, que até então desdenhava São Paulo, passei a vê-la com outros olhos. E terminei sendo conquistado.

Ouro Preto das paisagens cromáticas

Quem chega a Ouro Preto surpreende-se com o bom estado de conservação dos prédios que formam o grande e harmonioso conjunto do centro histórico. Beleza de sobrados restaurados com extremo bom-gosto, as fachadas pintadas de branco e bege, variando bastante a cor das portas, janelas e varandas com gradis de ferros: azul-cobalto, verde-escuro, marrom, vermelho-sangue-de-boi-escuro e uns ligeiros toques de amarelo.

A cidade se espraia pela montanha num ondear de ladeiras sem fim. É preciso ser artista, como Guignard, para captar toda a poesia, toda a riqueza plástica e cromática da paisagem. A graça das igrejas coloniais como que suspensas nos altos – visão de sonho.


CRÉDITO DA FOTO: Unsplash

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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