Chuvarada no meio do mato

acampamento para chuva

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Sempre gostei de anotar fatos importantes e informações úteis em meus caderninhos.

Hoje, ao acordar, recebi uma mensagem do meu velho amigo Jorge, preocupado comigo porque tinha assistido na TV sobre a forte chuva de ontem em Mossoró; mais de 100 mm/m² de chuva, que causaram certo estrago na cidade.

Tranquilizado Jorge (aqui ontem choveu só 2,5 mm/m²), fui conferir em meus caderninhos as maiores chuvas no Sítio Araras*, ao longo dos anos que estou registrando isso.

Desde outubro de 2015, quando comecei a anotar sistematicamente cada chuva, as maiores precipitações foram registradas nesses dias:

índice pluviométrico10 mar 2017 ………….. 76 mm/m²
20 jul 2017 …………….. 72 mm/m²
1º mar 2017 …………… 70 mm/m²
16 abr 2018 …………… 70 mm/m²

Folheando os caderninhos, as memórias voltam à tona. Essa chuva gigante em julho de 2017 foi absolutamente inesperada, pela época e tamanho. Eu estava acampado com Cabeça, a cadela que me acompanha nessas peripécias, pouco distante da ponte de Alto do Rodrigues/RN, última noite de uma aventura de seis dias em canoa.

À tarde já tinha dado para ver que ia chover, assim preparei o acampamento para aguentar a chuva. No começo, principiou a cair uma chuvinha normal, mas com o passar do tempo engrossou muito e tive que guardar todo o equipamento, desarmar a rede e aguentar o pior. Com um arroz e batata já cozinhado e um café quente pronto, ficamos, eu e Cabeça, umas duas horas e meia por baixo da lona dobrada apenas por cima da gente; eu sentado no banquinho baixo e Cabeça num pedaço da lona seca, os dois pensando: será que vai parar quando?

Trovejou e relampejou muito, mas não caíram raios nas redondezas do Campo K naquela noite; isso creio que foi graças à pitada de boa sorte que a gente nunca deve esquecer de carregar no bolso, partindo por uma aventura.

Baixou de intensidade, afinal, e deu para voltar ao formato “acampamento de chuva” normal, para passar a noite dormindo ao seco na rede, mas só parou mesmo de chover quando deu as dez da manhã do dia seguinte.

Quando, nesse mesmo dia, terminada a aventura voltamos em casa, encontrei o registro da chuva no pluviômetro do quintal e me dei conta do tamanho da chuvarada que a gente aguentou lá no mato, à beira do rio. rss

* Sítio Araras é a vila de pescadores, no município de Itajá/RN, na qual moro desde outubro de 2015. Comprei minha casinha em junho de 2008, a utilizei por anos como base de partida para minhas aventuras em canoa e, em 2015, me mudei pra cá de vez.


Trilha sonora sugerida:

 

Jack D'Emilia

Jack D'Emilia

Italiano enraizado no Brasil há mais de 30 anos, gosta de fazer coisas, ler, escrever, fotografar, jogar xadrez, andar em bicicleta e canoa. Morou por mais de 20 anos na Praia da Pipa e, há algum tempo, mudou-se pro Vale do Assu, sertão do RN.

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3 Comments

  • Jack D'Emilia
    Jack d'Emilia

    Pois é, meu amigo Gilberto Cardoso, vou lhe contar a origem do nome de Cabeça. Vou começar dizendo que atualmente, vivem comigo três cadelas: Branquinha, Cabeça e Olhinho, coletivamente apelidadas de “branquelas”, pela cor do pelo, claro.
    A Branquinha é a mãe das demais. Quando Branquinha deu cria, uns anos atrás, nasceram dez filhotes, entre machos e fêmeas, e todos receberam um nome provisório. Nomes bobos, como Peludo, Gordo, Pirata, Soneca etc.
    Olhinho tem uma mancha escura redonda num olho que lhe dá a aparência de ser menor… um “olhinho”; Cabeça, um dia, comeu uma abelha e, por reação à picada que deve ter levado, ficou toda inchada, com um cabeção desse tamanho… rss
    Para concluir, dos dez filhotes da Branquinha, arrumamos um responsável humano apenas por oito deles; Cabeça e Olhinho ficaram comigo e os nomes provisórios ficaram juntos e para sempre.

  • Muito bom, Jack. Fiquei a imaginar a cena. Perguntei-me que razões o teriam levado a nomear seu cão de Cabeça. Provável razão: ele é seu guia nessas sempre surpreendentes aventuras. Duas cabeças pensam melhor que uma e imagino os esforços que vocês fazem para se manterem em sintonia nas decisões a serem tomadas. Um aprendeu a confiar no outro. Lembrei do que disse Schopenhauer: “A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter.”
    Não tenho dúvidas de que você trata tão bem seu cão como trata o seu semelhante.
    Quando se tem profundidade, a solidão é deliciosa. Você estava circunstancialmente preso, mas lá fora chovia e ecoava em você como uma sinfonia.

    Parabéns pelo texto. Solidão, solo úmido e o posterior solo de violão que acompanha a poesia do momento.

  • Stefan Ceulemans

    Adoro sua proza!! Facil de ler. Parabéns!

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