Encorpando! A percepção (cada vez) mais aumentada de corpo nas RIS

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Saudações, cervejeiros!

Em alguns textos do blog eu noto que posso soar um pouco saudosista em alguns aspectos que envolvem a cultura cervejeira. Ainda assim, acredito que não seja um puro chauvinismo displicente, e sim, uma tentativa de fazer comparações entre contextos e situações de estilos e sub estilos que vão surgindo com o tempo.

No caso do texto de hoje, buscarei abordar a questão da variação evolutiva do corpo (densidade) das RIS ao longo do tempo, algo que venha a explicar como que mesmo nas Barrel Aged’s mais expressivas de agora elas conseguem ser tão corpulentas e densas. Já que essa percepção de corpo nas RIS acaba sendo algo cada vez mais aumentado.

Estão encorpando bem as cervejas!

Para tanto, vamos percorrer alguns elementos da gênese do estilo, passando por alguns outros temas correlatos como o mouthfeel, embrenhando-se também na busca pelo corpo perfeito nas cervejas e desembocando naquilo que as fazem encorpar, os adjuntos necessários para serem seus anabolizantes.

Então, vamos em busca dessa corpulência?

O que é Corpo da Cerveja?

Quando se fala, ao menos tecnicamente, do corpo de uma cerveja, está-se referindo, de maneira direta, a sua densidade. Isto é, a sua massa pelo volume por ela ocupada. Contudo, é bom salientar que, em termos de análise sensorial há um outro elemento que se aproxima bastante do corpo da cerveja, pois leva em consideração também a sua densidade.

Esse elemento anexo é o que se denomina em inglês de mouthfeel. A tradução direta do termo seria, sensação na boca, porém, aparenta ser bem mais que isso. Não é o mero impacto da massa da cerveja na língua e nas demais regiões sensoriais da boca, e sim, a percepção contraposta de aspereza/aveludada que a cerveja é capaz de provocar em quem a degusta.

Inobstante, retornando ao tema central, que é o corpo da cerveja, tem-se que a densidade é a medida escalar utilizada para se medir o corpo. Assim sendo, quanto maior for a carga de massa contida na cerveja, maior será a extensão do seu corpo e consequentemente a percepção dele.

Algo que mais uma vez vem a ser casado com a questão do mouthfeel, afinal, se bastasse unicamente medir a densidade para determinar qual a cerveja mais encorpada, seria desnecessário prová-la, pois essa unidade viria descrita no rótulo e todos os debates cessariam.

Cada vez mais encorpadas, ou a busca pelo corpo perfeito

Fazendo um ligeiro paralelo com o nosso próprio corpo, pode-se dizer que a revolução cervejeira mais recente é a busca pelo corpo perfeito. Se alguns fazem isso correndo para a academia ou para os treinos de cross fit, podemos dizer que há algo muito semelhante na cultura cervejeira a esse respeito.

Tem sido uma preocupação premente dos cervejeiros em correr atrás do corpo perfeito para as cervejas, não só para as RIS, saliente-se, mas muito também para as IPA’s. A grande diferença de um estilo para o outro, no que tange a essa corrida pelo corpo perfeito, dá-se pela própria gênese de cada estilo.

As Hazies IPA’s já foram gestadas com uma opulência corporal maior, a própria turbidez do estilo já se encaminha para essa finalidade. Em um contexto histórico bem diferente, as RIS não tiveram um início com um corpo tão parrudo quanto aos encontrados atualmente, daí que, observa-se que em sua evolução esse choque de se tornar encorpadas (ou super encorpadas) acaba por ser mais significativo.

A evolução do corpo nas cervejas do estilo IPA (em particular nas Hazies, já que nos demais estilos de IPA não existe essa preocupação de forma tão demarcada, pois os seus respectivos estilos nem pedem exatamente isso) se deu em níveis mais modestos a cada avanço.

O fato de esse estilo já ter sido originalmente pensado para ter um maior aporte de carga de massa por volume favoreceu a assimilação mais rápida de um corpo maior. Ao passo que o teto de evolução também era mais baixo, não havia espaço para evoluções repentinas e mais desproporcionais para quem “já nasceu grande”.

O mesmo não aconteceu com as RIS, com as quais os métodos de encorpar (ou anabolizar) a cerveja gerou resultados mais impactantes.

Encorpando: mais malte, mais tempo, mais “esteroides cervejeiros”

Para gerar um corpo muito mais parrudo e expressivo existem algumas formas de se chegar ao resultado pretendido. Pode-se adicionar uma maior carga maltada, pode-se também adicionar mais tempo ao processo produtivo, mais tempo de cozimento, e algumas outras técnicas produtivas com tal finalidade. Contudo, você também pode recorrer a uns “venenos diferenciados” para chegar ao corpo perfeito.

É mais ou menos o que acontece no dia a dia de qualquer academia de máquinas enferrujadas e sem ar condicionado. Pode-se ir pela via “natural” ou recorrer aos famigerados “esteroides”.

Quando se fala em esteroides cervejeiros, há um deles que já se encontra quase que naturalizado, que é o uso de cargas generosas de aveia para trazer mais corpo ao conjunto cervejeiro. Para além do uso da aveia, também se tem o uso de trigo e de centeio para essa finalidade.

Levando-se em consideração que são elementos vegetais e que são comumente utilizados de forma prioritária em outros estilos de cerveja, talvez eles possam ser considerados como anabolizantes mais naturais do corpo em uma cerveja.

Contudo, há elementos externos à cultura cervejeira mais clássica que ajudam na tarefa de anabolizar o corpo das cervejas e não podem ser tão naturalizados assim, como o que ocorre com a lactose e a maltodextrina. Elas ajudam a massificar o conjunto, trazendo uma carga de massa bem superior ao que seria atingido sem o seu uso, apenas com carga maltada ou técnicas produtivas. De modo a realmente turbinar o corpo das cervejas produzidas.

Nas RIS, o resultado é ainda mais expressivo, pois, por mais que não tragam uma percepção de dulçor tão exponencial, o corpo fica bem avantajado e intensamente pesado para o estilo. E essa tem sido a toada mais contemporânea das cervejas feitas.

Saideira

Quando se compara a uma ótima RIS Barrel Aged de um perfil mais clássico, como uma Bourbon County, nota-se que ela se enquadra de maneira muito bem encaixada ao estilo proposto. Todavia, ela não exibe um corpo assim tão pesado quando comparada com exemplares mais recentes, mesmo que eles tenham passado por envelhecimento em barris.

Naturalmente, o barril tende a tirar um pouco do corpo da cerveja, conferindo-lhe outras notas sensoriais e uma outra percepção do corpo da cerveja como um todo. Porém, quando se degusta comparativamente essas RIS de um perfil mais moderno, nota-se que quase nada é perdido de corpo, mesmo que o envelhecimento tenha sido efetuado e também seja muito perceptível para quem a degusta.

Dessa maneira, os mencionados suplementos turbinadores do corpo são utilizados com a sua finalidade precípua, manter o corpo sempre destacado e em evidência, independentemente dos demais elementos que poderiam também ter a sua expressividade.

Estou dizendo que RIS altamente corpulentas e densas são ruins? Jamais. Estou dizendo que nenhuma delas se compara ao perfil corporal mais clássico de uma BCBS? Também não. Apenas estou destacando como se encaminha a evolução do estilo quando se trata de como manusear o corpo a fim de evidenciá-lo e torná-lo ainda mais robusto nas cervejas do estilo em apreço.

Recomendação Musical

Já que estamos falando da corrida pelo corpo perfeito nas RIS (sejam elas as mais modernas ou não), a pedida musical de hoje é das mais antigas. A musa australiana do dance-pop Olivia Newton-John com seu hit oitentista: Physical.

Saúde!

 

 

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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