O carnaval e a fantasia do corpo perfeito

CARLOTA

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

A gente já consegue ouvir os clarins de Momo anunciando o carnaval, a festa mais comemorada do Brasil e com isso logo veremos multidões de pessoas lotando as ruas com cores, alegria, muito glitter e muita ousadia. A festa de Momo é um extrapolar de limites pois nestes dias tudo deve ser permitido, mas será que tudo é permitido mesmo?

Todas as vezes que penso em carnaval, essa festa popular profana, penso em como a gente se permite e expõe os nossos corpos e limites. Mas uma coisa que me pega de jeito é a imposição dos corpos nus ou quase nus das mulheres, me gerando um certo incômodo por ser eu uma mulher gorda e totalmente fora do padrão cultuado e imposto excessivamente pela mídia, que já faz isso diariamente, mas neste período se supera. Devemos saber que essa exposição cobra das mulheres um padrão de perfeição estética e isso é uma das maiores crueldades que se pode fazer a qualquer ser humano, uma vez que nossos corpos são completamente livres para ser da forma que são e eu nem entro neste assunto com profundidade agora porque daria um livro.

Voltamos ao carnaval.  Assistir aos desfiles das escolas de samba pela televisão, por exemplo, faz com que nosso olhar sobre o carnaval fique bastante limitado. Nesse contexto, o elemento de marketing para a venda dessa festa é o corpo feminino. A televisão nos mostra apenas corpos perfeitos e as musas sempre são mulheres que submetem seus corpos às intensas privações alimentares, a exercícios físicos exaustivos e a cirurgias plásticas quase anuais, a fim de que o seu corpo seja foco de atenção do Carnaval. É como se outros corpos não fossem permitidos de estar ocupando este lugar.

Este é um debate tão profundo que nos coloca em lugar de mercadoria, desvalorização e culpa, porque nos diminui enquanto pessoas. E hoje a gente tem que entender que o padrão do carnaval é a liberdade e hoje tudo o que mais queremos é ir contra essa sociedade patriarcal e machista que problematiza os nossos corpos excluindo nossas belezas legítimas.

Ser uma mulher gorda para a sociedade não me faz ser uma musa, mas eu resolvi mudar este contexto ao meu entorno desde que comecei a ler mais sobre o movimento Body Positive, entender melhor sobre a gordofobia e a aprender a mostrar meu corpo sem me envergonhar dele. Isso foi libertador. Entender que o carnaval é uma festa para TODOS me fortalece em  não permitir julgamentos e principalmente faz eu me sentir à vontade sem me sentir excluída. Apenas me monto e me visto da forma que eu me sentir confortável e distribuo a minha alegria e beleza pelas ruas, festas e blocos e é assim que tem que ser.

Existe hoje um grande crescimento dos movimentos de carnaval sem gordofobia e está cada vez mais forte o combate a este preconceito cada vez mais fora de contexto e a gente pode sim curtir sem medo e encarar de frente caso alguém queira nos questionar quanto a nossa aparência. Vestir a fantasia de sermos mulheres maravilhosas do jeito que somos e entender que para curtir o carnaval não temos que nos privar de absolutamente nada.

Se você ainda não conseguiu atingir este nível de segurança vai aí algumas dicas para você botar a sua fantasia de grande gostosa no carnaval:

* Vá em blocos com amigos de sua confiança para você se sentir confortável e segura.

* Não tolere nem aceite provocações.  Ignore, porque a gente sabe que gente idiota tem em todo o lugar e não são estas pessoas que vão estragar a nossa festa.

* Proteja-se de qualquer tipo de assédio, violência e importunação, neste período os casos aumentam consideravelmente.

*Dance, curta, divirta-se e brilhe!! O importante é estar feliz e devemos fazer isso por nós e não pelos outros.

Quando a gente está decidida e encorajada a nos aceitar e aceitar os nossos corpos da forma que são e sem aceitar vê-lo como um objeto hiperssexualizado, porque é isso que o carnaval vende, a gente também encoraja outras mulheres e isso tem um poder extraordinário. No final das contas o que deve realmente importar é que o carnaval deve ter um único objetivo, o de ser feliz e se nem a Paola (considerada pela grande maioria esteticamente perfeita agradou), meu bem, eu quero mais é botar meu bloco na rua,

Carla Nogueira

Carla Nogueira

Carla Nogueira, mais conhecida como Carlota, formada em gestão de pessoas, com MBA em gestão humanística de pessoas. É multicriativa e fundadora do Estúdio Carlota Coletivo Afetivo, criando oportunidades para gerar potência e oportunidades de fomentar a arte, a cultura e as pequenas marcas com grandes ideias. Notívaga, cervejeira e sarcástica, escreve sobre suas percepções diante dos fatos do dia a dia.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana