#CaminhosdeNatal: O Largo Dom Bosco da primeira fábrica de Natal

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O Largo Dom Bosco está localizado no bairro da Ribeira, no trecho entre a Praça Augusto Severo a Avenida Câmara Cascudo. Até o final do século XIX, seu trecho era alagado por um braço do rio Potengi, onde foi construída uma ponte que facilitou a comunicação entre os bairros da Cidade Alta e Ribeira.

A região pantanosa da Ribeira foi drenada e aterrada no início do século XX, com o objetivo de se construir a Praça Augusto Severo, que à época ocupava um terreno que superava mais de duas vezes o existente hoje, englobando inclusive a área atualmente denominada de Largo Dom Bosco.

No terreno onde recentemente foi edificada a Agência da Caixa Econômica Federal da Ribeira, localizado no trecho final da avenida Câmara Cascudo, em frente ao Largo Dom Bosco, foi originalmente ocupado pela primeira fábrica da Cidade, a Fábrica de Fiação e Tecidos de Natal, idealizada e construída pelo industrial Juvino Barreto.

A construção da referida fábrica foi iniciada em 1886, sendo solenemente inaugurada, em 21 de julho de 1888, em cerimônia presidida pelo então presidente da província, Antônio Francisco Pereira de Carvalho.

Juvino Barreto foi um planejador vitorioso, que introduziu em Natal a primeira máquina Lowell. Trouxe ele da Inglaterra o que havia de mais moderno em máquinas e tecnologia, visando a implantação de sua fábrica na Ribeira.

Contando com 48 teares, 1.600 fusos, 9 cardas, com motor de 60 HP, fabricava quatro tipos de tecidos grossos, beneficiando o algodão que descia do interior da província, em lombo de animais.

A casa residencial de Juvino Barreto foi construída no final do século XIX e acha-se localizada no atual Largo Dom Bosco, no lado oposto à fábrica, dentro de um imenso sítio que abrangia um quarteirão inteiro. Era uma propriedade bem cuidada, com pomar, cachoeira, cacimba (chamada Cacimba de São Tomé), além de outras dependências, tudo envolvido por uma paisagem exuberante, constituída de frondosas mangueiras e pontilhada de belas palmeiras imperiais.

Casado com Inês Paes Barreto, Juvino doou em vida, conjuntamente com a esposa, a casa com todas as benfeitorias existentes na chácara, à Ordem dos Salesianos, que somente poderia entrar na posse do imóvel, após o falecimento do cônjuge sobrevivente.

Juvino Barreto expirou em 9 de abril de 1901 e sua esposa Inês, em 5 de agosto de 1932. Os filhos do casal deixaram a propriedade, às 13:00 horas do dia 20 de setembro de 1936, cumprindo fielmente o desejo de seus pais. Seis dias depois, os padres Salesianos iniciavam ali, as suas atividades.

Não foi possível determinar a data em que aquele logradouro público, da Zona de Preservação Histórica de Natal, passou a chamar-se Largo Dom Bosco. É certo, porém, que o topônimo data de um período posterior à 1936, quando os padres Salesianos tomaram posse do imóvel, outrora pertencente a Juvino Barreto.

Dom Bosco

A atual denominação homenageia Dom Bosco, o Santo Padroeiro da Ordem do Salesianos. São João Bosco nasceu em Castelnuovo d’Asti, na Itália, em 1815. Ordenou-se padre e dedicou seu trabalho pastoral às crianças desamparadas. Organizou a Pia Sociedade de São Francisco de Sales, a conhecida Ordem do Salesianos, dedicada à atividade missionária e à educação de meninos, e o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, para a educação das meninas.

A orientação pedagógica que norteava seu método, baseava-se na participação do professor na vida do aluno, desenvolvendo-lhe as faculdades afetivas e a noção do dever através dos bons hábitos.

No Brasil, a obra Salesiana foi iniciada em 1883, com a fundação do Colégio Santa Rosa, em Niterói. Atualmente existem centenas de casas em todo o país.

Dom Bosco destacou-se como pregador e escritor popular. Faleceu em Turim, na Itália, em 1888, tendo sido canonizado em 1934.


ILUSTRAÇÃO: Petterson Michel Dantas

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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