#CaminhosdeNatal: Rua Dr. Barata já abrigou as lojas mais chiques de Natal

rua dr. barata

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

A atual Rua Dr. Barata está localizada no bairro da Ribeira, no trecho compreendido entre a praça Augusto Severo e a avenida Tavares de Lira. Trata-se de um dos mais antigos logradouros públicos daquele bairro. Ali foram construídas as primeiras residências da Ribeira, no último quartel do século XVIII. Eram as casas destinadas aos vigias dos armazéns, que guardavam as mercadorias exportadas para Pernambuco, embora ali ainda predominassem os sítios com plantações, especialmente de coqueiros.

No final do século XVIII, ainda não existia uma denominação definida para a rua Dr. Barata que formava conjuntamente, com as atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira, e as ruas Chile, Frei Miguelinho e Câmara Cascudo, a Campina da Ribeira, defronte à Igreja do Bom Jesus. Existem referências documentais, que evidenciam a existência daquele templo no ano de 1776.

Nas primeiras décadas do século XIX, o comércio consolidou-se na Ribeira, concentrando-se principalmente na atual rua Dr. Barata, justificando assim o seu primitivo topônimo: Rua das Lojas. Esta recebeu posteriormente a denominação de Correia Teles, que homenageava ainda em vida, o General do Exército José Correia Teles, norte-rio-grandense de Assu/RN. Correia Teles atuou com destaque na campanha do Paraguai, tendo falecido em 4 de novembro de 1897, aos 62 anos de idade.

Em 1888, a Câmara Municipal realizou uma revisão na nomenclatura urbana de Natal, ocasião em que a rua Correia Teles passou a chamar-se Visconde do Uruguai. Paulino José Soares de Souza, Visconde do Uruguai, filho de pai brasileiro, nasceu em Paris em 1807. Realizou seus primeiros estudos no Maranhão. Voltou à Europa rapaz, e ingressou no Curso de Direito da Universidade de Coimbra, sendo preso por motivos políticos. Afastou-se da Universidade quando cursava o 4º ano. Regressando ao Brasil, bacharelou-se em 1831, pela Faculdade de Direito de São Paulo. Foi chefe do Partido Conservador, magistrado, diplomata, Ministro dos Estrangeiros, Senador do Império e Conselheiro de Estado. Recebeu o título de Visconde em 1854, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1866.

Dr. Barata

Em 24 de setembro de 1900 a Intendência Municipal de Natal mudou, mais uma vez a nomenclatura da rua para Dr. Barata, denominação que se conserva até hoje.

Cipriano José Barata de Almeida nasceu em Salvador/BA, em 1762. Graduou-se se em Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra, Portugal.

Orador brilhante e muito popular, Barata foi eleito deputado às Cortes Gerais de Lisboa, pela província da Bahia tomando posse em dezembro de 1821. Seu discurso agressivo e suas respostas rápidas provocaram o ódio que lhe votavam os deputados portugueses.

Participou de várias conspirações, pela Independência do Brasil, e em 1822 fugiu para Inglaterra com sete companheiros. Em dezembro do mesmo ano voltou ao Brasil, passando a residir em Recife.

Publicou o panfleto “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”. Preso, foi levado ao Rio de Janeiro por ordem de José Bonifácio. Permaneceu prisioneiro de 1825 (ano em que faleceu sua primeira esposa, Leonor Maria de Azevedo), até 1829.

Voltou à Bahia em 1830, sendo ali recebido como herói e mártir. Não desistindo de suas atividades como agitador, foi novamente preso em 1831. Em 27 de agosto de 1832, casou-se em segundas núpcias, com Ana Joaquina de Oliveira, com a qual já tinha cinco filhos. O casamento realizou-se no oratório da Fortaleza de São Marcelo, na Bahia, local onde Cipriano Barata encontrava-se preso.

Solto em 1833, Dr. Barata já velho, pobre e doente, aceitou o convite dos amigos potiguares para residir em Natal. Inicialmente morou com esposa e filhos na atual praça André de Albuquerque, passando posteriormente para a então denominada Rua das Lojas, logradouro que hoje é conhecido por Dr. Barata.

Cipriano Barata faleceu em Natal, no dia 1º de junho de 1838 e foi sepultado na Igreja do Bom Jesus das Dores, na Ribeira. A Rua Dr. Barata, conserva ainda hoje a sua vocação comercial.

Vocação comercial e as lojas chiques de Natal

Até o terceiro quartel do século XX, ela era um dos principais logradouros públicos da Cidade. A grande atividade comercial desenvolvida na Rua Dr. Barata transformou-a em um local atraente, frequentado por toda a população da Cidade. Ali concentravam–se as lojas chiques de Natal.

Nas tardes de sábado o comércio abria e a Dr. Barata transformava-se em uma verdadeira passarela de moda. As senhoras e senhoritas desfilavam com os mais elegantes trajes, complementados com luvas e chapéus.

No local, hoje usado como uso residencial, que foi ocupado pela Mercantil Val Paraíso, existia um prédio antigo, onde funcionava a firma José Farache & Filhos. Carlos Farache, um dos filhos de José, fundou conjuntamente com Carlos Lamas a Rádio Educadora de Natal.

Vicente, outro filho de José Farache, foi promotor da Capital. Dr. Vicente, uma figura muito estimada, era grande admirador e colaborador do “mais querido”, o ABC Futebol Clube. Funcionava simultaneamente, no mesmo endereço, a firma Carlos Elihimas & Cia., de Carlos Lamas, especializada em artigos esportivos e instrumentos musicais. José Farache residia com a família, em uma casa contígua à loja.

Posteriormente aquele prédio foi demolido, em seu lugar foi construído um outro edifício com dois pavimentos, onde instalou-se a loja de Vicente Mesquita, a “Natal Modelo”, que comercializava tecidos, chapéus, confecções e perfumarias. A Singer Machine Co. vendedora de máquinas de costura, também se instalou na Dr. Barata, no prédio que depois pertenceu à firma César, Comércio & Representações Ltda. Também funcionou uma distribuidora de tratores, uma joalheria e uma loja de ferramentas.

Alexandre Reis fundou na Dr. Barata, a sua firma especializada em calçados. Era a famosa “Casa Reis”. No local foi construído um novo prédio. A firma Olímpio Tavares & Cia., uma das mais antigas no ramo de tecidos no atacado, também funcionou naquela rua. O prédio onde ela estava instalada sofreu um incêndio criminoso e ficou reduzido a cinzas. Depois do prédio reconstruído, ali foi instalada a firma José Fernandes & Filhos. Funcionou também no mesmo local, um armarinho pertencente a Francisco Lamas, e a firma F. Costa & Cia Ltda.

Tácito M. Brandão, dedicado ao comércio de louças, e artigos de papelaria, instalou-se na Dr. Barata, no prédio posteriormente ocupado pela empresa J. Rezende, Comércio S.A. A firma de Matheus Petrovich abrangia um variado ramo de atividades. No prédio que ela ocupava foi posteriormente instalada a fábrica de sapatos de Paschoal Romano.

Vizinha à fábrica funcionou a “Rosa Branca”, uma loja de tecidos de propriedade de Francisco Herculano Barbalho. Posteriormente foi ocupada pela “DECOART”, casa especializada em brinquedos e artigos para decoração. Ali também funcionou a firma exportadora de algodão J. Fasanaro Pepino, uma farmácia e uma casa de modas – “Au Bon Marché”.

No local onde funcionou a Livraria Universitária, da firma Livraria e Papelaria Walter Pereira S.A., funcionou a Sapataria Nolasco. Naquela importante rua foi instalado o notável estúdio fotográfico de João Alves de Mello, em um prédio atualmente desativado.

O Banco de Natal, posteriormente transformado em BANDERN, foi fundado na rua Dr. Barata. Com sua transferência para a sede própria, na esquina das atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira, o local foi ocupado pela Livraria Cosmolita, propriedade de Fortunato Aranha.

Outros estabelecimentos instalaram-se na Dr. Barata, como a Formosa Síria, o Armazém Potiguar, o Armarinho Santa Terezinha, a Casa Lux, Sérgio Severo, o Bazar Doméstico, Dieb & Irmão, a Marmita de Ouro, a Alfaiataria Brasil, o Café Globo, o Chapim Elegante, a Casa Rubi, a Samaritana, posteriormente ocupada pela Loja Paulista, a Casa Porpino, a Alfaiataria Londres, além de vários armarinhos, relojoarias, topografias, livrarias, papelarias e farmácias.

O trecho da atual rua Dr. Barata, compreendido entre a travessa Venezuela e Avenida Tavares de Lira, chamava-se travessa Quintino Bocaiúva. Era um beco muito estreito, que somente permitia a passagem de pedestres e veículos pequenos, como bicicletas. Aquele trecho foi posteriormente alargado, pela Prefeitura, anexando assim a travessa Quintino Bocaiúva à rua Dr. Barata.


ILUSTRAÇÃO: Petterson Michel Dantas

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidos do mês