#CaminhosdeNatal: a pracinha em frente à Igreja Bom Jesus foi o ponto chique da cidade

praça josé da penha

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A atual Praça José da Penha está localizada em frente à Igreja do Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira. Uma licença para casamento, datada de 5 de fevereiro de 1776, já evidenciava a existência da igreja, naquele ano. Conclui-se que a praça fronteira à mesma, já existia desde o último quartel do século XVIII.

A igreja denominou o logradouro, que ficou conhecido como praça do Bom Jesus até 1902, quando a Resolução Municipal nº 74 de 5 de dezembro, batizou-a de Praça Leão XIII, em homenagem ao Sumo Pontífice de então.

Vincenzo Gioacchino Pecci, o Papa Leão XIII nasceu no Carpineto Romano, em 1810. Filho de família nobre, ordenou-se padre em 1837, entrando em seguida para a administração papal. Foi ele núncio, bispo e cardeal, lutando sempre pela elevação do nível intelectual e espiritual do clero.

Em 1878, foi eleito papa com o nome de Leão XIII. Em suas encíclicas “lmortale Dei” (1885) e “Libertas Praestantíssimum” (1888), condenava a democracia, pois considerava que ela retirava o poder das mãos de Deus, colocando-o nas mãos do povo.

Leão XIII era considerado um papa adaptado ao seu tempo. A sua doutrina social, conceituada na encíclica “Rerum Novarum” (1891), condenava os excessos capitalistas, defendendo o direito dos trabalhadores a salários justos. No campo intelectual, facilitou o acesso aos arquivos e à biblioteca do Vaticano.

Com a encíclica “Aeterni Patris”(1879), iniciou o neotomismo (renovação das doutrinas de Santo Thomás de Aquino), e aceitou a crítica religiosa em “Providentissimus Dei” (1893).

Afirmava Leão XIII, que a igreja católica não se ligava a nenhuma forma de governo, e deu fim aos conflitos criados no pontificado anterior, restabelecendo relações com a Alemanha (1882) e a Rússia (1894). O papa Leão XIII faleceu em Roma, no ano de 1903.

Praça Bom Jesus das Dores

A praça fronteira à Igreja do Bom Jesus das Dores, até a primeira década do século XX, não passava de um grande descampado. Em 1919, o intendente municipal, major Fortunato Aranha, resolveu construir uma linda pracinha. Naquela época, o padre Pedro de Paula Barbosa era o vigário da Igreja e grande incentivador da construção da praça.

O padre era também diretor espiritual do Seminário de São Pedro, jornalista, filósofo e filólogo. Foi colaborador da revista dirigida por Laudelino Freire, privativa dos filólogos. E assim, com o pseudônimo de Zaborda (anagrama de Barbosa), escreveu ao lado de mestres brasileiros e portugueses.

Acometido de enfermidade nos pulmões, o padre Pedro de Paula Barbosa faleceu em Nova Cruz, em 4 de março de 1923. Seus restos mortais repousam na Igreja do Bom Jesus das Dores.

A Praça Leão XIII foi inaugurada em 12 de outubro de 1919, em cerimônia presidida pelo Governador Ferreira Chaves, que proferiu o discurso inaugural, seguido pelo major Fortunato Aranha, que falou em nome da Intendência Municipal.

Aquele importante logradouro público passou a ostentar belos canteiros floridos e um singelo coreto de alvenaria, sem o luxo dos similares edificados em outras praças.

A praça foi durante algum tempo, o ponto chique da cidade, onde as moças e os rapazes circulavam pelos passeios laterais. À época, cogitou-se de mudar a denominação da praça, porém uma série de artigos de Zaborda, publicados na primeira coluna do jornal “A República”, sobre o papa Leão XIII, divulgando as glórias do grande Pontífice, consolidou a denominação de Praça Leão XIII.

Praça José da Penha

Em 11 de outubro de 1930, a praça foi denominada Capitão José da Penha, pelo Ato nº 4 do Prefeito Municipal.

José da Penha Alves de Souza nasceu em Angicos RN, no dia 13 de maio de 1875. Abraçou a carreira militar, tendo se apresentado aos 2 de agosto de 1890, com apenas 15 anos. Atingiu o posto de alferes em 3 de novembro de 1894, tenente em 27 de agosto de 1908 e capitão em 2 de agosto de 1911.

O Capitão José da Penha era detentor de grande espírito de justiça. Segundo o historiador Câmara Cascudo, “desde alferes inicia a campanha de justiça social, de respeito às leis, de veneração aos direitos públicos, de honestidade administrativa, de aplicação restrita das rendas estaduais aos serviços coletivos’’.

Foi grande defensor dos jovens, dos trabalhadores e dos pequenos negociantes. Foi o primeiro militar norte-rio-grandense a apelar diretamente pelo povo. Magnífico orador, erguendo a voz conclamadora nas praças, ruas, caminhos e nas estações da
Estrada de Ferro.

José da Penha combateu no Ceará, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco, tendo sido deputado estadual no Ceará. Morreu em Miguel Calmon Ceará, aos 22 de fevereiro de 1914, após derrotar trezentos jagunços em Juazeiro, apesar de contar com um contingente numericamente inferior ao inimigo, e com uma reduzida quantidade de armas.

Natal homenageou aquele notável potiguar, dando o seu nome a um importante logradouro público da cidade, em plena efervescência da Revolução de 1930.

Descaracterização da Praça e arredores

Atualmente a Praça José da Penha já não é mais aquela, inaugurada em 1919. Perdeu a beleza e a utilização de outrora, teve sua área reduzida, cortada pelo prolongamento da Tavares de Lira.

Em frente à praça, ainda está a Igreja do Bom Jesus das Dores, já bastante descaracterizada. Sua fachada barroca foi grosseiramente modificada, apresentando atualmente um revestimento de azulejos.

Ao lado da praça, vê-se ainda o prédio do antigo Grande Hotel, inaugurado em 1938, no mesmo local onde existia um casarão que servira de residência ao Capitão José da Penha e que, posteriormente, foi o lar de infância do grande mestre potiguar Luís da
Câmara Cascudo.

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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