Por Mônis de Lima
Da quebrada da zona Oeste da capital potiguar, com a ousadia e espírito de guerreiro de um filho de Xangô, o rapper Cafuzo da Baixada, traz para cena do rap e funk nordestino e nacional o lançamento potente da música Som de Quebrada, que com ginga e malandragem, bate de frente com a realidade da necropolítica local da cidade de Natal, e que além de subverter a representação colonizada das periferias, trás o que de melhor se encontra na margem: fé, alegria, talento e garra para se reinventar e sambar no jogo da sobrevivência.
Baixa do cão, comunidade localizada no bairro Cidade nova, um dos bairros classificados no mapa de homicídios da cidade de Natal, que assim como muitas quebradas espalhadas pelo mapa do nosso país, é vítima da guerra do crime organizado, financiada pela milícia racista presente na capital, ameaçando assim, os quilombos urbanos que se articulam nesses territórios marginalizados; mas é diante dessa realidade que o trampo do MC potiguar te convida a fazer uma travessia pelas possibilidades ancestrais, que com o axé dos mais velhos, e dos mais novos, reconstrói e reformula os sentidos e prazeres de vida, para a população negra e cabocla da comunidade.
De cabelo na régua, corrente de prata no pescoço, ferro na cinta e camisa de time, jovens negros ostentam sorrisos e contrariam as estaticas, se autodefinindo, formando famílias e protagonizando um movimento sociocultural, que através da cultura de rua, do rap e do funk, constróem performaces potentes e decoloniais em corpos pretos e periféricos que com sua existência gritam arte e ancestralidade.
A lírica de Som da quebrada, carrega a vivência do MC, que assim como Xangô é o senhor da justiça segue construindo um legado de luta, denúncia e libertação. A música denuncia o racismo estrutural que rouba sonhos da juventude negra todos os dias no bairro Cidade Nova, mas para além da denúncia, a composição traz o poder do atabaque no beat e a mensagem certeira que firma um futuro, onde há expressão!
E o que me encantou profundamente em todo trabalho da música e do audiovisual, foram as representações e expressões dos próprios moradores da comunidade, enquanto sujeitos que produzem seu próprio reconhecimento, que amam o que enxergam no espelho e na selfie do celular, que demonstram afetos entre si, que dançam, que fumam um, sorriem, e desenvolvem em pequenas expressões diárias, uma abertura de caminho na afirmação da humanidade deles próprios, sujeitos que foram precarizados pela história.
O compromisso que o rap e o funk assumem com o avanço das ruas, e com a classe trabalhadora presente nesses quilombos urbanos, é de uma importância essencial, pois além de preservar a cultura ancestral dos mestres de cerimônia que com a cultura oral registram a história, educa crianças e jovens que vivem na margem, e buscam inspiração e sua história, para firmar seus passos.
“É som de perifa sem vacilação”, que trás o proceder das ruas afirmando o corre no verso “No dia a dia a batalha é dura, fim de semana é só diversão”. O trampo “Som de Quebrada” foi produzido pelo beatmaker e produtor musical @dkbeats, o audiovisual produzido pela NAVnoar (@navnoar), e contou com a fotografia de @emanuismo.
Para conferir o trabalho de Cafuzo da Baixada (@cafuzodabaixada) e da cena periférica do hip-hop de Natal na íntegra clica no link abaixo e assista o trampo dessa equipe que se garantiu.
Bora fechar a ideia certa comigo, de que o futuro é ancestral e vem das ruas nordestinas
Cafuzo da Baixada
Músico e estudante de produção cultural pelo IFRN. Iniciou sua carreira artista em 2009 participando do Movimento Cultural Reggae na Calçada.
Em 2013 lançou seu primeiro trabalho solo: um EP contendo 5 faixas no estilo Raggamuffin que teve uma boa recuperação local e nacionalmente se apresentando em festivais como Grito Rock João Pessoa e Festival DoSol em Natal, esse último em 2018.
Junto com outros dois músicos criaram a Banda Dega que em 2018 lançou o CD ‘Sociedade Pós Verdade’, um álbum aclamado pela crítica potiguar pelo conteúdo abordados nas letras, um som original de resistência e denúncia.
Em 2019 Cafuzo da Baixada retoma seu projeto solo com o Vídeo Clipe Gato Preto produzido pela Studio Navnoar e contou com a participação do MC Juk Santos.
Hoje, o Rapper lança seu novo trabalho, o videoclipe Som de Quebrada.
Videoclipe Som de Quebrada
FICHA TÉCNICA – VÍDEO
Studio Nav no Ar
Direção e Roteiro: Thales Victor
Captação: Jônatas Barbalho, Thales Victor e Emanuismo
Edição e Finalização: Jônatas Barbalho, Thales Victor, Juca Santos
Logo Motion e VFX: Juca Santos
Edição de Áudio: Dk Beats, Jônatas Barbalho, Thales Victor
Making of Fotográfico: Emanuismo
Estilo: Cafuzo da Baixada, Thales Victor
Produção Executiva: Cafuzo da Baixada
Figuração: Kamal Firmino, Moradores da comunidade.
Assistência: Isabela Oliveira, Juk Santos, Diniz K9
FICHA TÉCNICA – MÚSICA:
Produção Executiva Cafuzo da Baixada
Composição: Cafuzo da Baixada
Batida: Dk Beats
Percussão Orgânica: Aiyra
Mixagem e masterização: Dk Beats