Apanho um táxi para ir a La Boca. O motorista não sabe muito bem, onde fica, o que me causa estranheza, pois La Boca é um dos mais famosos bairros de Buenos Aires. Reduto legendário de artistas e boêmios. Finalmente, chego lá. Mando parar o táxi perto de Caminito.
Um odor forte, penetrante, que me parece vir do porto, desperta-me a curiosidade. Sabe a frutas, a óleo de máquinas, e impregna o ar da manhã.
Caminito me desconcerta. Pequena rua, espécie de calçadão, ornamentado com obras de artistas plásticos argentinos. Mas, o que chama atenção, mesmo, não são tais obras – algumas medíocres –, mas as casas: de madeira e chapa, pintadas de cores vivas, num delírio de azuis, vermelhos, verdes. Kitsch?…
O visual não me arrebata. Tanta é, no entanto, a fama do lugar, que ele deve ter uma magia, na qual eu, por ignorância, não penetro.
Surpreende-me o metrô, o subte, como chamam. Velho, de doze. A linha Plaza de Mayo – Primeira Junta é um museu vivo.
De metrô lá vou eu a Palermo, o bairro preferido de Jorge Luis Borges. Bairro diferente, único. Verde, verde. Vastos parques encantam a vista. Monumentos em profusão (um deles – a Sarmiento –, obra de Rodin) e largas avenidas.
Paro num quiosque para comer alfajores. Ali perto, sozinho, um sujeito com cara de índio assovia, desesperadamente, uma canção nostálgica. Tenho vaga lembrança dessa melodia. De que disco a conheço? Ah! sim, de um de Mercedes Sosa.
No Jardim Zoológico chamam-me a atenção os lobos-marinhos. Mansos, vêm pra cima das pessoas. Esquisitos animais, esses. Um deles põe-se a urrar (?) As lhamas também me despertam especial interesse. Como são graciosas!
La Recoleta. Bairro grã-fino, também cheio de jardins e monumentos, como Palermo, só que em ponto menor.
No cemitério – uma cidadezinha de mausoléus – procuro o túmulo de Eva Perón. Numa alameda solitária cruzo com um indivíduo magro e macilento, a roupa branca, suja de barro e sangue (pareceu-me). Seria um perito criminal em trabalho de exumação? A meu pedido, ele me mostra o mausoléu de Evita. Cortês, leva-me até lá. O mausoléu, todo em granito negro, não é dos mais imponentes. Algumas flores já murchas, enganchadas na grade de ferro, atestam a devoção popular para com a memória de um mito.
Logo ao lado do cemitério, a Basílica de Nossa Senhora do Pilar, de 1732, restaurada em 1930, encanta o olhar, na graça de suas linhas coloniais. Impressionante, o altar-mor, com seu grande balcão frontal (escapa-me o termo técnico), todo em prata lavrada, reluzente, uma maravilha.
Da basílica vou ao Museu Nacional de Belas Artes. Muitas pinturas e algumas esculturas, da Renascença ao Impressionismo. Bom acervo, porém menos importante do que o do MASP, por exemplo. Destaque para a pintura argentina.
A poucos passos do Nacional de Belas Artes, o Museu de Arte Decorativo, acervo pequeno, instalado em suntuoso palácio. Valeu a pena visitá-lo.
Chão de origem da cidade, hoje concentrando antiquários e casas de tango, San Telmo é um dos bairros mais charmosos.
Aos domingos, a Plaza Dorrego torna-se atração principal de San Telmo, com a sua grande feira, barracas mil, repletas de antiguidades, artesanato, obras de arte, etc.
Na Calle Humberto I, transversal à praça, visitei a Igreja de San Pedro Telmo. Junto ao Parque Lezama vi de relance a Igreja Ortodoxa Russa, tão decorativa, as torres de um azul vibrante, em forma de suspiros. Também nas imediações do parque, o Museu Histórico Nacional, que apresenta um panorama da conflituosa História da Argentina, incluindo uma sala dedicada à Guerra das Malvinas.
O tango já teve sua época. Hoje em dia é mais coisa “para turista ver”. Há inúmeras casas de tango, mas eu nada sei dizer delas, pois a nenhuma fui. Preferi comprar cds de Carlos Gardel, de Francisco Canaro, etc.
Dizem que El Viejo Almacen é uma das melhores casas para dançar e ver dançar tango.
Museo Mundial del Tango (Av. Rivadavia, 830), Museo Cultural del Tango (Maipu, 666), Museo Casa Carlos Gardel (Jean Jaures, 735) e Academia Nacional del Tango (Avenida de Mayo, 833, 1º andar) são endereços onde se cuida de preservar a memória da mais típica das músicas portenhas.
Em matéria de gastronomia, Buenos Aires nada fica a dever a São Paulo. Tem restaurantes para todos os gostos. E – o que é óbvio – as melhores churrascarias do mundo, lá denominadas parrillas. Cada pedação de carne… Delícias acompanhadas de um bom vinho de Mendoza.
Puerto Madero é um complexo turístico, na zona portuária, perto do centro, em que predominam restaurantes. Outro roteiro gastronômico pode ser feito em La Recoleta (preços altos), nas proximidades da belíssima Basílica de Nossa Senhora do Pilar.
Nos inúmeros cafés, seja na Recoleta, seja no Centro, seja em San Telmo, você se senta a uma mesa, pede um capuccino com medias lunas (croissants) e, se quiser, lê jornal, escreve, transforma a mesa em escritório, e ninguém vem lhe importunar.
Em Buenos Aires não há self service, isto é, comida a quilo, que eu saiba, mas encontra-se bufês a preço fixo, para o prato nosso de cada dia.
O mais comum, no entanto, é o serviço a la carte.
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CRÉDITO DA FOTO: Caminito. Publicado no blog O Mundo é Seu