“Tudo como dantes no quartel de Abrantes” é uma expressão portuguesa do tempo napoleônico para dizer que tudo vai ficar na mesmice em várias áreas, principalmente na cultura tupiniquim, seja por falta de uma política cultural eficiente por parte dos governantes ou pela inércia dos empresários que não promovem a arte potiguar, ligando sua marca à tradição cultural de nosso povo. A perspectiva para as artes potiguares em 2017 é que elas vão continuar fazendo a mesma coisa, o feijão com arroz.
A Música continua sendo a principal manifestação artística em consumo. Idealizada pela cantora Valéria Oliveira, a campanha “Música Potiguar – Nosso Som Tem Valor”, tem espaço constante na InterTV Cabugi. Outras manifestações artísticas norte-riograndenses como artes plásticas, fotografia, teatro, literatura, circo, dança, cinema, grafite, hip-hop, entre outras, deveriam ter o mesmo espaço para serem vistas e valorizadas. Por que só a música potiguar tem valor?
Todos presenciamos um fenômeno de mídia imediata com a banda natalense “Plutão Já Foi Planeta” que caiu no gosto popular muito rápido graças a aparições na TV Globo. Mas, a tendência da banda é se nivelar às bandas locais, em ascendência. A boa surpresa de uma musicalidade madura é a banda “Luiza e os Alquimistas”, sonoramente conceitual e sem a preocupação do sucesso midiático.
Todos nós temos a impressão que 2016 ainda não terminou e continuamos vivenciando o desdobramento de algumas ações de um passado recente. Na real, a gente sabe que o ano só começa mesmo depois do carnaval. As férias escolares também ajudam a deixar a província vazia em janeiro, uma tradição daqueles natalenses que têm casa de praia ou se hospeda na varanda da casa dos amigos para curtir o “veraneio”. De Sagi à Tibau não falta opções para uma boa curtição.
O ano mal começou e as Artes Plásticas potiguar perdeu Dorian Gray, o último artista modernista da província. Mas, a safra de bons artistas plásticos é muito boa. Escultores como Luzia Dantas, em Currais Novos, ainda está na ativa, retratos do sertão do Seridó feitos do tronco da imburana. Em Natal, Carlos Sérgio pinta, borda, faz cenários para espetáculos, alegorias de carnaval, entre outros materiais artísticos. Fábio Eduardo pinta desde de Dom Quixote aos cangaceiros de Lampião numa perfeição estética que dá gosto de ver.
O Teatro é outra arte sempre em evidência pelos movimentos mambembes e a qualidades dos grupos que atuam, principalmente em Natal e Mossoró, que tem projetado artista para novelas e seriados globais. Em 2017, o cinema potiguar vai continuar com seus produtores heróis tentando fazer festivais para uma plateia de meia dúzia. O curso de cinema numa universidade particular de Natal não vingou como esperado e findou formando meia dúzia de cineastas. Portanto, o tão almejado “núcleo do Cinema de Potiguar” não vai acontecer em 2017 e vai ser mais um sonho bom. O jornalista e cineasta Edson Soares está trabalhando num longa-metragem “Nova Amsterdam” desde 2012, aonde atores globais atuam. Até hoje, esse filme não foi lançado. Tudo indica que a estreia será agora em 2017.
A Literatura é a arte mais aclamada, a que melhor traduz toda identidade cultural desse “erre êne sem sorte”, onde intelectuais dialogam com outras artes dentro da boemia natalense entre um boteco e outro. Somente no Beco da Lama há 16 poetas por metro quadrado. Se forem todos ao Bardallo’s numa noite alucinante de sábado não caberiam no mesmo espaço. É provável que não aconteça os tradicionais festivais com várias artes como: MPBeco, Carnabeco, Pratodomundo (Festival Gastronômico), Gardenia’s Day, entre outros. Esse ano, haverá uma enxurradas de lançamentos de livros pelo Sebo Vermelho, editora reveladora de talento e de relançamento de pérolas da literatura norte-riogrande.
A Literatura tem tanto destaque que, mal começou o ano e o poeta natalense Lívio Oliveira, autor de “Telha Crua”, foi eleito imortal na Academia Norte-riograndense de Letras (ANL). Em Currais Novos, a escritora e poetiza Maria Gomes (Maria Maria) acabou de lançar o romance “Na Sétima Curva do Sol”, mostrando sua prosa poética de alto nível para descrever as aventuras de um cigano Kalon pelo sertão do Seridó. Arisco em dizer que depois de José Bezerra Gomes e seu aclamado livro “Os Brutos”, esse romance de Maria Gomes é o mais importante já produzido na árida terra currais-novense.
FOTOGRAFIA
Em 2017, a Fotografia vai continuar sendo uma arte de vanguarda, apesar de Natal não dispor de boas galerias para uma exposição fotográfica. Porém há escolas de fotografia de qualidade como o “Engenho de Fotos” e “Duas Estúdio” que formam fotógrafos e leitores/consumidores de fotografia. Em 2014, durante 3 dias, Natal vivenciou o “Foto Riografia do Norte”, o maior festival de fotografia que o Estado do RN já viu. Estiveram presentes importantes nomes da fotografia cultural nacional como Miguel Chikaoka, que ganhou a medalha do Mérito Cultural Nacional das mãos da então presente Dilma Rousseff.
A qualidade (técnica e de criatividade) da Fotografia praticada no RN não deve em nada para os grandes centros produtores de imagens como SP, RJ ou MG. Em Natal, atuam fotógrafos do quilate de Marcelo Buainain (FOTO que ilustra este post), que já trabalhou em revistas como Manchete, Veja, IstoÉ, El Paseante e jornal Folha de São Paulo. Seu trabalho autoral é reconhecido no Brasil e internacionalmente. Pablo Pinheiro também atua na fotografia natalense, que recentemente foi contemplado pelo prêmio Marc Ferrez de Fotografia, um dos mais importantes do segmento no Brasil com um trabalho entre Vaqueiros e Gaúchos, unindo os dois Rio Grandes pela fotografia e pela tradição da criação de gado.
No interior do Rio Grande do Norte, a fotografia também ganha destaque pelas lentes de Jean Lopes, de Açu, um dos maiores ganhadores de prêmios de fotografia nacionais e internacionais. Em Mossoró, os feras Ricardo Lopes, Pacífico Medeiros e o jovem José Bezerra Gomes produzem arte fotográfica todo dia. Em Macau, Getúlio Moura é reconhecido pelos conterrâneos como um fotógrafo diferenciado há mais de 20 anos. Em Currais Novos, a fotografia macro de Pedro Morgan nos mostra nuanças do mundo minúsculo com arte e beleza.
Em 2017, a tendência é que a Fotografia Potiguar evolua na qualidade técnica com seus artistas incrementando mais luz no processo de criação. É verdade que os espaços para expor fotografias de arte quase não existe. O equatoriano Fernando Chiriboga, autor de 12 livros de fotografia, que mora e atua em Natal, criou uma galeria para expor sua produção no Midway Mall. Faz tempo que os fotógrafos culturais pedem a compreensão dos órgão de cultura para que se crie o “1º Salão de Fotografia de Natal” e alguns gestores fazem ouvido de mercador. Sinceramente, acredito que no contexto das “artes potiguares” tudo vai ficar como antes no quartel de Abrantes porque a pasmaceira é grande.
1 Comment
Meu caro Alex Gurgel
Teu artigo sobre Artes tá bem “escritivo-e-descritivo”. Vc dá uma geral bem informotiva.
Parabéns! Só senti falta do registro do esforço do romancista Aluísio Azevedo (ex Nobel) em levar uma Coletânea da canalhada de escribas para lançar no FestLiterário de Cuba. Entre os quais tenho a honra de estar.
Fica o registro e o abraço
Ruben G Nunes