“Meu querido!”. Era assim que Lula chamava mesmo quem não conhecia. Do garçom ao amigo íntimo. De tanto muitos passaram a chamá-lo assim também. Eu era um deles. E as palavras saíam sem esforço. Augusto Luís Andrade Gomes, nosso Augusto Lula, era mesmo um querido. Partiu por volta das 23h30 de ontem. Ou descansou da luta contra um câncer nefasto. E “largou” sua amada Dani Brito no fim da noite de ontem, como ela postou nos stores. Lula e Dani formavam um casal divertidíssimo. Tive o privilégio de algumas cervejas em sua residência em Capim Macio.
Lula tinha seu jeito abusado, por vezes, numa mistura contraditória de introversão e verborragia. E era delicioso ouvir da ira à poesia. Esse jeitão lhe emprestava um ar outsider. Era seu charme. Mas Lula também circulou no mainstream. Foi videomaker de algumas das maiores campanhas políticas do Estado. Também esteve envolvido no processo de digitalização do clássico filme Boi de Prata, um marco do cinema nordestino, do seu xará Augusto Ribeiro Júnior. E teve ainda uma gestão marcante como presidente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba), em época efervescente da entidade.
Quando escuto Sergio Sampaio – e escuto com certa frequência – lembro muito de Lula. Foi ele e Dani quem o recepcionaram na única vez que o compositor “maldito” esteve em Natal, acho que em 1991, para cantar no Casablanca, em Ponta Negra. Se esse texto tivesse uma trilha seria Leros, Boleros, de Sampaio. É bem a cara de Lula. E se fosse poesia, algo de Maiakovski. Lula era leitor ávido, culto, irônico… Guardarei ótimas lembranças dele. Mais um personagem do Beco que se vai. Um querido que partiu para fazer seus filmes em outro plano.
