“A Academia de Letras se compõe de 39 membros e um morto rotativo”. A frase sarcástica de Millor Fernandes tem um fundo de verdade. A imortalidade pertence apenas às fotos nas paredes, ao legado, ao status.
Recentemente tivemos a triste perda do crítico literário e jornalista Nelson Patriota, e mais uma vez se abriu vaga para uma cadeira na Academia de Letras do Rio Grande do Norte, precisamente a de nº 8, ocupada então pelo seu tio Nilson Patriota.
Dois nomes já concorrem à vaga. Um, de mérito. Outro, por indicação. Mais uma indicação quase imposta pelo presidente Diógenes da Cunha Lima, que completará nada menos que 37 anos de mandato, completados, muito, em razão dessas próprias indicações.
Funciona da seguinte forma: eu lhe indico, você é eleito sob favor recíproco para a eleição seguinte para presidência da ANL. E assim, desde o século passado e a cada biênio Diógenes é reeleito, sem margem de erro, na maioria das vezes sem sequer concorrência.
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Diógenes fez história na ANL. Tem inúmeros méritos à frente da instituição e pode entregar uma prestação de contas relevante de sua gestão. Apenas não cabe mais a velha política. Nem na ANL nem em qualquer esfera de poder.
“Nome nacional” x nome local
A indicação de Diógenes é o jornalista Gaudêncio Torquato. Segundo dizem nos corredores da ANL, porque a Academia precisa de “um nome nacional”. Gaudêncio é colunista político de importantes órgãos de imprensa nacionais.
É sim um ótimo nome e o presidente já tratou de ligar para vários “imortais” “pedindo” voto. Mas do outro lado, um nome realmente das letras, das artes: um escritor. E se não tem a relevância nacional, vem de um país enorme chamado Mossoró.
David de Medeiros Leite, professor da UERN, doutor pela Universidade de Salamanca, Espanha. Tem inúmeros livros publicados, de poesia à crônica. Escreveu talvez o melhor livro do ano passado, o romance “2020”. É um nome para interiorizar mais os limites da Academia e participar ativamente dos novos projetos da instituição.
Mas, tudo indica, virá mais uma indicação do presidente. E assim, David sofrerá derrota parecida com a do dramaturgo Racine Santos, que perdeu duas vezes para nomes menos vocacionados ao posto de imortal das LETRAS, e não da advocacia ou do jornalismo político.
Torço por uma Academia da poesia, do romance, das crônicas, contos e ensaios. Uma academia de letras propriamente dita. Uma academia com ares modernosos, ativa, vigilante, com mais mulheres e mais apreciada pela sociedade.
A próxima eleição para o novo biênio da ANL será em novembro deste ano. A disputa entre Gaudêncio Torquato e David de Medeiros Leite, ainda sem data, provavelmente ocorra no próximo mês de fevereiro.
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Torso por David de Medeiros Leite, um nome digno que, com certeza, honrará a cadeira que o espera.