Devastação

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Nas mitologias gregas e romana Gaia era a Mãe Terra e, por consequência, a mãe de todos os seres vivos. Em 1979, o cientista inglês James Lovelock elaborou a hipótese da Terra como organismo vivo. Ao longo das últimas cinco décadas, vários compositores passaram a usar em suas canções a defesa e a preservação do Meio Ambiente. Oito anos antes da hipótese de Lovelock, o cantor americano Hurricane Smith gravou a música  de sua autoria Don’t Let It Die, que foi sucesso mundial, cuja letra parecia uma profecia:

DON’T LET IT DIE (Tradução)

Ao lado da montanha, a flor cresce

Ao lado do rio onde a água brota para sempre
A vida da floresta, o mistério, a longa e graciosa história da vida

Não deixe isso morrer, não deixe isso morrer
O tigre é livre, o canguru depende de mim e depende de você

O que nós vemos é o que nós escolhemos
O que nós matamos ou perdemos para sempre
O mundo é nosso para chorar por ele
Mas, e se é tarde demais para recomeçar de novo?

Não deixe isso morrer, não deixe isso morrer, ou diga adeus no fim

 

Em 1974, (cinco anos antes da hipótese de Lovelock) o cantor e compositor natalense Leno compôs e gravou Flores Mortas, que foi destaque em uma das edições do Fantástico e bateu recordes de execução em diversas emissoras de rádio do Brasil:

FLORES MORTAS

No lugar onde, em criança, eu brincava e sonhava
Hoje tudo é feio e triste, nada existe pra sonhar
Por quê? Por que eu não sei

No lugar daquela árvore, onde escrevi seu nome
Corre agora uma avenida por onde você se foi                                                                                                                                        Por quê? Por quê?
Por que o amor se esconde entre a fumaça e ninguém vê?
E pouco a pouco as flores deixam de nascer

A ambição faz com que esqueçam quanto vale a natureza
E é de asfalto e de concreto que eles plantam seu jardim

 

Em 1980, outro cantor brasileiro gravou Devastação no seu terceiro LP.  A letra fazia uma defesa ferrenha da preservação do Meio Ambiente, numa linguagem agressiva e sem rodeios. Hoje a mensagem da música está mais atualizada do que nunca e parece ter sido uma profecia que está se cumprindo:

DEVASTAÇÃO

Estão acabando com tudo que existe na terra
Por culpa de uma raça mesquinha, egoísta e vulgar
Esquecida dos dez mandamentos de quem lhe criou
Eles plantam cidades de pedra e matam a flor
Verdes campos agora não passam de terras sofridas
Animais que assistem a sua extinção
Tudo isso por que não se tem respeito a vida
O progresso seria bonito sem destruição
A miséria espalhada por todos os cantos do mundo

Há doenças matando e ninguém sabe dizer por que
É preciso mudar, pois quem sabe ainda há tempo
De salvar esse pouco que resta pra gente viver

Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus!
Você ensinou, infelizmente ninguém aprendeu!

 

Hurricane Smith morreu em 2008, aos 85 anos; Leno faleceu em 2022, aos 72 anos. De todos, o que partiu ainda jovem, foi o que gravou Devastação: nos deixou com apenas 32 anos, em 1989. Seu nome? Carlos Alexandre.

Em épocas diferentes, cantores de estilos completamente diferentes, deram, cada um a seu modo, dentro dos seus estilos, seus recados em defesa do Meio Ambiente e de Gaia, a Mãe Terra que parece agonizar.

OBS: Todas as canções citadas neste artigo encontram-se disponíveis no Youtube

Fernando Luiz

Fernando Luiz

Cantor, compositor, produtor cultural e apresentador do programa Talento Potiguar, que é exibido aos sábados, às 8 horas pela TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.

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