Sobre a Academia de Letras e o livro de Carlos Peixoto

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Que vem a ser uma Academia de Letras?

Instituição de natureza privada, sem fins lucrativos, destinada a fomentar a cultura, especialmente a literatura, zelando pelo idioma pátrio. Eis como a definem alguns autores.

Certas “cláusulas pétreas” de sua “constituição”, conferem-lhe feição única, inconfundível. Por exemplo, compõem-se de, no máximo, 40 cadeiras – o que lhe dá caráter de clube fechado –, e obedece a determinados ritos, imprescindíveis.

Sendo, como ficou visto, guardiã do idioma, deveria, logicamente, integrar-se apenas por escritores, artistas da palavra. Todavia, já nos seus primeiros tempos, a Academia Brasileira de Letras, cognominada academia-mãe, acolhia elementos alheios às letras, porém participantes do mundo cultural, como por exemplo, Santos Dumont, Oswaldo Cruz e o Barão do Rio Branco. Essas ilustres personalidades e outras, que vieram depois, passaram a ser chamadas de “expoentes”.

No livro “Academia Brasileira de Letras – Histórias e revelações” (2003), Daniel Piza, após citar Machado de Assis, primeiro presidente, e dizer da sua importância, refere-se a outro dos fundadores – Joaquim Nabuco – considerando-o não menos influente que o bruxo de Cosme Velho. E acrescenta:

“…foi o maior defensor da ideia de que a Academia, tal qual na França, não se limitasse a escritores e abrisse vaga para homens públicos (…), mesmo quando não tivessem obra literária digna do nome.”

A presença de “expoentes”, segundo Joaquim Nabuco, serviria para dar relevo público à ABL. “Nós precisamos de um certo número de grands seigneurs de todos os partidos”, escreveu a Machado de Assis, em 6 de dezembro de 1901. “Não devem ser muitos, mas alguns devemos ter mesmo porque isso populariza as letras.”

Grande escritor e homem público, Nabuco sabia das coisas, tanto assim que, referindo-se aos “expoentes”, ressalvou: “Não devem ser muitos”. Com certeza, tinha consciência de que uma academia, com predomínio de notabilidades em detrimento de escritores e poetas, estaria fadada a cair no mais completo descrédito.

NA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS

Nas últimas sessões de posse realizadas na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, não se manteve a praxe herdada da Academia Brasileira, segundo a qual o novo empossado deve proceder ao elogio do seu antecessor, traçando-lhe verdadeiro perfil biobibliográfico e crítico.

Antigamente dava-se grande importância aos discursos acadêmicos de posse; alguns destes constituíam pequenas obras-primas, como o de Gilberto Amado, na ABL, e o de Américo de Oliveira Costa, na ANRL. Hoje em dia, tradições acadêmicas, como essa, estão sendo subestimadas. Lamentavelmente.

Outra praxe acadêmica tem sido desconsiderada, na ANRL. Candidatos a uma cadeira vaga compareceram, ultimamente, à sessão eleitoral, mas a etiqueta, de longa data, é no sentido de que aguardem o resultado da apuração fora da Academia, esperando comunicação que o Presidente lhes fará por telefone.

Por falar em ANRL, soube que o escritor e pesquisador Thiago Gonzaga tem como objeto de estudo, em sua tese de doutorado na UFRN, uma seleção de discursos de acadêmicos fundadores da entidade – Virgílio Trindade, Palmyra Wanderley, Clementino Câmara, Floriano Cavalcanti e Francisco Ivo, os quais escreveram, respectivamente, sobre Lourival Açucena, Auta de Souza, Ferreira Itajubá, Antônio Marinho e Gothardo Neto – elementos essenciais para formação do cânone literário potiguar.

Thiago Gonzaga, intelectual bem conceituado, com vários livros publicados, muito tem feito pela ANRL, sendo, inclusive, há anos, editor da revista da instituição. Sem dúvidas, merece vir a figurar entre os imortais da Casa de Manoel Rodrigues.

LEITURA QUE RECOMENDO

Jornalista experiente, já um tanto distanciado das redações, Carlos Peixoto publicou, em 2021, “Lendas da Revolução” (Caravela Selo Cultural), na qual reconstrói, com imaginação e criatividade, episódios da Insurreição Comunista de 1935 e, ao mesmo tempo, narra um caso de amor entre um soldado e uma empregada doméstica, numa Natal sob efeito de grande turbulência política. Boa leitura, que deixa um gosto de venha mais.

O autor voltou a incursionar pela ficção com o “Livro dos sonhos” (Off-set/Ciropédia, 2023), obra instigante, contendo uma série de textos curtos (Contos? Crônicas? Poemas em prosa? – ou tudo isto), com grande unidade temática e formal. As narrativas que a compõem, transcorrem num clima onírico, surreal, prendendo a atenção do leitor (e intrigando-o), da primeira à última página.

O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Responde Racine Santos, dramaturgo, ficcionista, poeta e ensaísta, com vários livros publicados:

– Releio “Os Contos de Cantuária”, de Chaucer.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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