1- Quais as lembranças mais remotas de sua infância?
Minha mãe, minhas tias, o infinito verde do vale. Mesmo com uma vida muito difícil, eu era feliz, vivendo no paraíso que foi minha terra. Banhos de rio, roubar mangas e outras frutas dos quintais, o circo, o cinema, o trem, a igreja com suas festas deslumbrantes. Descobrir a devoção a Nossa Senhora da Conceição.
2- Seu pai faleceu quando você era um menino. Que lembranças você guarda?
Quase nenhuma lembrança, a não ser me colocando no ombro como São Cristovão carrega o menino Jesus.
3- Como ficou a sua família após a morte do seu pai?
Numa situação de quase miséria, ajudada por parentes, quase sempre generosos, dentro de suas limitações. Minha mãe trabalhava em funilaria, remendando panelas e penicos.
4- É verdade que você, ainda criança, morou numa cidade do Paraná?
Morei e trabalhei na agricultura, apanhando algodão e limpando covas de café, próximo da cidade de Santa Cecilia do Pavão, na zona de Londrina, Paraná. Ainda sinto o perfume das araucárias.
5- Para ajudar nas despesas domesticas você tornou-se baleiro e vendedor de cavaco chinês nas ruas de Ceará-Mirim. Conte-nos algo a respeito dessa sua vivência.
Para escapar de muita pobreza, vendi de tudo. Difícil é dizer o que não fiz para ganhar a vida, para ajudar minha mãe. Aí começaram “minhas universidades”.
6- Quando e como você despertou para a vida religiosa?
Pelo conhecimento com o Padre Rui Miranda, meu parente, amigo e benfeitor, o anjo da minha juventude. Eu já gostava de ler meus livros da escola, li os livros da biblioteca paroquial e os do próprio padre. Então descobri que eu era uma bosta e quase fico doido para ser santo. Doença que tenho até hoje.
7- Quando e porque você ingressou num seminário? E sua experiência como seminarista?
Praticamente, não tive vida de seminário. Uma semana de fome e decepção.
8- Você foi funcionário dos Correios e Telégrafos? Onde trabalhou?
Fui para o Rio de Janeiro (1958), para a casa do meu tio Júlio Gomes de Senna, que, não tendo o que fazer comigo me botou nos Correios. Bendito seja ele.
9- Como se deu a descoberta da literatura?
Lendo livros da escola, cordel, as conversas com pessoas cultas, os quadrinhos, o cinema, os dramas do circo, etc.
10- O que significou para você “As Cocadas”?
“As Cocadas” (ponto de encontro na Pça. Kennedy, Natal) foi uma dessas esquinas da vida, nascedouro de grandes amizades, outras fugazes, um picadeiro de mim, palhaço crônico e detonador de hipocrisias.
11- Por que o cognome Dom Inácio, Bispo de Taipu?
Um deboche de mim mesmo e de grande número de pessoas ocas e de títulos, como uma que conheci, que era burro em três línguas.
12- Quais os livros de sua autoria?
Duas bobagens de minha personalidade barroca e bizantina.
13- Sendo você um grande cinéfilo, diga-nos quais os melhores filmes a que assistiu?
Sou um jumento carregado de latas de filmes e seriados antigos, VHS e DVDs. Citaria uma bela centena, mas falarei apenas em: “Amarcord” e “Noites de Cabíria”, de Fellini; “Umberto D” e “Milagre em Milão”, de Vittorio de Sica.
14- Quais os escritores que mais o influenciaram em sua formação intelectual?
José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Dostoievski e Thomas Hardy.
15- Quais os gêneros literários de sua predileção?
Bons livros de todos os gêneros, principalmente o romance e o ensaio.
16- O que achou do documentário “Seo Inácio (ou o Cinema do Imaginário)”, realizado por jovens cineastas natalenses?
Magnifico. Esses meninos são gigantes, e Hélio (o diretor) é o sol. Fico gratíssimo.
17- Além da literatura e do cinema, que outro tipo de arte o atrai?
Viajar, viajar, viajar.
18- Como você vê o movimento literário no Rio Grande do Norte, na atualidade?
Bom, mas precisando crescer em qualidade, precisando mais botar o ovo do que chocar.
19- Quais sãos seus planos literários para o futuro?
Conhecer gênios escritores na pátria celeste.
20- Quem é o escritor Inácio Magalhaes de Sena?
Uma bosta, que tem a sorte de ter a amizade de Antônio e Everton na “7ª Arte”.
—–
Entrevista concedida ao escritor Thiago Gonzaga em 2015, presente no livro Impressões Digitais: Escritores Potiguares Contemporâneos Vol.3 .