Debinha: 60 anos de samba no pé e na voz

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O samba de raiz tem origem afrobaiana de tempero carioca. Mas tudo que é grandioso e tem talento e respaldo nos campos da simplicidade, deságua nas Rocas, no Beco da Lama… Foi assim com Debinha, nascido Carlos Antônio Ramos, em 1960.

O compositor do samba-enredo campeão de tantos carnavais de Natal conta 60 anos de vida. E se viver é interagir. E se Debinha nasceu e cresceu nas Rocas, são 60 anos de samba – gênero musical mais autêntico do Brasil e trilha sonora da gente simples deste bairro natalense.

O apelido Debinha vem desde os 7 anos. Na década de 60, as Rocas era também berço do futebol local. E o perfil físico do moleque “roquense” futebolista logo foi associado ao meia-esquerda do ABC, Debinha.

E logo o alvinegro se tornou paixão na vida de Debinha. Tentou carreira no futebol. Chegou a jogar nos juniores do América. A troca dos times do coração, explica, foi levada pelo profissionalismo, pela oportunidade do momento. Mais tarde, o mesmo aconteceria com as agremiações carnavalescas.

Ingresso no samba

O ingresso oficial e precoce no samba foi aos 15 anos. Na Rua 3 de Outubro, onde passou a morar, ainda nas Rocas, se reunia o então famoso grupo de bambas João de Orestes – sucesso na década de 70.

“Comecei a tocar tan tan enquanto eles bebiam e conversavam. Depois cantava junto e logo estava no grupo. Já ouvia desde criança Jackson do Pandeiro, Martinho da Vila, Jorginho do Império, Clara Nunes… Tinha o ouvido treinado para o samba. Nas Rocas é raro se ouvir outro ritmo”, lembra.

Dois anos mais tarde, em 1977, Debinha compôs o primeiro samba, dedicado ao bloco de carnaval Os Otimistas, popular nas Rocas. Nessa época, passou a frequentar as serestas e as rodas de samba da lenda do carnaval natalense, mestre Lucarino.

Em 1980, a convite do próprio Lucarino, ingressava pela primeira vez nas agremiações carnavalescas. A estreia foi na famosa Balanço do Morro. Seria o início de uma história vitoriosa no carnaval de Natal.

“Lucarino pediu ajuda para construir o samba-enredo do ano seguinte. Escrevi, junto com Babal e Galvão Filho, e vencemos o carnaval de 82. A música se chamava Chove Prata. Naquele tempo, a cor prata começava a ser usava nos adereços e alas das escolas de samba do Rio de Janeiro”, recorda.

Entre balanços e malandros

No ano seguinte, em 1983, Debinha recebe convite do intérprete de sambas-enredo, Miguel, para participar da arquirrival da Balanço, a Malandros do Samba. Com Debinha, a Malandros venceria os carnavais de 83, 84 e 85.

“Mesmo entre a Balanço e a Malandros, no período que compreende 1980 a 1985, dava suporte para escolas menores como a Período Independente e Calouros Fantásticos. Esta última era a menina dos olhos do ator Raul Cortez, que desfilou na escola por uns cinco anos, também dos sambistas famosos Manoel Farrapo e Djalma Setúbal”.

A saída de Debinha da Malandros do Samba, em 85, marcaria um novo período junto aos grupos de samba.

Em Cima da Hora

Debinha começou a tocar em carnavais da cidade junto com alguns sambistas amigos. O reingresso na avenida do samba veio em boa hora, ou melhor, no Em Cima da Hora.

Sambistas dissidentes da escola Balanço do Morro fundaram a escola Em Cima da Hora, em 1990. E a ascendência foi impressionante. A escola entrou no grupo de acesso no primeiro ano. No ano seguinte, em 91, venceu a chave C. Em 1992, foi campeã da chave B. E em 1993, disputava a chave A com a Balanço do Morro e Malandros do Samba.

“As duas eram hegemônicas no carnaval de Natal. Nunca uma escola de samba pequena havia arrastado o título. Mestre Raimundo Menezes me chamou, e junto comigo, Zacarias Anselmo, Agaci e Gérson. Escrevi o samba Chegou a Hora, Tem que Ser Agora. Resultado: quebramos a hegemonia e vencemos o carnaval, com desfile ainda na Prudente de Morais. Até hoje a Rua do Motor – origem da escola – lembra do feito e canta a música”, se orgulha Debinha.

Rodas de Bambas

Novamente afastado das agremiações carnavalescas, Debinha funda o grupo de samba e chorinho Sapato Novo, em 1995. Junto com Debinha, o compositor-flautista Carlos Zens, Zezinho, Roberto Cabanhas e Pachequinho.

O grupo durou até 1999 percorrendo as casas de shows, hotéis e rodas de samba das Rocas. A saída de Carlos Zens para se lançar em carreira solo provocou a mudança de nome do quinteto para Rodas de Bamba, agora também com o violonista Délcio.

O Rodas de Bamba fez história durante mais de uma década. Em 2008, o médico e apreciador da aura sambista das Rocas e do gênero musical, Zizinho, chamou o Rodas de Bamba para tocar aos sábados no Buraco da Catita. O bar se tornava point da cidade às sextas-feiras, quando apresentava o chorinho.

“Quando começamos a levantar o sábado no Buraco da Catita, houve desavenças internas e o médico Zizinho, então sócio do bar, nos levou para o Centro Histórico”, disse Debinha.

Foto: Franklin Levy

A partir de janeiro de 2009, o Rodas de Bamba passou a se apresentar nas primeiras sextas-feiras do mês na Rua Vigário Bartolomeu, próximo ao cruzamento com a Ulisses Caldas, perto da prefeitura e do camelódromo da Cidade Alta.

O projeto é o Nós do Beco, idealizado por Zizinho. Nasceu como homenagem ao compositor K-Ximbinho. Em cada edição, a rua fica tomada de gente, a partir das 19h30. As participações especiais abrilhantam o som do grupo: o cavaquinho de Chumbinho (parceiro musical de Debinha há 30 anos) e o violão do mestre Silvano, além das canjas vocais de Damiana, grande dama do carnaval de Natal.

Dia Nacional do Samba

O embrião para Natal comemorar o Dia Nacional do Samba, foi lançado por Debinha no 2 de dezembro de 2009.

“Era uma quarta-feira véspera de Carnatal e conseguimos reunir oito grupos de samba da cidade, fechando com Isaque Galvão para festejarmos o Dia do Samba”, se orgulha o sambista Debinha – nome de futebolista, abecedista e sambista dos bons, anônimo para muitos e presente na história dos muitos carnavais.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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