Relembrando Luis Fernando Veríssimo, 12 anos atrás em Natal

luis fernando veríssimo

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São 12 anos desse encontro com Veríssimo, talvez o maior cronista desta nova era brasileira. Entrevista exclusiva para o Diário de Natal. Lembro da sensação estranha de intimidação pela timidez exacerbada dele, e ao mesmo tempo de fácil aceitação pelo jeito pacato, manso, acessível. E lá fui eu, ainda um jovem naquele distante ano de 2007, conversar com um dos ídolos da minha época. Horas depois ele subiria ao palco para tocar seu sax em um show de jazz. Parabéns a este aniversariante, ainda na ativa aos 83 anos.

Sergio Vilar e Luis Vernando Veríssimo

Entrevistar Luis Fernando Veríssimo é tarefa difícil. O cronista-romancista-poeta-músico é mais do que tudo, tímido. Antes encarnasse o Analista de Bagé – notório personagem de seus textos – e desfiasse seu gauchês a torto e a direito. Com esforço, escapa das respostas monossilábicas. Atende aos jornalistas com educação. Talvez para escapar do estereótipo da “estrela” – longe do perfil pacato do cronista.

Aos 71 anos, Veríssimo participou de um bate-papo informal com o premiado jornalista Zuenir Ventura, no primeiro dia do Encontro Natalense de Escritores. Foi convidado para falar sobre a crônica e seu contexto literário. Temática predominante, também, desta entrevista. Está em Natal pela primeira vez, onde ficou até hoje. Consegui pescar algumas palavras de Veríssimo antes que subisse ao palco do evento. E aí está:

Sérgio Vilar – A crônica tem vontade de ser literatura ou notícia?

Luís Fernando Veríssimo – A crônica é esse ser meio híbrido. Metade jornalismo, metade literatura. Mas penso que tem mais pretensão literária do que jornalística.
Os sons do saxofone, por exemplo, podem virar crônica, mas dificilmente uma notícia…

A notícia é uma coisa mais fria, anônima. A crônica é geralmente a opinião de alguém que se identifica e dá um palpite; é uma leitura mais atraente.

Se a crônica é o samba da literatura, qual gênero literário é o jazz?

O jazz é mais de improviso. A crônica não pode improvisar muito.

De repente poderiam ser os blogueiros de hoje, cheios de improvisos?

(risos) De certa maneira, sim. Aproxima-se um pouco dessa linguagem de computador.

Cronista é um poeta do banal?

É uma boa definição. Rubem Braga escrevia crônicas maravilhosas a partir de uma banalidade, um detalhe, um pequeno acontecimento.

Rubem Braga dizia que a crônica vive dos restos do banquete literário. É por aí?

É uma virtude do cronista construir um texto bom, bonito e atraente a partir de quase nada. Isso é uma habilidade, não é defeito.

Fernando Sabino disse que fora dele é onde estavam os assuntos merecedores de uma crônica. Onde o senhor procura seus assuntos?

Independe muito. Às vezes a crônica é um comentário de um acontecimento, um fato; é a opinião do autor. Às vezes é uma ficção baseada em lembranças do autor. Podem ser várias coisas.

Quais cronistas de ofício merecem destaque hoje?

Hoje fica difícil. Vejo pouco. Houve uma grande época da crônica brasileira, justo com Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria, Fernando Sabino e tantos outros. Hoje, a crônica mudou. Muita gente boa fazendo crônica, mas confesso que estou meio desatualizado.

Conhece alguém do ofício por aqui?

Não.

O senhor mora na mesma casa desde os cinco anos. O cronista tem um quê de provinciano?

Depende muito do cronista. Alguns simbolizaram o máximo da sofisticação, da vida urbana. E tivemos o contrário, os que falavam de sua casa.

Falta uma cadeira de imortal na sua casa?

Respeito os imortais. Mas não vejo muita importância nisso.

Quando o cronista dá vez ao músico e quando os dois se misturam?

A música pra mim é passatempo. Nunca cheguei a estudar muito a música. Gosto de brincar com a música, só que toco numa banda que é muito boa, de profissionais. São cinco músicos e um metido a músico, que sou eu.

No jazz cabem amadores?

É música que depende muito de improviso. Tem que ter certa habilidade pra improvisar e tal.

O tímido esconde-se por trás das palavras. E o músico do palco?

Eu estou ali brincando de músico. As pessoas entendem que não vão ouvir um virtuoso e que não tem pretensão de grande músico.

Seus textos são recheados de humor. Qual facilidade em chacotear da política ou da dureza do cotidiano?

É um estilo de escrever, com certeza leveza, informalidade. Mas a crônica permite tratar de qualquer assunto. É inconteste. Na crônica tudo é válido.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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