6 livros de autores potiguares para você ler

claudio galvão

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DE AUTORES E DE LIVROS, de Jaime Hipólito Dantas. Mossoró: Editora Queima Bucha, 1992.

Reunem-se neste livro diversos escritos do escritor e jornalista mossoroense sobre temas de interesse literário.

Dono de estilo aliciante, Jaime Hipólito exerce a crítica tendo em vista o grande público ledor de jornal. Simplicidade é sua marca registrada. Longe dele o formalismo da chamada crítica universitária, tão em moda.

Para expressar-se, Jaime Hipólito não precisa de nada além da linguagem corrente, coloquial, dispensa aquela terminologia intrincada, cabalística até, muito do agrado de alguns críticos e professores de literatura, hoje em dia.

Sem ostentar conhecimentos técnicos, ele vai fundo nos assuntos que escolhe criteriosamente. E diz tudo aquilo que um crítico ultra sofisticado poderia dizer, só que nunca se utiliza do indefectível jargão pseudocientífico.

Neste “De Autores e de Livros” vai, com a mesma segurança, de um estudo da poesia concreta aos discursos parlamentares de Carlos Lacerda; de André Gide a Mauro Mota; de Hemingway a Veríssimo de Melo, e muita coisa mais, inclusive notas quase didáticas sobre T.H. Lawrence, Ezra Pound, etc., e oportunas observações acerca dos nossos poetas e prosadores.

Vale ressaltar alguns trechos polêmicos, como, por exemplo, aquele sobre “Tocaia Grande”, de Jorge Amado, “um romance muito ruim”.

Jaime Hipólito expressa as suas opiniões com absoluta franqueza, sem temer desagradar a quem quer que seja.

Por tudo isto, e muito mais, que não cabe numa simples nota, este seu livro deve ser saudado com as melhores palavras. Pequenos deslizes existem nele, é verdade, todavia fáceis de sanar numa reedição.

Que venham outras coletâneas da vasta produção jornalística do autor, na mesma linha de revalorização da velha e boa crítica de rodapé.

O TEMPO PASSA E A MEMÓRIA VIVE, de Maria Emília Wanderley. Natal: 8 Editora, 2018.

Conhecendo, como conheço, há longos anos, Maria Emília Wanderley, nunca pensei que ela fosse capaz de escrever algo mais do que cartas e bilhetes. Claro que sempre soube dos seus dons de inteligência e sensibilidade, do seu amor pelos livros, mas, quanto aos seus escritos, ela guardava total discrição.

Eis que, agora, já na chamada terceira idade, embora plena de vitalidade, Maria Emília surge com esse livro de crônicas, minicontos, páginas de memórias e poemas em prosa. Gratíssima surpresa! Pois trata-se, na verdade, de uma obra com apreciáveis qualidades literárias, reveladora de uma escritora em potencial, que, esperamos, não fique só nessa pequena coletânea.

Dialogando com escritores e poetas famosos, num interessante exercício de intertextualidade, a autora relata momentos que marcaram sua vida – episódios inusitados, tipos humanos, sensações -, tudo expresso numa prosa repassada do mais puro lirismo. Uma ou outra falha da escrita, pequenos erros de pontuação, por exemplo, não chegam a ser comprometedores. Já a nota de abertura do livro, muito abreviada, deixa a desejar.

Imagino o que diria deste livro Berilo Wanderley se vivo fosse. Berilo, o grande amor da vida de Maria Emília, ficaria, com certeza, muito feliz.

AS MEMÓRIAS ALHEIAS, de Gustavo Sobral. Natal: 8 Editora, 2018.

Parece-me que o autor juntou, neste livro, fragmentos de um romance inédito, em tom memorial, e dessa maneira revela grande potencial como ficcionista. Mas, não descarto a hipótese de que o evidente caráter fragmentário tenha sido deliberado.

A linguagem, notadamente no que diz respeito à forma de disposição dos diálogos, conferida ao texto, afigura-se como um sopro de novidade, e instiga à leitura.

Da nova geração de escritores potiguares, é Gustavo Sobral um dos poucos que escreve moderno, ousado às vezes. E tem estilo.

Constato, no entanto, que embalado na prosa corrente, com notável poder inventivo, o autor, por vezes, não presta atenção a detalhes, pormenores da escrita. Ou seja, deixa de dar ao texto o acabamento devido. Alguns ciscos e restos do material de construção ficaram em meio à obra construída. Isto, porém, com certeza, será remediado na 2ª edição que há de vir.

VEREDAS DO MEU CAMINHO, de Dorian Jorge Freire. Mossoró: Fundação Guimarães Duque/Fundação Vignt- Un Rosado, 2001.

Dorian Jorge Freire escreve com objetividade e clareza. Escreve moderno. Frases curtas, incisivas. Períodos breves. Isto não é de surpreender: ele foi jornalista quase a vida toda. E dos bons.

Nestas memórias esparsas, compiladas pelo pesquisador Raimundo Soares de Brito, dá para perceber o excelente memorialista que Dorian Jorge Freire poderia ter sido. Até a página 90 – mais ou menos a metade do livro – há trechos antológicos. Daí em diante a narrativa torna-se, extremamente, lacônica e fragmentária. Por vezes semelha simples apontamentos.

Faz-se necessária uma nova edição expurgada dos numerosos erros de revisão.

MOLEQUE DO ACARI II, de Geraldo Batista. Natal: EDUFRN, 2018.

A vida de um menino pobre em Acari, pequena e bela cidade do Seridó potiguar, evocada com sensibilidade, numa prosa fluente e clara, que prende o leitor.

Descrições admiráveis de tipos humanos, usos, costumes, tradições, etc., valendo como documentário etnográfico e folclórico.

Esta segunda edição, com excelente apresentação gráfica, vem acrescida de muitas fotografias e novos textos que a enriquecem.

Na parte final, os capítulos “Três Crônicas” e “Meus Pensamentos” já não se situam na área da memorialística, poderiam compor publicação autônoma, enfeixando outros escritos do autor, inclusive da sua produção como colaborador de vários jornais natalenses.

O NOSSO MAESTRO, de Claudio Galvão. Natal: EDUFRN, 2015.

Biografia de Waldemar de Almeida (1904- 1975), pianista, compositor, educador musical, primeiro diretor do Instituto de Música do Rio Grande do Norte, fundado em 1933, entidade que marcou época, tendo contribuído pioneiramente para o estudo e a difusão da Grande Música em nosso Estado. Para se avaliar sua importância, basta dizer que, dentre os alunos do Instituto saíram dois artistas, que se projetaram além das fronteiras do país: Aldo Parisot, violoncelista, e Oriano de Almeida, pianista.

Além de dirigir, durante cerca de vinte anos, o Instituto de Música, Waldemar de Almeida foi também diretor da Escola de Música da UFRN, instalada em 1962, e participou ativamente de várias outras instituições em prol da Música. Fundou e manteve, em Natal, o “Curso Waldemar de Almeida”, de piano. Sem dúvidas, um benemérito.

Vale ressaltar que o autor de “O Nosso Maestro”, biógrafo consagrado, juntou ao seu trabalho as memórias inéditas de Waldemar de Almeida, que conseguiu resgatar do manuscrito original, engavetado há décadas. Essas reminiscências – cento e vinte seis páginas -, embora fragmentárias e inacabadas, constituem momento alto da memorialística potiguar.

Leitura absorvente, transporta-nos à cidade do Natal das primeira décadas do século vinte, onde viveu o menino Waldermar – seus tipos inesquecíveis, sua geografia lírica e docemente provinciana, seus acontecimentos marcantes. Imperdível. De lamentar, apenas, alguns erros de revisão.

Acompanha o livro um cd com diversas composições de Waldemar de Almeida interpretadas pelos pianistas Oriano de Almeida, Marluze Romano, Elyanna Caldas Silveira e Nara de Oliveira.


FOTO de Cláudio Galvão: Sergio Vilar
Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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