5 poemas de Leonam Cunha (parte 2)

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Para Carina Cruz

Vela

Fico perfeitamente
queimando.
A chama aparece na cabeça.
É a razão que assola tudo.
Pacientemente
me abraso.

 

Dançarino

Me disseram pra lembrar da estética.
É que a beleza faz afugentar a dor
– na China até pouco tempo
calçavam as filhas fêmeas
com sapatos excessivamente apertados
porque bonito era ter pés diminutos.
Não falo de suportar essa dor,
menos ainda se a dor for distribuída
desigualmente entre os gêneros.
O que eu ensaio é ficar segurando
meu pé direito, em ritmo e equilíbrio,
para que alguém me fotografe pois eu
quero estar assim: sumamente belo.

 

Corvo

Eu sei que posso comigo.
O problema é que o peso a ser
tolerado é massa, inventos,
crises, desvarios e sonhos.
Vocês pensavam que era só massa.
Estas duas mãos que pretendem
cingir o mundo
deveriam ser suficientes.
Vou com fé porque se a respiração
for lenta, o pulso for
manso, o desejo for
perene, é possível revirar tudo
do avesso.

 

Gato

Retornando ao que fomos, de quatro.
– Eu sou um gato maldito rosnando
do fundo profundo do inferno.
A cada inspiração,
cabeça e pelve empinadas
e você tem que repetir:
– Vou te arranhar, vou te morder.
A cada expiração,
cabeça e pelve retraídas
e você tem que repetir:
– Pode me arranhar, pode me morder.

 

Torção

Acho que já fui uma toalha molhada
trançada enrolada espiralada
porque sinto que podem passar os anos
as tempestades as crises
e se meu centro estiver intacto
vou permanecer torcido
trançado enrolado espiralado
pra passar feito rocha antiga pelos anos
as tempestades e as crises.

 

Veja também: 5 poemas de Leonam Cunha


IMAGEM: The third eye, de Rafael Labro

Redação

Redação

Obrigado pela visita!

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana