Rita Lee e seu festival de pataquadas

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Rita Lee foi a artista brasileira que enfrentou a nossa execrável polícia com a coragem de quem tem aquilo roxo durante a ditadura e mais recentemente por ocasião de sua prisão em Aracaju, Sergipe.

Coragem foi também o que não lhe faltou quando decidiu publicar uma autobiografia. Porém, seu livro desafina escoltado por um batalhão de bobagens.

Quando a autora conta casos até que corre tudo bem. (O rapto das cobras de Alice Cooper é hilariante). Mas o problema é quando o livro pensa. Aí, meus caros amigos, ele é um desastre, justamente porque não pensa.

“Rita Lee, uma autobiografia” desanda quando a autora quer justificar seu credo. Francamente ela deveria ter contratado alguém que lhe dissesse que não se entende um país fazendo o mapa astral de seus governantes.

Alguém que lhe explicasse o significado da fundamentação de uma obra. Alguém que lhe recomendasse a leitura de nossos intérpretes mais importantes: Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Luis da Câmara Cascudo, Antonio Candido, Milton Santos, Paulo Freire, Raimundo Faoro, só para citar alguns.

Alguém que lhe soprasse que levantar a bandeira do “odeio o rodeio” ou de “ame os bichinhos” faz mais sentido na sala de recepção de uma Pet Shop do que em uma obra que trata de arte e que por consequência refletirá sobre os grandes desafios da humanidade.

O problema não é a ingenuidade ou a idade da cantora, hoje com 71 anos de vida. (Elza Soares é 10 anos mais velha do que RL e tem uma visão absolutamente lúcida da realidade brasileira). Em bom português, o problema se chama analfabetismo político e precária formação cultural.

Escrever é bem diferente do que fazer um show. No palco da canção, digamos assim, a ex-mutante desenvolveu uma técnica que lhe permite manter o público sob controle. Já no palco da palavra escrita, foi traída por sua falta de experiência e nos deixou um relato que é um senhor festival de pataquadas.

Marcius Cortez

Marcius Cortez

Cinco livros publicados e o jogo ainda não acabou. Escrever é um embate que resulta em vitórias, derrotas e empates. O primeiro livro de Borges vendeu apenas 37 exemplares. O gol é quando encontramos um significado que melhore a realidade.

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