Weizenbier: a porta de entrada para as cervejas artesanais

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Saudações, cervejeiros!

A cultura cervejeira, por mais que o termo possa parecer simplório, à primeira vista, é um amplo conjunto de estilos, aromas e sabores a ser desbravado. Principalmente por aqueles com o espírito preparado para tal aventura!

Contudo, sou bastante sensato em constatar que não se trata de uma tarefa francamente convidativa, ao menos ao olhar mais desavisado sobre o tema. Não é incomum que “a cerveja artesanal” (e seu vasto mundo de aromas e sabores) seja rejeitada, de pronto, pelos bebedores de cervejas de massa mais convictos, ainda que sem muita experimentação ou argumentos sólidos.

Inobstante, se há um “estilo” de cerveja, bastante acessível, não tão caro, e, em termos sensoriais, de fácil assimilação, tal estilo é o da cerveja Weiss/Weizen. Usualmente também conhecida como Weissbier (na tradução direta do alemão: cerveja branca) ou Weizenbier (traduzido como cerveja de trigo; acredito que essa seja a nomenclatura mais adequada).

Então, é sobre esse “estilo” legitimamente alemão que falaremos hoje. Ainda mais, explicaremos como e o porquê de ele servir de porta de entrada para o universo das cervejas artesanais.

Pois, pegue sua taça e brindemos!

Ein Prosit!

Agradando o grande público!

As Weizenbier são cervejas que possuem um ingrediente peculiar, que as diferencia das demais cervejas de massa (geralmente, as Standard American Lager ou Premium American Lager): o trigo. Ele é o elemento responsável por trazer mais aromas e sabores que as demais cervejas comuns de supermercado e dá todo o tempero ao “estilo”.

Temos que ter cuidado ao falar de Weizenbier como um “estilo”, quando, na verdade, ela deveria ser considerada como um gênero, do qual alguns estilos mais específicos derivam. Bem porque existem, nesse grupo maior de cervejas de trigo, alguns estilo mais específicos, como, por exemplo: Hefe-Weizen, Dunkelweizen, Weizenbock e Kristalweizen.

Talvez seja um pouco desnecessário abordar e pormenorizar cada um deles, quando, o foco de hoje, é o que se costuma ser chamado no universo da cerveja artesanal como Hefe-Weizen.

Ele é o estilo mais popular, mais fácil de ser encontrado nos supermercados ou nas casas especializadas em cervejas artesanais, e é aquele que, de fato, serve como porta de entrada para o mundo das cervejas tidas como “especiais”.

Por conseguir agradar o grande público, ele é capaz de, além de trazer uma nova experiência em termos de degustação, deixar a curiosidade do apreciador em aberto. Também não se trata de um estilo derradeiro, a ponto de a pessoa que o provar se contentar apenas com ele, apesar de já ser agradável o suficiente para trazer uma “boa aventura cervejeira”, a quem se dispuser a apreciá-lo.

Aromas e sabores convidativos em uma Weizenbier

Um importante ponto para entender o sucesso que a Weizenbier tem entre os neófitos no mundo da cerveja artesanal é que ela não é agressiva em sua abordagem sensorial.

Diferentemente de uma IPA, com seu alto amargor, ou de uma Stout com sua torra bem presente, ou até mesmo da Sour, que costuma agradar os iniciantes com seu perfil altamente frutado, mas que pode afugentar alguns pela acidez, a Weizenbier é bastante parcimoniosa em sua abordagem. Ela não agride quem está começando. E ainda é refrescante!

De maneira um tanto quanto paradoxal, por mais que não seja agressiva, a Weiss possui aromas e sabores bem marcantes, que beiram um perfil singular por assim dizer. Nenhum outro estilo, e portanto, nenhuma outra cerveja que o iniciante já tenha provado os apresentará tão claramente.

Uma cerveja com perfil sensorial de banana e cravo

Os aromas e sabores outrora recebidos são o perfil esterificado, capaz de aportar notas de banana ao conjunto, e a expressão fenólica da fermentação, que confere notas de especiarias, mais notadamente cravo (embora canela também possa ser uma indicação de aroma ou sabor advinda do caráter fenólico).

Assim, banana e cravo acabam sendo dois atributos sensoriais muito fáceis de serem identificados por quem degusta uma Weizenbier pela primeira vez.

Essa fácil identificação e assimilação de aromas e sabores, demarcados por dois perfis distintos, um frutado e outro de especiaria, formam um contexto sensorial dominante, ainda que suave o suficiente para conquistar a cada gole. Por mais que se trate de aromas e sabores bem singulares, eles não são, prioritariamente, excludentes.

Dito de outra forma, é bastante improvável que quem as degusta pela primeira vez se sinta repelido a finalizar a garrafa. Ou que ache os sabores e aromas muito fortes ou pouco convidativos. Isto porque, apesar de ser turva e ter um corpo mais alto (justamente pelo trigo), ela consegue ser refrescante sem ser muito forte.

De modo diametralmente oposto, é até possível que a pessoa não seja grande fã de banana ou de alimentos ou bebidas com gosto de canela (eu particularmente não sou fã de nenhum dos dois), porém, é improvável que a falta da predileção por esses dois aromas ou sabores impeça que a cerveja seja sequer provada. E é justamente com a primeira prova gustativa que a paixão pelas cervejas artesanais ganha a chance de nascer e se perpetuar (em um momento futuro eu diria).

Decerto, quebrada a primeira barreira de apreciação de uma cerveja artesanal, por meio de uma Weizenbier, a partir daí, não haverá mais limites de degustações ou estilos.

Abrindo portas e conquistando apreciadores

Como dito anteriormente, os aromas e sabores encontrados em uma Weizenbier não são o ápice “da cadeia alimentar”, dentro do mundo das cervejas artesanais. Indubitavelmente, há muitos outros aromas e sabores a serem desbravados, para além da banana e do cravo. Além disso, seu aspecto turvo e seu corpo alto (preenchimento) são outros dois elementos de fácil identificação por quem as degusta.

Isso faz ressaltar outra característica da Weizenbier, por mais que ela seja bem demarcada no perfil sensorial descrito, não há muita variedade de um exemplar (alemão) para o outro. Aliás, essa é outra curiosidade, por mais que existam cervejas desse estilo fabricadas em outros locais do mundo, inclusive no Brasil, é muito difícil competir com os alemães.

Simplesmente porque sua tradição e sua eficiência são quase que insuperáveis. Produzindo o estilo há mais de 500, com uma repetição e uma acuracidade ímpar, é pouquíssimo provável que algum dia eles encontrem alguma competição nessa seara.

Para além da pouca variação, a Weizenbier é capaz de abrir, minimamente que seja, a curiosidade de degustação daqueles que a provam pela primeira vez. Com outros estilos, novos horizontes de aromas e sabores vão sendo descobertos. Mas, o importante, é notar que as portas costumam ser abertas pelas cervejas de trigo alemãs.

Eu fui um dos que assim começaram no mundo das cervejas artesanais, e você?

Saideira

Assim como todas as etapas da vida, temos ritos de passagem. Alguns mais solenes e outros menos. Eles servem para anunciar o início (ou fim) de uma fase.

Quando se fala na imersão no mundo das cervejas artesanais, que geralmente são uma transição das cervejas de massa para esse novo patamar cervejeiro, também há ritos de passagens, ainda que silenciosos ou pouco alardeados.

Ao fazer menção às Weizenbier como a porta de entrada para a cultura cervejeira, está se dizendo, apenas, que a iniciação nesse novo estilo (diverso das “Pilsen” de mercado) é uma passagem adquirida para novos aromas e sabores.

Portanto, o estilo em apreço, formado por cervejas de trigo, de fácil acesso e ampla aceitação, cumpre muito bem a tarefa de fazer a transição entre “um mundo e outro”. Serve como primeiro contato, primeira impressão e primeira diferenciação daquilo que costumamos conhecer como sendo uma “cerveja”.

Outrossim, a Weizenbier acaba funcionando como um fio condutor de novas experiências em relação à cerveja. Ela é capaz de acender a centelha da paixão pela cerveja artesanal por quem a tem a oportunidade de provar.

Recomendação Musical

Assim como a Weizenbier é a cerveja que serve de porta de entrada para outras cervejas mais pesadas, por assim dizer, em termos de variabilidade de sabores e aromas, vou trazer uma banda que na maioria das vezes também serviu como porta de entrada para sons mais pesados!

Acredito que a maioria das pessoas que hoje em dia gosta de algo mais pesado em termos musicais um dia começou ouvindo alguns clássicos, ou aquilo que se convencionou chamar de NWOBHM (ou, a nova onda do heavy metal britânico), bandas icônicas como Judas Priest e Iron Maiden integram seu hall da fama.

Como já houve anteriormente uma recomendação musical do Judas Priest, hoje vou recomendar a banda que a maioria das pessoas já ouviu (e, provavelmente, já gostou) em algum momento da vida. Trata-se do Iron Maiden.

Derradeiramente, eles hoje já são vovôs e não estão mais no auge, apesar de ainda lançarem novos materiais com relativa regularidade.

Então, fica a indicação de um clássico muito reverenciado da banda, que serviu, para mim, há mais de 20 anos atrás, de entrada para o mundo da música pesada ouvindo a rádio V-Rock no jogo GTA Vice City: Two Minutes do Midnight!

Saúde!

 

 

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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