O maniqueísmo político tem matado o jornalismo no RN. Isso é fato inquestionável. Acrescentaria ainda o fim do jornal impresso como reforço nesta assertiva – claro há alguns insistentes circulando como zumbis em bancas de revista. Hoje, infelizmente, só se vê “jornalismo” e jornalistas de esquerda e de direita.
Na última terça (27) o tema da liberdade de imprensa foi discutido em audiência pública na Assembleia Legislativa, propositura da deputada Isolda Dantas, do PT. Nas fotos, alguns poucos profissionais, facilmente identificados como jornalistas de esquerda ou entidades idem.
Discussão necessária, sim, sempre! Parabéns, deputada. Mas lá estavam esquerdistas em debate com esquerdistas. Uma bolha escancarada. Ou algum inocente acredita surtir eco junto à mídia conservadora? E por que não foram convidados para explicar algumas demissões polêmicas nos últimos meses?
A essência do jornalismo é ou não ouvir os dois ou mais lados? A audiência na Assembleia foi o retrato cru desse maniqueísmo torpe praticado no jornalismo potiguar (me detenho ao meu ninho). Gente boa, gente amiga, gente nova e gente antiga presentes. Mas de um nicho partidário.
Outro dia meu amigo Tácito Costa citou o surgimento de um blogueiro de esquerda como necessário à mídia combatente contra o domínio crescente da direita nos meios massivos de comunicação. Isso é verdade e isso é triste. O jornalismo virou guerra. Comentei dessa infeliz necessidade em equalizar as narrativas, porque o ideal mesmo é a busca isenta dos fatos, como manda o figurino.
Trabalhei nove anos no Diário de Natal. E nunca sofri qualquer represália ou pedido de viés tendencioso no que escrevia. Tínhamos jornalismo de apuração e não de opinião. Mesmo na Tribuna do Norte, comandado pelos Alves, havia muito mais isenção do que hoje em dia. Até costumávamos chamar nossos colegas de lá de jornalistas melancia: verdes por fora, mas vermelhos por dentro (rs).
Então ratifico: é triste produzir material para o mesmo nicho ler ou ouvir. Ou leitores de direita acessam o blog do Bruno Barreto? Ou a galera progressista consome as blasfêmias de Gustavo Negreiros? Não. E assim escrevem para os colegas, num exercício de alienação que parece sem fim.
Muitos, inclusive, se acham independentes, mesmo com verbas declaradas de mandatos políticos para viabilizar a estrutura, as opiniões, o conceito do portal, do blog… “Mas, ora, mesmo os jornalões recebiam verba publicitária institucional”, mas recebiam de todos os governos, independentemente de partidos. Era a tal verba obrigatória – sempre uma questão complexa de regulação ante a necessidade de garantir a transparência e a informação da gestão pública à sociedade.
E justo por algumas mídias serem concessões públicas, como rádios e TVs, notoriamente conservadoras no RN, essa verba publicitária se torna ainda mais polêmica. E daí a oportuna audiência pública, mesmo de esquerdas para esquerdas. Se algum dos encaminhamos se tornarem reais, já serviu. A criação do Observatório de Imprensa em parceria com a OAB-RN e o TJ-RN seria muito útil.
Imprensa partidária sempre existiu, mas nunca nessa proporção. Nunca um “jornalismo chacal” como se vê hoje. Nunca tanta fake news. Nunca tanta guerra entre dois lados quando, no jornalismo, só existe existe um único viés. Então, por uma imprensa realmente livre. Livre de partidarismos, da real e infeliz necessidade da “resistência” e sempre combativa em favor da verdade.
Crédito da foto: Eduardo Maia
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[…] Li um texto do Blog Papo Cultura assinado pelo jornalista Sérgio Vilar que analisa a audiência pública sobre a crise no jornalismo potiguar realizada na Assembleia Legislativa como um evento de bolha (leia AQUI). […]