Sempre defendi a identidade musical potiguar oriunda da herança instrumental, seja da bandas seculares de música ou, mais especificamente, do violoncelo, mantida hoje, após tantas gerações, pela figura do professor Fábio Presgrave, entre outros. Eis que foi lançado recentemente o livro ‘Violoncelo: um compêndio brasileiro’. Nele, a referência a Tomaz Babini e ao próprio Presgrave. Abaixo posto o texto de apresentação do livro e, ao fim, o link para acesso gratuito à obra.
Por Cristian Brandão e Kalyne Valente
Quando nos foi conferida a honra de realizar a apresentação desta obra pelo ilustre amigo William Teixeira, primeiramente nos arrebatou a alegria em saber que a pesquisa em música com fundamentação histórica, mais precisamente voltada aos violoncelistas (porém, de forma alguma, não exclusivamente), ganharia mais uma rica fonte de estudo, investigação, sabedoria e, sobretudo, inspiração.
O livro ‘Violoncelo, um compêndio brasileiro’ compreende uma condensação de riqueza histórica e musical inestimável através de artigos e entrevistas realizados por alguns dos maiores nomes do violoncelo do Brasil e do exterior, em diferentes épocas e em diferentes contextos.
Nos faz refletir substancialmente sobre a história do violoncelo, a técnica, o fazer musical, a importância da organização e a construção da pesquisa em música com a valorização dos grandes mestres deste instrumento que são algumas de nossas maiores referências.
Discorrido por Marc Vanscheeuwijck, o ponto de partida desta profícua reunião de escritos acerca do violoncelo é justamente sua origem, desenvolvimento e transformações estruturais que, ao longo da história, foram determinantes para o surgimento de uma gama de possibilidades técnicas que inspiraram diversos compositores a colocarem o violoncelo em posições de destaque em suas obras, seja como solista, camerista ou como um instrumento orquestral.
Com o surgimento de importantes intérpretes, compositores e virtuoses, especialmente na Itália, Alemanha e França, a pedagogia do violoncelo também ganhou enorme contribuição com grandes mestres, tratados, estudos técnicos e vasto repertório, como descreve André Micheletti em O sistema de claves de Luigi Boccherini.
No Brasil, o inicio do século XX foi sem dúvida o momento mais importante para a difusão do violoncelo com a vinda de muitos músicos e artistas europeus que fugiam das guerras e situações economicamente difíceis em seus países.
Fábio Presgrave e Hugo Pilger discorrem sobre a chegada desses extraordinários artistas que marcaram definitivamente a escola do violoncelo no Brasil e do mundo, como a chegada de Tomaz Babini (1885-1949) em Natal-RN, dos portugueses Frederico Nascimento (1852-1924) e José Guerra Vicente (1907-1976) ambos no Rio de Janeiro-RJ, do descendente de italianos Calixto Corazza (1907-1987) em São Paulo e de Jean Jacques Pagnot (1922-2003) em Porto Alegre-RS.
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Os frutos dessa “ancestralidade” são primorosamente relatados nestes dois artigos e seguem enriquecendo o cenário musical por várias gerações. Amplamente explorado por diversos compositores dos séculos XX e XXI em virtude de suas multifaces e sua alta versatilidade sonora e timbrística, o violoncelo ganha uma abordagem enriquecedora no artigo de B. A. Zimmermann. O mesmo tem como objetos principais duas de suas obras para violoncelo e orquestra, o Canto di speranza e o Concerto em forma de ‘pas de trois’, mas também soma a este compêndio sua visão enquanto compositor sobre o papel do violoncelo na música contemporânea, suas dificuldades e possibilidades técnicas, a relação entre compositor e intérprete e a abertura que o intérprete destina à ideia musical do compositor para a superação dos desafios técnicos inerentes a linguagem expandida desta música.
Como o último dos artigos, William Teixeira oferece uma leitura muito elucidativa e obrigatória àqueles que buscam e seguem o caminho da pesquisa em música, particularmente, na área da performance musical. De forma muito esclarecedora, sugere o desenvolvimento de uma metodologia organizada de maneira apropriada a este tipo de pesquisa, ponderando as propostas e aplicabilidades para uma proposição final sistemática, assim como também caminhos para tornar essa metodologia uma importante ferramenta na prática do violoncelo, expandindo novas possibilidades de investigação e estudo.
A segunda parte desta obra, Mãos e Vozes do Violoncelo, compreende seis entrevistas realizadas por Bruce Duffie, Tim Janof e William Teixeira com grandes expoentes e renomados nomes do violoncelo no Brasil e no mundo, responsáveis por todo um legado de respeitados solistas, professores, vencedores de concursos e músicos de orquestras em importantes instituições de referência espalhadas pelo mundo.
A cada entrevista o leitor perspicaz adentra uma verdadeira aula de violoncelo e observa por diferentes prismas a filosofia pedagógica e a compreensão do fazer musical de cada um, que, embora distintos, convergem para os mesmos memoráveis princípios.
Em suma, Violoncelo, um compêndio brasileiro constitui-se como um material de conteúdo e valor imensuráveis a todos violoncelistas e pesquisadores que buscam um conhecimento mais amplo e aprofundado do próprio instrumento, de sua história, possibilidades técnicas e dos grandes nomes de violoncelistas que devem ser preservados, pesquisados, compreendidos, apreciados e referenciados na História da Música.
Que seja uma fonte enriquecedora e inspiradora para futuras pesquisas na área da performance musical.