Um potiguar na história do forró

jackson do pandeiro e elino julião

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Quando ele surgiu imponente e paramentado na sacada do auditório da rádio Borborema de Campina Grande, em meados dos anos cinquenta, os meninos que passavam pelo calçadão da rua Cardoso Vieira, no centro da cidade, gritaram:

– Olha um cangaceiro!

Ao ver a figura imponente daquele homem, couro da cabeça aos pés, acharam que aquela figura era um dos homens que faziam parte do bando de Lampião. A garotada campinense o ouvia pelo rádio, mas a grande maioria não o conhecia pessoalmente. Seu nome: Luiz Gonzaga.

A narrativa está no livro O Fole Roncou! Uma História do Forró, de Carlos Marcelo e Rosvaldo Rodrigues.

Tendo começado profissionalmente em 1939, o sanfoneiro nascido em Exu havia conquistado o Brasil e se tornado pioneiro na expansão e na divulgação do Forró. Quando “seu Lua” apareceu na sacada da rádio Borborema, estava contribuindo para transformar Campina Grande na “capital do Forró” e num verdadeiro celeiro de cantadores, violeiros e emboladores de coco. Na época, Asa Branca, de sua autoria em parceria com Humberto Teixeira, gravada em 1937 por “Gonzagão” (cuja letra remete à memória dos nordestinos distantes da sua terra natal e virou um clássico da nossa música) tinha se tornado um clássico. A canção que descreve o problema da seca no Nordeste e as imagens da região, deu a Luiz Gonzaga o título póstumo de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco em 2012.

Pelo auditório da “Rainha da Borborema”, além de Gonzagão, passaram outros grandes nomes do Forró, como Jackson do Pandeiro (considerado “O Rei do Ritmo”), Genival Lacerda (que, como Jackson do Pandeiro também cantava sincopado e brincava com o ritmo), Marinês, seu marido Abdias, Zé do Norte, Sivuca, Zito Borborema e Zé Calixto, entre outros.

Segundo o pesquisador pernambucano José Teles, os primeiros passos para a consolidação do Forró têm origem no século dezenove, com o surgimento do baião como estilo e dança. Ao longo dos anos o estilo foi se desenvolvendo e em meados do século vinte já estava consolidado, compreendendo três vertentes: xote, xaxado e baião.

Existem várias versões sobre o surgimento do termo Forró: há quem diga que a palavra foi criada por ocasião da construção da ferrovia Great Western em Pernambuco; também existe quem acredite que no século dezenove as festas muitas vezes eram abertas ao público e que os convidados levavam em seus convites a expressão for all (para todos). Todavia, estas versões não possuem nenhuma comprovação histórica.

O nosso querido Rio Grande do Norte também deu sua contribuição ao Forró.

Elino Julião, de Timbaúba dos Batistas, apesar de uma incursão pelo Brega com a conhecidíssima Cofrinho de Amor, foi um dos cantores que se destacou no cenário da música como compositor e intérprete de Forró. Depois de servir o Exército, conheceu Jackson do Pandeiro na rádio Poti de Natal; ao perceber seu talento, este o convidou para morar no Rio de Janeiro. O seridoense aceitou o convite e se mudou para a então capital federal, onde passou a morar e trabalhar com o forrozeiro de Alagoa Grande por vários anos, quando teve a oportunidade de se apresentar em programas de rádio e TV e de viajar pelo Brasil.

Gravou seu primeiro disco em 1961, pela gravadora Chantecler, mas só conheceria o sucesso quando, alguns anos depois, foi contratado pela Polygram e gravou Puxando Fogo e Forró do Motorista. Durante alguns anos fez parte da coletânea “Pau de Sebo” que a CBS lançava anualmente nos meses que antecediam o período junino, reunindo, além de Elino, artistas como “Marinês e Sua Gente” Abdias, Jacinto Silva, Coroné Ludugero, Jacinto Limeira, Edson Duarte, Messias Holanda, Os 3 do Nordeste e Marlene Vidal.

Nos anos setenta lançou vários discos e fez inúmeros sucessos como Na Sombra  do Juazeiro, O Forró da Coreia  e o maior de todos eles: O Rabo do Jumento.

O inesquecível Elino representou nosso querido Rio Grande do Norte no cenário do Forró brasileiro.

Fernando Luiz

Fernando Luiz

Cantor, compositor, produtor cultural e apresentador do programa Talento Potiguar, que é exibido aos sábados, às 8 horas pela TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.

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